23 coisas que mudaram em 23 anos de casamento
Pastor Baptista, colunista do Observador
Celebro tudo. A Rute é a pessoa perfeita para o que muda e o que se mantém.
- Mudei eu, claro.
- Mudou a minha mulher, a Rute.
- Mudou a família que de dois passou a seis, com os nossos 4 filhos.
- Mudaram as nossas famílias de origem que viram o número de genros, noras e netos crescer, e perder avós e tios.
- Mudou Portugal, que às vezes parece outro país e, noutras ocasiões, está igualzinho ao que era.
- Mudou o modo como prestamos atenção, agora maioritariamente cativo do cordão umbilical digital.
- Mudou a juventude, que não sabe falar com adultos e, ao mesmo tempo, fala frases inteiras em inglês e pensa ideias inteiras em inglês.
- Mudaram as nossas cidades, que parecem versões do Parque Mayer de si mesmas.
- Mudou o estrangeiro, que também está mais igual às nossas cidades porque o mundo inteiro opta por versões supostamente típicas de si mesmo.
- Mudaram as expectativas das pessoas, que agora em maior número se consideram destinadas a viajar para lugares mais diferentes onde tudo está sempre mais igual.
- Mudou o cristianismo que tem menos vergonha de ser antigo e tem menos vergonha de ser moderno.
- Mudou a moda de internet que então estava nos blogues e que anos mais tarde foi arrasada pelas redes sociais.
- Mudou a política que se deslocou drasticamente para a direita depois da esquerda ter esquecido o povo.
- Mudou a minha profissão, que na altura andava pela televisão e hoje é a igreja.
- Mudou o resto da minha adolescência musical que passou da jovem editora anónima FlorCaveira para participante da renovação da música popular portuguesa.
- Mudaram os evangélicos portugueses que, continuando tímidos, crescem com a diversificação cultural do país.
- Mudou o país que hoje é mais estrangeiro.
- Mudou a nossa ignorância, que aumentou sob a ilusão de a informação nos tornar mais inteligentes.
- Mudou a nossa inteligência, que eventualmente também terá crescido mais com acesso a leituras mais diversas potenciadas pela internet.
- Mudou como vemos filmes e TV e como ouvimos música, com tanta escolha que já não decidimos nada mas somos pasto de algoritmos.
- Mudou a nossa memória, com um excesso tal de fotografias que só aconteceu se houver um ficheiro que prove.
- Mudou a comunicação social, obrigada a singrar na arte do clickbait.
- Mudou tudo para que tudo fique na mesma.
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