Por que a janela de 50 dias de Trump pode representar um perigo para a Ucrânia

LONDRES — Esta semana marcou uma possível mudança de rumo do presidente Donald Trump em relação à invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia, com seu anúncio na segunda-feira de um acordo "realmente grande" para fornecer a Kiev novas armas e ameaças de impor novas sanções à Rússia se o país não chegar a um acordo para um cessar-fogo em 50 dias.
Embora a decisão de Trump tenha sido bem recebida pelos líderes em Kiev, os ucranianos e seus apoiadores no exterior também levantaram preocupações de que a janela de 50 dias possa oferecer ao presidente russo Vladimir Putin uma oportunidade de intensificar seus ataques de longo alcance contra cidades ucranianas e a ofensiva de verão em andamento na linha de frente.
Oleksandr Merezhko, membro do parlamento ucraniano que representa o partido de Zelenskyy e presidente do comitê de relações exteriores do órgão, disse à ABC News que estava "cautelosamente otimista", esperando que o anúncio de Trump pudesse sinalizar uma nova campanha de "pressão máxima" sobre Putin.
"No entanto, o prazo de 50 dias é preocupante, porque Putin pode interpretá-lo como sinal verde para intensificar as operações ofensivas", disse ele.
Os ataques russos nas duas noites desde o anúncio de Trump sugerem que Moscou permanece impassível.

Na noite de segunda e terça-feira, foram registrados um total de 667 drones de ataque e isca de vários tipos, além de um míssil, lançados na Ucrânia pela Rússia, de acordo com números publicados pela força aérea ucraniana e analisados pela ABC News.
Nos 50 dias anteriores ao anúncio de Trump, um total de 9.618 drones e 349 mísseis foram lançados na Ucrânia — uma média de cerca de 192 drones e sete mísseis por dia.
O padrão de ataques russos de longo alcance sugere que os próximos 50 dias podem ser ainda mais difíceis para os ucranianos. Desde maio, a escala dos ataques russos tem aumentado constantemente, apesar dos esforços de Trump para forçar um cessar-fogo e um eventual acordo de paz.
Em maio, a Rússia lançou um total de 3.835 drones e 117 mísseis, uma média de cerca de 124 drones e quase quatro mísseis por dia.
Em junho, 5.438 drones e 239 mísseis foram disparados contra a Ucrânia, com uma média diária de 181 drones e quase oito mísseis.
Já na primeira quinzena de julho, a Ucrânia relatou ter enfrentado 4.003 drones e 89 mísseis, para uma média diária de 250 drones e mais de cinco mísseis.
"A Rússia não está mudando sua estratégia", escreveu Zelenskyy no Telegram após os ataques de terça-feira à noite, nos quais o presidente disse que pelo menos 16 pessoas ficaram feridas.
"Para combater esse terror de forma eficaz, precisamos de um fortalecimento sistemático da defesa: mais defesa aérea, mais interceptadores, mais determinação para que a Rússia sinta nossa resposta", acrescentou.
A Ucrânia afirma que muitos desses drones russos têm como alvo alvos não militares, incluindo áreas residenciais e centros urbanos em toda a Ucrânia. A Rússia afirma que os alvos são instalações militares e de infraestrutura.
Trump defendeu sua decisão de dar 50 dias para Moscou agir, dizendo a repórteres na Casa Branca na terça-feira: "Não acho que seja muito tempo. Acho que a pergunta que realmente deveria ser feita é: por que [o ex-presidente Joe] Biden nos colocou nessa guerra ridícula? Por que Biden nos levou até lá?"

Questionado sobre por que acredita que a opinião de Putin mudará em 50 dias, Trump disse: "Muitas opiniões mudam muito rapidamente". Ele acrescentou: "Pode não ser em 50 dias, pode ser muito antes disso".
Mas autoridades russas deram uma resposta fria ao anúncio de Trump na terça-feira.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que as "declarações de Trump são muito sérias", afirmando a repórteres em um briefing diário: "Algumas delas são dirigidas pessoalmente ao presidente Putin. Definitivamente, precisamos de tempo para analisar o que foi dito em Washington."
Enquanto isso, o vice-ministro das Relações Exteriores, Sergei Ryabkov, disse à agência de notícias estatal Tass que fazer qualquer exigência à Rússia é "inaceitável" e que a posição do Kremlin é "inabalável".
O ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, sugeriu que Trump está "sob enorme e francamente indecente pressão da UE e da atual liderança da OTAN".
Respondendo diretamente ao cronograma de Trump, Lavrov disse que Moscou quer "entender o que significa essa referência de 50 dias. Houve menções anteriores de 24 horas, depois de 100 dias. Já vimos esse padrão antes e realmente queremos compreender o raciocínio do presidente dos EUA".
Quanto à ameaça de novas tarifas ou sanções, o ministro das Relações Exteriores disse: "Já estamos lidando com um número sem precedentes de sanções e nos saindo bem. Não tenho dúvidas de que também lidaremos com essas novas medidas."
Talvez o mais direto tenha sido Dmitry Medvedev — ex-presidente e primeiro-ministro russo, atualmente vice-presidente do Conselho de Segurança do país — que escreveu nas redes sociais que o Kremlin não se comoveu com o "ultimato teatral" de Trump.
"O mundo estremeceu, esperando as consequências", escreveu Medvedev, que, durante a guerra em larga escala de Moscou contra a Ucrânia, tornou-se conhecido como uma voz particularmente agressiva dentro do establishment de segurança de Putin. "A Europa beligerante ficou decepcionada. A Rússia não se importou."
Hannah Demissie, da ABC News, contribuiu para esta reportagem.
ABC News