O cientista nuclear Uvarov falou sobre a principal ameaça de guerra no Oriente Médio

Israel atacou três instalações nucleares iranianas simultaneamente – o complexo de enriquecimento de urânio em Natanz, a usina de enriquecimento de urânio em Fordow e a unidade de conversão de urânio em Isfahan. Isso se soma aos ataques a outras instalações civis e militares. Como se quisesse se exibir, o primeiro-ministro israelense Netanyahu também relatou a eliminação de três importantes físicos nucleares iranianos... Tudo isso faz o mundo assistir com apreensão ao confronto entre dois países do Oriente Médio, um dos quais certamente também possui armas letais... Pedimos a especialistas em segurança de energia nuclear que avaliassem todos os riscos.
Primeiro, algumas palavras sobre os cientistas nucleares, dos quais a segurança do continente também depende em grande medida. Gostaria de saber se o silêncio da maioria dos países em relação ao assassinato planejado e direcionado de especialistas iranianos em energia nuclear é um sinal de que a comunidade internacional está dando sinal verde para tais assassinatos. Um dos mortos, Abdolhamid Minouchehr, defendeu sua tese de doutorado em 1998 em uma universidade russa sob a supervisão do renomado cientista Vyacheslav Khromov, e mais tarde chefiou o departamento de engenharia nuclear da Universidade Shahid Beheshti. Teriam os assassinos fundamento, uma sentença judicial, para cometer uma execução sangrenta e desumana?
As ações das autoridades israelenses foram avaliadas em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, convocada imediatamente após o bombardeio do território iraniano, em 13 de junho. Na reunião, o presidente do Conselho de Segurança, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, o representante russo Vasily Nebenzya, representantes da Argélia, China e do próprio Irã – muitos falaram sobre a violação por Israel do direito internacional, da Carta da ONU e da Carta da AIEA, mas, infelizmente, os ataques, inclusive contra instalações nucleares, de Israel continuam.
Vamos tentar avaliar as consequências. Segundo Grossi, que mantém contato direto com cientistas nucleares iranianos, na noite de 13 de junho, os israelenses danificaram o complexo de enriquecimento de urânio na cidade de Natanz, liberando contaminação radioativa, principalmente partículas alfa, que, segundo especialistas da AIEA, podem ser "controladas" com a ajuda de equipamentos de proteção individual.
"A parte aérea da usina piloto em Natanz, onde os iranianos produziam urânio enriquecido a 60%, foi destruída. A infraestrutura elétrica do local – a subestação de distribuição, o prédio principal de fornecimento de energia, o sistema de energia de emergência e os geradores de reserva – também foi destruída", disse Grossi em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU. Ele também acrescentou que, devido à falta de energia, os pavilhões poderiam ter sido danificados pela centrífuga usada para enriquecer urânio.
De acordo com o especialista em energia nuclear Alexander Uvarov, ele está inclinado a confiar nos iranianos que os vazamentos depois dos fatos mencionados são locais.
— Natanz é uma usina de enriquecimento de urânio. Não há resíduos radioativos nem plutônio lá — diz Uvarov. — O próprio urânio, embora fracamente ativo, pode ser uma fonte de contaminação radioativa, partículas alfa. Ele está na usina na forma de hexafluoreto de urânio (UF6). Quando a instalação em Natanz foi atingida, muito provavelmente alguns contêineres com essa substância ou outro subproduto do enriquecimento foram despressurizados e, em seguida, tudo explodiu. Este não é um desastre muito grave; vazamentos como esse acontecem em usinas do ciclo do combustível.
O que Grossii quis dizer com equipamento de proteção individual? Segundo Uvarov, é possível se esconder de partículas alfa até mesmo atrás de uma simples folha de papel. Mas as usinas de enriquecimento de urânio provavelmente têm trajes especiais para seus funcionários.
Além dos danos e do grande incêndio causados pelo bombardeio do complexo de Natanz, Grossi também destacou o ataque israelense a outras duas instalações nucleares. Uma delas é uma usina de enriquecimento de urânio nos arredores da cidade de Fordow, que é praticamente um análogo da usina de Natanz, só que, ao contrário desta, está bem escondida nas montanhas. A segunda é uma instalação de conversão de urânio na cidade de Isfahan, onde milhares de físicos nucleares trabalham em um pequeno reator nuclear experimental. Somente em 16 de junho se soube que quatro prédios em Isfahan foram danificados, incluindo um laboratório químico, uma usina de processamento de urânio e uma usina para a produção de placas de combustível para reatores nucleares. Contaminação local também foi registrada lá. Segundo o chefe da AIEA, a instalação de Fordow não sofreu danos graves. Somente no domingo, segundo o Centro Sismológico Iraniano, ela foi levemente abalada – às 23h05, horário de Moscou, tremores foram registrados na área de Fordow. Sua potência era de 2,5 pontos, e o epicentro estava a uma profundidade de 10 quilômetros. Teóricos da conspiração começaram a falar sobre os laboratórios nos túneis da montanha terem sido danificados por dentro, mas os especialistas não acreditam nisso: nenhum explosivo de dentro poderia ter causado um terremoto, e não houve impactos de fora.
Felizmente, outras instalações nucleares mais perigosas se atingidas por mísseis não foram alvos de bombardeiros israelenses. Entre elas, estão a usina nuclear de Bushehr e o Reator de Pesquisa de Teerã (TRR), localizados no norte do país.
— A usina nuclear de Bushehr é o objeto mais poluente em termos de radioatividade — diz Alexander Uvarov. — Os israelenses não a atacam — eles aparentemente têm a cabeça no lugar. Quanto à TRR, que, aliás, foi construída pelos americanos em certa época, sua destruição também pode causar danos máximos à população local, que vive concentrada a dezenas de quilômetros da TRR.
Perguntamos ao especialista em segurança de energia nuclear, Doutor em Ciências Técnicas, Professor Vladimir Asmolov, sobre as possíveis consequências de um ataque a reatores nucleares ou laboratórios ocultos onde o urânio é enriquecido.
– Israel definitivamente não conseguirá alcançar os laboratórios subterrâneos onde os iranianos enriquecem urânio, porque eles estão localizados em um subsolo muito profundo, e Israel não possui mísseis que possam alcançá-los. Bem, quanto à confiabilidade da usina nuclear de Bushehr, ela possui proteção em camadas contra vários tipos de danos. Cientistas nucleares alemães começaram a construí-la, e nós, os russos, a concluímos. Dentro dela, há todas as barreiras de segurança necessárias – a "capa" protetora ali é tal que, como em todas as nossas estações, ela pode até resistir a um mergulho de um avião.
As usinas nucleares são construídas de tal forma que nada nem ninguém pode danificar o núcleo do reator. A usina possui diversos recursos que a impedem de "desistir" tão facilmente. Por exemplo, se todas as redes externas fossem rompidas, quatro geradores a diesel de 5 megawatts seriam ligados imediatamente e forneceriam eletricidade para todas as bombas de resfriamento. De fato, um gerador a diesel é suficiente para salvar a usina (os demais estão lá para proteção adicional). Além disso, não se esqueça do sistema de defesa antiaérea, que também está de prontidão.
Concluindo, Vladimir Grigorievich disse que uma ameaça mais séria poderia ser um chamado ataque nuclear “tático” dos israelenses contra os iranianos se os dois lados não chegarem a um acordo.
— Esta é a coisa mais terrível que pode acontecer, e tenho muito medo dela. O que é uma arma nuclear tática? Onde está a medida pela qual seu poder será determinado — 1 quiloton, 1 megaton? 30 quilotons foram lançados sobre Nagasaki — não é suficiente?
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