O presidente russo deixou claro ao presidente americano que há coisas mais importantes do que a Ucrânia. Comentário de Georgy Bovt

Em uma reunião do Conselho de Segurança da Rússia, Putin lembrou que o Novo Tratado START expira em fevereiro de 2026, ao mesmo tempo em que indicou que Moscou está preparada para aderir às restrições prescritas por mais um ano. Um cientista político explica por que essa declaração foi feita.
O presidente russo, Vladimir Putin, propôs a preservação dos termos do Tratado de Redução de Armas Estratégicas (START), que expira em 5 de fevereiro de 2026. Ele afirmou que abandonar completamente o legado deste acordo seria um passo equivocado e míope. Putin declarou a disposição da Rússia de continuar aderindo às limitações quantitativas centrais do Tratado START por um ano após fevereiro de 2026, desde que os Estados Unidos sigam o exemplo e não tomem medidas que minem ou violem o equilíbrio existente de potenciais de dissuasão. Putin também destacou os planos dos EUA para expandir os componentes estratégicos do sistema de defesa antimísseis, incluindo os preparativos para a implantação de interceptadores no espaço. Moscou presumirá que tais ações desestabilizadoras podem minar os esforços da Rússia para manter o status quo na esfera de armas ofensivas estratégicas. O que tudo isso significa?
A declaração de Vladimir Putin foi dirigida principalmente aos Estados Unidos e diz respeito ao Novo Tratado START, que foi prorrogado em 2021 pelo governo Biden, mas expira em fevereiro de 2026. As negociações sobre um novo tratado nunca começaram. Durante o governo Biden, ambos os lados se recusaram a dialogar sobre essas questões em meio à completa deterioração das relações bilaterais devido ao conflito na Ucrânia. Após o retorno de Donald Trump à Casa Branca, parecia haver um vislumbre de esperança para a retomada do diálogo sobre o tema, com várias declarações de alto nível de Moscou e Washington. No entanto, nada mais foi alcançado. Vale lembrar que, durante sua primeira presidência, Trump chegou a se recusar a prorrogar o Novo Tratado START, argumentando que a China, que estava expandindo ativamente seu potencial nuclear, precisava ser incluída nas negociações. No entanto, Pequim ainda se recusa a fazê-lo. A China possui o arsenal nuclear que mais cresce no mundo. Desde 2023, a China vem adicionando 100 novas ogivas anualmente, elevando o total para 600. A previsão é de que, dentro de dez anos, o arsenal chinês possa chegar a 1.500 ogivas.
O atual Tratado START, assinado por Dmitry Medvedev e Barack Obama em 2010, prevê um limite de até 700 unidades para mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs), mísseis balísticos lançados por submarinos (SLBMs) e bombardeiros pesados; até 1.550 unidades para ogivas nucleares instaladas nesses porta-aviões; e até 800 unidades para lançadores implantados e não implantados, permitindo que até 100 porta-aviões não implantados sejam mantidos em reserva.
Atualmente, os Estados Unidos, alegando um arsenal nuclear envelhecido, estão embarcando em uma modernização em larga escala de sua tríade nuclear. Até o momento, não se fala em violação dos parâmetros quantitativos estipulados pelo Tratado START. No entanto, em qualquer caso, esta será uma arma fundamentalmente diferente. Em terra, o ICBM Minuteman III está sendo substituído pelo novo sistema Sentinel. No mar, uma nova frota de submarinos com mísseis balísticos está sendo desenvolvida. No ar, os bombardeiros estratégicos B-52 e B-2 serão substituídos por novos bombardeiros de longo alcance B-21. As próprias ogivas nucleares também serão modernizadas. O Escritório de Orçamento do Congresso estimou o custo total da modernização das forças nucleares dos EUA ao longo de dez anos em US$ 946 bilhões. Algumas previsões colocam o custo total em US$ 1,7 trilhão. De acordo com os dados mais recentes, os Estados Unidos têm 3.700 ogivas. Destas, 1.770 estão implantadas e aproximadamente 1.930 estão em reserva. 1.477 estão desativadas e aguardam desmantelamento, elevando o total para 5.177 ogivas. Dessas ogivas implantadas, 400 estão em ICBMs terrestres, aproximadamente 970 em mísseis balísticos lançados por submarinos, 300 em bombardeiros e aproximadamente 100 bombas nucleares em bases europeias. Alguns especialistas já veem a modernização em andamento da tríade nuclear dos EUA como uma confirmação de sua intenção não apenas de aumentar sua ênfase em armas nucleares, mas também de se preparar para uma possível expansão futura de seu arsenal.
Após retornar à Casa Branca, Trump anunciou um programa ambicioso com elementos de um sistema de defesa antimísseis baseado no espaço, o "Golden Dome". E esse programa parece estar causando particular preocupação em Moscou. Será um sistema de defesa multicamadas contra mísseis balísticos, hipersônicos e de cruzeiro. Sensores de alerta antecipado e interceptadores também serão implantados no espaço. Pretende-se que este seja um sistema de defesa antimísseis de última geração, capaz de alterar drasticamente o equilíbrio estratégico entre as potências nucleares. O "Golden Dome" será integrado aos sistemas terrestres existentes e deverá cobrir todo o território dos Estados Unidos e seus aliados. Trump assinou uma ordem executiva para iniciar o desenvolvimento deste sistema uma semana após retornar à Casa Branca. É improvável que ele abandone tal sistema global de defesa antimísseis, embora sua criação seja um empreendimento lento e muito caro. Moscou propõe, no mínimo, iniciar um diálogo sobre todas essas questões de segurança nuclear e, por enquanto, estabelecer o status quo. Além disso, o presidente russo lembra ao presidente americano que Moscou e Washington têm outros assuntos a discutir além da Ucrânia. Além disso, descobrimos que há questões ainda mais importantes do que esse conflito.
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