Cotrim Figueiredo: "Estou a ponderar candidatura a Belém"

Não vai abdicar do cargo de eurodeputado? Não vou abdicar do cargo de eurodeputado, farei a campanha enquanto desempenho as funções de eurodeputado. Será mais difícil para a gestão da agenda, mais difícil para a minha resistência, mas acho que já fiz coisas piores.
No discurso da Convenção falou numa “encruzilhada” em que a IL deve escolher entre ser um “partido de nicho” ou um partido “muito mais abrangente”. Disse que preferia a “segunda via”. Passados quase 3 anos da sua saída do partido, a tal vertente popular que dizia que precisava de ser conquistada, ainda não chegou? Os números estão lá para dizer que não, não chegou. E agora perguntam porquê, sendo que eu achava que eu próprio era um problema para essa abrangência, pois isso exigiria da minha parte uma capacidade de análise politológica que talvez não tenha.
Concluiu que estava errado, não era o problema? Sim. Uma das coisas que aprendi nestes breves seis anos em que estou político, é que de facto os mensageiros contam muitas vezes tanto quanto as mensagens e às vezes mais, e que a capacidade de fazer chegar a mensagem a mais pessoas é dependente do mensageiro, independentemente das suas características mais visíveis. Há outras coisas de empatia menos evidente, de comportamento, de genuinidade menos evidente, que talvez vão mais longe. Portanto sim, acho que estava errado nesse sentido, e acho que aprendi nesse sentido também.
E já que não vai voltar a ser presidente, como disse há pouco, consegue ver que este radicalismo, anunciado por Mariana Leitão, pode permitir chegar a esse lado mais popular, ou deixar de ser esse partido nicho é difícil quando se quer ser tão radical? Primeiro, eu fiz essa menção de que temos que fazer essa decisão, porque continua a haver esse debate frequentemente, e eu acho que é um debate que, já que estou a falar de decisões a vários níveis, a nível do partido, nós também temos de decidir isso de uma vez por todas. Não é que as pessoas que defendam o contrário tenham de se calar, mas que aceitem que há uma maioria do partido, que me pareceu ser óbvio, pelo menos aqui na convenção, que pretende seguir a via da maior abrangência. E da mesma maneira que fiz análise da minha decisão de 22, faço a análise daquilo que poderá ser o mandato de Mariana Leitão a quem reconheço qualidades, não só intelectuais, mas de empatia, que eu acho que são adequadas, suficientes, apropriadas para fazer esse trabalho da abrangência.
Que podem funcionar melhor do que as do Rui Rocha, neste plano específico? Sim. O Rui, por acaso, teve uma formulação feliz, aqui parece que batemos num teto, vamos ver se o problema é do partido ou do presidente.
Já são dois presidentes a saírem mais ou menos com essa ideia de que tinham atingido um teto. Sim, no meu caso mais nocional, no caso do Rui mais aritmético, mas sim.
Na última convenção, em Loures, há cinco meses admitiu uma coligação com o Carlos Moedas em Lisboa para responder a uma frente-esquerda. A coligação acabou por confirmar-se, a frente de esquerda também. A IL deve permitir que o CDS fique à frente em termos de lugares elegíveis em Lisboa nestas eleições? A minha resposta curta seria não. A minha resposta mais ponderada é que, de facto, aquilo que nós chamamos de autonomia dos núcleos deve dar-lhes autonomia também para decidir que tipo de compromissos ou cedências podem, em cada caso, ser feitos. E no caso de Lisboa, posso dizer que não adoro a proporção de forças que acabou por ser acordada, mas se isso foi feito — e não sei os detalhes — a troco de maior envolvimento em determinadas áreas da governação da cidade, pode ter sido um excelente acordo.
O CDS poderia ficar à frente da IL, na sua visão, caso o acordo… À frente, acho difícil, mas em paridade sim.
Com o mesmo número de vereadores? Sim.
Mas à frente, quando digo num número superior na lista? Não, isso penso que não é razoável.
Acredita que a IL tem de estar à frente do CDS na lista, é isso? Pelo menos paritariamente, sim.
Com base nos resultados nas últimas legislativas, por exemplo? A verdade é que o CDS não vai a eleições em Lisboa, já não lembro da data, mas há mais de 15 anos [não vai desde 2017, há 8 anos].
Além de Lisboa, há coligações dos liberais e da AD no Porto, em Coimbra, em Sintra. A IL entrou em demasiadas coligações autárquicas com o PSD e com o CDS? Entrou nas coligações que os núcleos dentro da sua autonomia decidiram entrar. Foram definidos alguns critérios para que essas coligações não fossem meras conveniências, nomeadamente a possibilidade de ganhar, que essa vitória correspondesse a retirar do poder forças políticas que no nosso entender tivessem muito pouco a ver com o Portugal mais liberal e que tivessem suficientes ganhos programáticos no programa conjunto. Mas teria feito todas se fosse desses núcleos e tivesse essa autonomia? Não, não teria feito todas.
Quais é que não teria feito? Gaia.
Porque acha que a IL não negociou à altura ou o candidato da coligação… O candidato para mim seria problemático.
Quer explicar porquê? Pelo passado que Luís Filipe Menezes tem? Acho que é um candidato arriscado para nós darmos as mãos em Gaia. Mas também devo confessar que o núcleo de Gaia fez um trabalho bastante profundo de preparação dessa coligação e no Conselho Nacional nisso foi discutido. Procedeu a uma defesa bastante convincente da sua decisão. Mesmo assim eu teria dificuldade.
Mariana Leitão disse no discurso que a IL deve ser uma alternativa à” direita do caos” e admitiu que os liberais não estão em condições de influenciar a governação, pelo menos como queriam. A IL deve apostar em demarcar-se de vez da AD e não fazer a colagem que fez durante a campanha eleitoral? Quando disse que advogava que o partido tivesse mais abrangência para poder ser mais influente, estava obviamente a pensar em ser influente em órgãos de governo. Há bocado falámos dos locais, mas podemos falar dos nacionais. E portanto, se é assim, eu admito coligações nacionais. O que sempre achei, desde que tomei posse como presidente, era que há uma fasquia até à qual é difícil os partidos mais pequenos das coligações sobreviverem sem serem submergidos. E essa fasquia para mim era 12%. Não pergunto como é que lá cheguei na altura, o número não é exatamente cabalístico, mas tem o seu quê de sensibilidade. Com menos de 12% acho difícil, é demasiado mais pequeno do que o outro partido para não ser submergido e para as suas ideias não serem sistematicamente derrotadas. E não há exemplos na história política europeia — e eu já investiguei muito — de partidos com esse tipo de ambição, que não se tenham dado mal com coligações. Portanto, até do ponto de vista estratégico de longo prazo, era errado. A estratégia sempre foi, vamos fazer crescer a IL, para ter força suficiente para fazer estar nesse tipo de coligações. E exercer poder. É fundamental que as pessoas que dão a cara para o partido se preparem para exercer o poder, para a dificuldade de exercer o poder, de como agradar a este, não agradar àquele, ter de tomar decisões difíceis. E este partido tem uma proporção enorme de quadros que nunca teve esse tipo de responsabilidade. Portanto, temos de começar a tê-los, e estas autárquicas serão uma belíssima ocasião para isso começar a acontecer. No nível nacional é perfeitamente possível nós imaginarmos haver uma coligação com o PSD, mas não pode ser numa posição de 5%.
observador