Presidenciais: Gouveia e Melo rejeita NATO continental e está contra as críticas aos Estados Unidos

O Almirante Henrique Gouveia e Melo durante a apresentação oficial da sua candidatura à Presidência da República, Lisboa, 29 de maio de 2025. MANUEL DE ALMEIDA/LUSA
O candidato presidencial Gouveia e Melo considerou hoje essencial que Portugal se oponha a uma NATO continental e não global ou transatlântica, e rejeitou críticas aos Estados Unidos enquanto país por causa da ação de Donald Trump.
Estas posições foram assumidas pelo ex-chefe do Estado-Maior da Armada numa conferência promovida pelo “Estoril talks”, subordinada ao tema do “futuro da NATO e da Defesa de Portugal face às alterações na relação transatlântica”.
No final de cerca de 20 minutos de intervenção, durante a qual também criticou a intervenção militar israelita em Gaza, Henrique Gouveia e Melo deixou um aviso em termos de estratégia para a Defesa Nacional: “Nós, portugueses, não podemos deixar que a aliança atlântica evolua para uma NATO continental desligada do eixo transatlântico e desligada dos Estados Unidos”.
“E criticar os Estados Unidos, pura e simplesmente porque é o senhor Trump, não parece a melhor estratégia para Portugal”, declarou, sem identificar o ou os destinatários o seu recado.
Nesta conferência, a tese central do almirante foi a de que não interessa a Portugal que a NATO se torne uma potência continental, porque nesse modelo o país será “periférico”.
Em contrapartida, na sua perspetiva, Portugal deve “alimentar a ideia de uma NATO global, para dar uma resposta aos novos desafios”.
“Numa componente mais regional dessa NATO global, Portugal pode concentrar-se no Atlântico Norte e no Atlântico Sul, que são áreas de influência, uma por proximidade geográfica e outra por proximidade identitária”, sustentou.
Neste ponto, falou da proximidade histórica de Portugal ao Brasil, a Angola e da experiência secular nacional no golfo de África e na África Ocidental.
“Podemos fazer um papel de charneira para a África – e os americanos consideram esse papel muito relevante”, sustentou.
Ainda segundo o ex-chefe do Estado-Maior da Armada, Portugal pode também desempenhar o papel de “controlar a atividade submarina” de adversários no Atlântico Norte.
“A capacidade submarina, que ilude e se esconde, é muito difícil de contrariar – e nós aí podemos ser especializados. A Marinha Portuguesa, desde há três anos, fez uma mudança fortíssima para fazer esse papel dentro da NATO, com o reconhecimento do principal aliado, que são os Estados Unidos, do Reino Unido e da França” defendeu.
No que respeita aos investimentos colocados como meta a cada Estado-membro, Gouveia e Melo manifestou dúvidas sobre o objetivo de se atingir os 5% do produto interno bruto em defesa em cada país. E deixou uma advertência para contrariar a pressão que venha a ser exercida no sentido de tentar forçar compras rápidas de equipamentos militantes.
“Há aqui um aspeto económico importante a considerar, porque se tivermos que fazer esse reforço muito rápido muitos dos países não estão prontos para responder industrialmente. Isso vai beneficiar os países que já estão industrializados e que têm essa capacidade, nomeadamente três núcleos de países: o maior, os Estados Unidos, mas, depois, a Alemanha e a França”, acrescentou.
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