'Meu marido, deputado conservador, me estuprou enquanto eu dormia e gritou ofensas ao nosso bebê recém-nascido'

À medida que a violência contra mulheres e meninas atinge níveis epidêmicos, com a polícia recebendo uma chamada de violência doméstica a cada 30 segundos, uma mulher está contando sua história profundamente pessoal e tornando sua missão defender as vítimas de violência doméstica .

A ex-deputada conservadora por Burton, em Staffordshire, Kate Kniveton, 54, alerta como a violência doméstica pode afetar qualquer pessoa, independentemente de sua origem ou profissão, após sofrer uma década de abusos nas mãos de seu ex-marido, um deputado conservador.

Abrindo mão corajosamente de seu direito ao anonimato, ela também destaca o abuso que muitos sobreviventes sofrem muito depois do fim do relacionamento e como os tribunais de família estão negligenciando crianças vulneráveis.

"As pessoas não acham que isso pode acontecer com profissionais de classe média, mas a violência doméstica não tem limites, pode afetar absolutamente qualquer pessoa", diz Kate. "Quando fui eleita, prometi defender as vítimas de violência doméstica. Estou traumatizada — não apenas pelos 10 anos de violência que sofri, mas pelos cinco anos seguintes, em que ele continuou a usar o sistema judicial para me maltratar."

A ex-deputada explica como é fácil para as mulheres se deixarem levar e se verem presas em relacionamentos prejudiciais. "Ele era muito simpático, charmoso e carismático", diz ela sobre seu ex-namorado abusivo, Andrew Griffiths. "Em retrospectiva, vejo que havia sinais de alerta, mas sempre atribuí isso à muita pressão que ele estava sofrendo."

Para a maioria das pessoas, olhando de fora, nosso relacionamento era perfeito, mas o abuso já durava vários anos. Toda vez que eu dizia que ia à polícia, que ia denunciar você, ele sempre dizia: 'Ninguém acreditaria em você, Kate. Eu sou o deputado aqui. Tenho um ótimo relacionamento com a polícia — todos acham que eu sou o garoto dos olhos azuis.'"

Mas, a portas fechadas, as coisas não eram o que pareciam. Kate se lembra de como seu marido a estuprava enquanto ela dormia e gritava insultos para o bebê de dois meses. "Começava quando eu estava dormindo — eu acordava e ele já tinha começado a fazer sexo comigo", lembra ela.

Às vezes eu só pensava 'deixa pra lá', mas havia outras vezes em que eu chorava. E nessas vezes ele parava — não sempre —, mas ficava de mau humor se parasse. Lembro que ele ficava me chutando até me expulsar da cama. E eu ia para o nosso quarto de hóspedes e me trancava em outro quarto para passar a noite ou saía de casa.

Um ponto de virada foi quando ela percebeu que seu filho de duas semanas também estava em perigo. "Eu ainda esperava que Andrew pudesse mudar, mas quando nosso bebê tinha apenas duas semanas, percebi que o abuso poderia não parar comigo", acrescenta. "Ele acordou cedo para pegar um trem de volta para Westminster e nosso bebê começou a chorar pedindo para mamar. Ele se virou e disse 'cala a boca', e isso foi dito com tanta força e agressividade — e ele tentou fingir depois que estava apenas cansado — mas era apenas um bebê."

Ironicamente, seu ex-marido abusivo fez campanha pelos direitos das mulheres, mas em 2018 Griffiths virou manchete ao ser flagrado enviando mensagens de texto eróticas para dois eleitores, renunciando ao cargo mais tarde. Kate aproveitou a oportunidade para deixar a casa da família, mas teve que lutar nos tribunais de família para impedir que Griffiths visse o filho.

Então, em 2019 – cerca de 18 meses após o escândalo do sexting – Kate se candidatou como deputada contra o ex-marido e venceu. Griffiths foi condenado por estupro e abuso físico da esposa por um juiz do tribunal de família em 2021. Griffiths nega ter estuprado Kate.

Kate conta sua história em um novo documentário da ITV1 e ITVX, "Breaking The Silence: Kate's Story" (Quebrando o Silêncio: A História de Kate), onde ela fala em profundidade pela primeira vez sobre a década de abuso que sofreu nas mãos do ex-marido. No documentário, ela também se esforça para esclarecer o problema dos tribunais de família – onde cerca de 30.000 casos por ano envolvem alegações de violência doméstica.

Muitas sobreviventes relatam sentir-se retraumatizadas e desacreditadas pelo próprio processo que visa protegê-las. Kate e outras sobreviventes compartilham suas experiências, expressando profunda preocupação com o fato de os tribunais frequentemente não conseguirem proteger as crianças de ex-parceiros violentos.

A Dra. Charlotte Proudman, que foi advogada de Kate no tribunal de família, explica no filme: "É muito comum, mesmo quando há condenações por crimes de violência doméstica, que um pai tenha direito a contato regular e sem supervisão com seu filho".

Isto acontece cinco anos após o Relatório de Danos do Ministério da Justiça, que alertou que os tribunais de família estavam colocando a segurança das crianças em risco – mas muitas de suas principais recomendações ainda não foram implementadas. É uma realidade alarmante, reforçada pela Women's Aid, cujo último relatório constatou que 67 crianças foram mortas no Reino Unido nos últimos 30 anos durante visitas de contato com um agressor doméstico conhecido.

No filme, Kate também se encontra com Jess Phillips, deputada e recém-nomeada Ministra da Salvaguarda e da VAWG, para discutir as reformas urgentes necessárias para proteger melhor as sobreviventes e seus filhos. Jess lhe diz: "Grande parte do que acontece no âmbito da violência doméstica é tão ocultado do público. Acho que se as pessoas soubessem metade do que você e eu vimos, haveria forcados... há muito o que fazer — está tão arraigado, seja no sistema judiciário ou na forma como os conselhos contratam serviços locais de refúgio e apoio."

O Ministério da Justiça respondeu às alegações levantadas no filme: "Qualquer caso envolvendo a morte de uma criança é uma tragédia, e nossas sinceras condolências vão para as famílias [afetadas]. Veremos onde melhorias podem ser feitas no sistema do Tribunal de Família para ajudar a prevenir esses crimes horríveis." Acrescentaram que o trabalho está em andamento para garantir que o tribunal de família seja seguro para crianças e famílias, destacando o projeto piloto do Pathfinder para melhorar os resultados em casos de direito privado.

Na audiência final, em janeiro de 2024, Griffiths aceitou todas as conclusões de abuso apresentadas pelo tribunal de família, exceto a de estupro. No entanto, quando solicitado a responder a este programa, ele disse: "Sempre neguei as alegações feitas. O Tribunal de Família tem um ônus da prova muito menor e sempre foi privado e confidencial."

"O Tribunal de Família falhou com a nossa filha. A publicação de alegações obscenas só pode prejudicar as crianças. Toda criança tem o direito de ter ambos os pais em sua vida. Nunca vou parar de lutar para ser um pai para o meu filho e demonstrar a ele o quanto o amo."

Quebrando o Silêncio: A História de Kate, domingo, 20 de julho, às 22h20 na ITV1 e ITVX.

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