NATO. O primeiro desafio do governo

Foi o tema que os líderes dos principais partidos evitaram ao longo da campanha eleitoral. Como aumentar os gastos em defesa, como tem vindo a ser exigido pela NATO, sem tocar nas despesas sociais? No discurso de tomada de posse Luís Montenegro anunciou que o Governo quer atingir os 2% do PIB em defesa, já este ano. A forma e o método de o fazer foram o tema para o primeiro encontro entre o chefe do Executivo e os líderes do Chega e do PS, esta quarta-feira, já depois de aprovado o programa de governo.
Mas a necessidade de aumentar os gastos em defesa não vai sair do radar e é, aliás o tema único da cimeira da NATO que se realiza na próxima semana em Haia. Em cima da mesa vai estar a proposta dos EUA para que os países membros subam a despesa para os 5% do PIB.
Com o mundo em guerra e a administração Trump a ameaçar reduzir o seu empenho na força de defesa da Aliança Atlântica, a cimeira que decorre entre 24 e 26 de junho concentra as atenções em todas as capitais europeias. Independentemente do que venha a ser decidido pelos estados membros, a verdade é que o aumento das despesas com defesa é um facto inevitável e talvez o maior desafio para o governo que agora entrou em plenitude de funções.
No discurso político ninguém fala em cortes e a aposta é garantir que as novas obrigações de Portugal como membro da NATO serão cumpridas com maior investimento reprodutivo e com o desenvolvimento de novas tecnologias que terão efeito positivo na economia. Ou seja, líderes políticos e até candidatos presidenciais garantem que o investimento em defesa, não só não vai retirar financiamento nas áreas sociais, como vai contribuir para o crescimento e a especialização da economia portuguesa. Os especialistas na matéria desconfiam, mas esta semana o governo quis dar um primeiro sinal de como isto pode ser feito.
Melo garante ganhos com venda de aviões
Nuno Melo, ministro da Defesa esteve esta semana no Paris Air Show 2025. É uma das principais feiras de aviação do mundo, onde se fazem alguns dos maiores contratos, não só na aviação civil, como também na militar.
Foi a ocasião para dar ao país um primeiro sinal de como o governo vai tentar capitalizar a necessidade de aumentar o investimento em defesa. Juntamente com a assinatura de um contrato com a Embraer para a compra de mais uma aeronave KC-390 para a Força Aérea, elevando para seis o número de aviões da frota, Melo conseguiu incluir na declaração de intenções mais dez opções de compra. De acordo com o documento assinado, o Estado português será o intermediário para a venda destas aeronaves a outros países europeus, ou membros da NATO e por cada uma destas transações receberá a respetiva comissão.
O acordo foi possível porque Portugal tem uma relação estreita com a Embraer, empresa de aviação brasileira com vários investimentos no nosso país e que aposta em tecnologia portuguesa para muitos dos componentes dos seus aviões.
O KC-390, a aeronave agora adquirida, é em grande parte fabricada em Portugal. Muitas das peças são produzidas cá e cada venda de um destes modelos, representa um encaixe para os cofres do Estado de 11 milhões de euros. Agora, ao transformar-se em intermediário nas vendas Estado a Estado deste avião, Portugal acrescenta não só uma comissão, como garantias de que será a Força Aérea a fazer a manutenção ao longo do ciclo de vida da frota.
O ministro da Defesa garante que «a inclusão de dez opções de compra para futuras negociações governo a governo, permitirá que outras nações europeias e da NATO possam, através de Portugal, adquirir plataformas interoperáveis e versáteis habilitando o contínuo desenvolvimento da base tecnológica e industrial de defesa, com o consequente reforço financeiro para o país». Para Nuno Melo, o contrato assinado em Paris é um bom exemplo de como Portugal pode beneficiar e não ser prejudicado com o aumento de despesa na defesa.
O KC-390 é um avião de transporte militar multifacetado, para uso tático e logístico, reabastecimento em voo e combate a incêndios florestais. Permite também a realização de operações de busca e salvamento, evacuações médicas e missões de ajuda humanitária. Atualmente, uma parte significativa desta aeronave é fabricada em Évora.
Embraer em Portugal
A empresa de aeronáutica brasileira, que já tinha investimentos em Portugal, abriu no ano passado uma subsidiária no nosso país, focada em atividades de defesa e segurança para a Europa. A aposta, de acordo com a própria Embraer foi «um marco estratégico para sua expansão na Europa, reforçando o compromisso da Embraer em fortalecer a sua presença na região, com foco em soluções inovadoras de defesa e segurança para os países membros da NATO e da União Europeia (UE)».
Em Portugal a Embraer já era acionista das Oficinas Gerais de Manutenção Aeronáutica (OGMA), onde detém 65% do capital da empresa.
A aposta deste gigante da aeronáutica em Portugal tem-se vindo a diversificar, já que a empresa de origem brasileira aposta no nosso país como plataforma de entrada na Europa. As relações de parceria com a Força Aérea Portuguesa, no treino de pilotos e manutenção de aviões, a par com a participação de várias empresas nacionais na produção de aviões, facilitaram o entendimento com o governo e elevaram o patamar de colaboração. Assumindo-se como parceiro privilegiado para a negociação Estado a Estado de compra de aviões da Embraer, Portugal aposta numa intensificação de relações com a empresa que pode trazer ganhos a ambas as partes.
Jornal Sol