Que diferença tem um vinho que faz estágio no mar?

Estão há mais de uma década submersas nas águas do litoral alentejano e vão, nos próximos dias 20 e 21 de junho, ser pescadas, abertas e servidas a bordo de um barco. É este o plano para a primeira edição do Subaquatic Wine Tourism, um evento inteiramente dedicado ao enoturismo subaquático que vai tomar conta do mar em Sines e Porto Covo para explicar o que é que realmente acontece quando uma garrafa de vinho é colocada no fundo do mar, do rio, de uma barragem ou de uma gruta.
“Vamos finalmente desvendar o que é que é isto dos vinhos subaquáticos. É uma coisa inédita. Nós estamos pela primeira vez na vida do vinho português subaquático, podemos dizer assim, a falar de uma coisa que nunca ninguém explicou”, afirma ao Observador Maria João de Almeida, presidente da Associação Portuguesa de Enoturismo, acrescentando que “há aqui muitas teorias, que podem ser abordadas e faladas, e que vão ser faladas pela primeira vez neste evento”.
Assim, e com a ajuda da Adega do Mar — um projeto de envelhecimento subaquático de vinhos fundado pelo agrónomo e mergulhador Joaquim Parrilha —, na manhã de dia 20 de junho vai decorrer uma sessão de mergulho para recuperar as garrafas de vinho que têm estado em estágio no litoral de Sines e Porto Covo. Segue-se as provas comparativas entre os vinhos que estiveram submersos e os envelhecidos em terra, junto de sommeliers e investigadores que vão avaliar as diferenças organoléticas e químicas.
No dia 21 de junho, decorre também a palestra “Vinho Submerso: Evidência Científica ou Curiosidade?” que vem dar resposta às questões iniciais: “O que é que acontece quimicamente? Fica mais macio porquê? É a pressão? É a luz? É a falta de oxigénio?”, exemplifica. Para tal, haverá um painel de oradores, desde produtores a professoras universitárias que vão partilhar o conhecimento na área. São eles Joaquim Parrinha (da Adega do Mar), Jacinta Sobral (Quinta da Serenada / Associação dos Produtores da Costa Alentejana), Pedro Martínez (Bodega Verónica, Espanha), Maria João Cabrita (Professora Doutorada – Ciências Agrárias na Universidade de Évora) e Cristina Barrocas Dias (Professora Doutorada – Química e Bioquímica na Universidade de Évora). As inscrições devem ser feitas na Associação Portuguesa de Enoturismo.
“Há aqui uma lógica em que o mar é o denominador comum de tudo. E apresentamos este produto, o enoturismo subaquático, como uma forma também de respeitar o território, ao fim e ao cabo, e unindo aqui alguns ingredientes que para nós são muito importantes: a ciência, o mar, o vinho, o turismo, de uma forma que pensamos que é muito interessante e muito diferenciadora”, explica ao Observador José Santos, presidente da Entidade Regional de Turismo e da Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo, acrescentando que o objetivo aqui “é criar, obviamente, mais conteúdos ligados ao enoturismo”. “Já temos as adegas do autor, as adegas subterrâneas, as adegas museu. Temos os vinhos debaixo do Alqueva, agora temos o vinho no litoral alentejano”, acrescenta.
Quanto às garrafas que serão pescadas, essas ainda não podem ser reveladas, mas são “de vários lotes”, revela. “Mas não vamos receber só vinho que foi afundado no mar, também vamos ter ginga e rum afundados“, acrescenta Maria João de Almeida. “O Joaquim tem alguns vinhos que estão lá só há meses e há outros que já estão há anos. E há outros que vão ficar durante anos. Porque há lá, por exemplo, o vinho do Porto da Francisca Van Zeller, que ela não pode tirar”, exemplifica.
“O que nos interessa muito também é explorar aqui mais esta dimensão da literacia e do conhecimento à volta do tema. Ou seja, há a componente mais experiencial, há a turística, que é interessante. Mas há aqui uma dimensão de literacia, de conhecimento, que também gostávamos que fosse trabalhada”, acrescenta o presidente da Entidade Regional de Turismo e da Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo.
O Subaquatic Wine Tourism é organizado pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo e pela Câmara Municipal de Sines, com conceção e produção da APENO (Associação Portuguesa de Enoturismo), e com o apoio da Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo.
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