A fortaleza nuclear do Irão sob a montanha Kolang Gaz La

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O impacto da guerra dos 12 dias, entre Telavive e Teerão, nas instalações nucleares iranianas está longe de ser claro, entre as certezas da administração norte-americana de que “tudo foi destruído” e as notícias que dão conta que os ataques só atrasaram o Irão em alguns meses. Certo é que um complexo, escondido nas profundezas da montanha Kolang Gaz La e ainda em construção, saiu incólume. Ficou a poucos minutos de distância da central de Natanz e está a ser escavado a maior profundidade que a de Fordow, considerada a ‘joia da coroa’ do programa de enriquecimento de urânio do Irão.
Não se sabe quando é que o Irão começou a construir as instalações nucleares sob Kolang Gaz La, também conhecida como montanha ‘Pickaxe’ (‘Picareta’, em português). O trabalho no complexo foi tornado público em 2007 pelo Institute For Science And International Security (ISIS). Sabe-se ainda menos sobre o que se passa nos seus túneis e câmaras subterrâneos, que a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) que nunca foi autorizada a inspecionar.
Apesar dos vários pedidos de explicações ao Irão, a resposta tem sido sempre a mesma. “Uma vez que é óbvio que é um lugar onde estão a decorrer numerosas e importantes atividades relacionadas com o programa [nuclear], estamos a perguntar-lhes ‘para que é isto?’ Estão dizer-nos: ‘Não é da vossa conta'”, revelou o diretor Rafael Grossi em abril deste ano. Na altura, o responsável admitiu que “não se pode excluir” que os túneis do complexo armazenem material não declarado à agência da Organização das Nações Unidas.
Os especialistas têm descrito à imprensa internacional que o complexo de Kolang Gaz La é mais profundo e tem maior proteção do que outros do programa nuclear iraniano. Basta comparar com as instalações de Fordow, as mais importantes. Pensa-se que terá duas entradas, enquanto o da montanha Pickaxe tem pelo menos quatro: duas a leste, duas a oeste. Como nota o Financial Times, isso pode dificultar eventuais tentativas de forças inimigas para bloquear as entradas através de bombardeamentos.
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Além disso, como refere o The Telegraph, as câmaras subterrâneas foram construídas a maior profundidade. Enquanto em Fordow estão a cerca de 60 a 90 metros, estima-se que as de Kolang Gaz La estarão para lá dos 100 metros. “O complexo subterrâneo da montanha Kolang Gaz Lā ou ‘Pickaxe’ tem como objetivo dar ao regime um local de armas nucleares que até mesmo a Força Aérea dos EUA teria dificuldade em destruir com as suas maiores bombas convencionais”, descreveu ao jornal britânico o investigador Reuel Marc Gerecht, do think tank Foundation for Defense of Democracies (FDD).
Alguns especialistas temem que as instalações venham a ser usadas para construir uma arma nuclear. “Uma questão fundamental é se o Irão irá, ou talvez já tenha, secretamente colocado material físsil em Pickaxe ou em alguma outra instalação desconhecida”, sublinhou ao Financial Times Ben Taleblu, também do FDD.
Em abril deste ano, o Institute For Science And International Security relatou que foi detetado um novo perímetro de segurança em torno de Kolang Gaz La, algo que trouxe novas preocupações para os especialistas. Em declarações à agência Reuters, David Albright, presidente do instituto, reconheceu que se trata de um sinal de que os complexos de túneis poderão tornar-se operacionais em breve.
Segundo um relatório do instituto, de 24 de junho deste ano e assinado por David Albright and Spencer Faragasso, “nenhum dano foi observado nas imagens de satélite do complexo que está a ser construído sob o Monte Kolang Gaz La.” As potencialidades para o Irão são muitas, acredita o organismo. “Esta instalação abrigará uma unidade avançada de montagem de centrífugas e poderá abrigar a nova usina de enriquecimento de centrífugas que o Irão disse que quer inaugurar em breve”, lia-se numa outra análise, de 13 de junho.
observador