Vendemos tudo para viajar pelo mundo — eis o que isso nos ensinou sobre a vida

Quando crescemos na América do Norte, fomos ensinados que havia um caminho a seguir: ir à escola, tirar boas notas, conseguir um emprego estável, economizar, casar, comprar uma casa, ter filhos e passar o resto da vida cuidando deles.
Então, nos esforçamos para trilhar esse caminho. Trabalhamos das 9h às 17h, buscamos o sucesso profissional e, por fim, abrimos nossa própria clínica de fisioterapia. Dedicamo-nos de corpo e alma, e o negócio prosperou.
No papel, tínhamos tudo: uma vida confortável, um casamento sólido, uma carreira de sucesso. Mas, ainda assim, nos perguntávamos: será que é mesmo isso? Tínhamos feito tudo "certo", mas faltava alguma coisa.
Então, um dia, paramos de perguntar e decidimos descobrir. Vendemos tudo, deixamos tudo para trás e partimos em busca de uma vida que realmente parecesse nossa. Agora, depois de mais de um ano e meio viajando pelo mundo, moldados pelas culturas que vivenciamos e pelas pessoas que conhecemos, estas são as nossas conclusões sobre o que realmente importa na vida.

De onde viemos, o sucesso sempre foi definido da mesma forma: uma casa grande com uma cerca branca, um carro luxuoso na garagem e uma conta bancária que não parava de crescer. Crescemos acreditando que quanto mais dinheiro você tivesse — e quanto mais coisas brilhantes pudesse comprar — mais feliz e realizado você seria.
Então, seguimos esse caminho. Construímos nossas carreiras, abrimos uma clínica particular de fisioterapia do zero e a transformamos em um negócio próspero com uma equipe de nove terapeutas incríveis. À medida que a renda aumentava, compramos um carro melhor, alugamos um apartamento lindo e começamos a economizar mais.
Mas, no fim, nos perguntamos: Ok, temos todas essas coisas... e agora?
Ver os números aumentarem em nossa conta bancária não trazia mais a alegria de antes. Tínhamos tudo o que nos ensinaram que nos faria sentir realizados: uma carreira de sucesso, nosso próprio negócio, casados, um bom carro e uma conta bancária estável — e, ainda assim, algo parecia faltar. Então, tomamos uma decisão drástica: deixamos tudo de lado e decidimos ir atrás do que realmente nos fazia sentir vivos: viajar.
Agora, mais de um ano e meio depois, tendo nos livrado de todos os símbolos de status e vivendo com uma fração da nossa antiga renda, nunca nos sentimos tão vivos. Fizemos trilhas até o acampamento base do Everest, dançamos salsa na Colômbia, aprendemos espanhol, acompanhamos leões selvagens e uma manada de elefantes em um safári autoguiado pela Namíbia e fizemos amizades inesquecíveis no mundo todo. Nossa vida finalmente parece plena, não pelo que possuímos, mas pelo que vivemos.
Porque, não importa o que a sociedade diga, a felicidade não vem do dinheiro. Ela vem de novas experiências, conexões profundas e da escolha de uma vida que realmente pareça sua. Então, pare de perseguir o chamado "sonho" de ter mais dinheiro — porque a verdade é que nunca parecerá o suficiente.
Em vez disso, invista seu tempo em experiências que realmente enriquecem sua vida — seja viajar para um novo país, rir com os amigos durante o jantar, finalmente fazer aquela aula de dança ou simplesmente fazer algo que te faça sentir vivo. É aí que a vida enriquece.

Vou ser sincero: vender nosso negócio e abandonar um emprego estável das 9h às 17h foi assustador. Crescemos ouvindo que esse tipo de trabalho era a definição de sucesso. Era o que você tinha que fazer para progredir na vida. Mas, apesar do medo, demos um salto de fé... e chegamos a uma conclusão surpreendente:
A rotina das 9 às 5 é uma gaiola que nós mesmos construímos.
Não me entenda mal — trabalho duro e uma renda estável são importantes. Você precisa pagar as contas, comprar comida e manter um teto sobre a cabeça. Mas a ideia de que você precisa trabalhar cinco dias por semana, 40 horas por semana, só para sobreviver? Isso é um mito — e um mito limitante.
Antes de vendermos nossa clínica, fizemos uma pequena experiência: reduzimos o trabalho para apenas três dias por semana para termos tempo de planejar nossos próximos passos. Em poucas semanas, percebemos algo importante: estávamos mais felizes. Tínhamos tempo para fazer as coisas que sempre adiávamos. Cozinhamos, nos exercitamos, encontramos amigos, fizemos recados sem estresse e ainda ganhamos o suficiente para suprir nossas necessidades. Nossa vida não desmoronou. Na verdade, começou a parecer nossa.
Então, viajando por diferentes países, começamos a ver essa ideia se concretizar em todos os lugares. Um momento que ficou na nossa memória foi quando viajamos pela Sicília . Entramos em um restaurante por volta das 14h, apenas para ouvir do dono que eles estavam fechados naquele dia — eles já tinham feito o suficiente e estavam aproveitando o tempo.
No início, ficamos chocados. Na América do Norte, nunca se recusa um cliente pagante. Mas então nos demos conta: eles estavam preferindo a satisfação do cliente à correria sem fim. Eles já estavam fartos, e isso era o suficiente. Vimos a mesma coisa novamente durante uma viagem de carro pela Grécia : empresas fechando cedo, pessoas priorizando almoços tranquilos e tempo em família em vez de tentar lucrar mais.
E foi aí que a ficha caiu:
A rotina não é obrigatória — é apenas o roteiro que fomos ensinados a seguir... e nunca pensamos em questionar.

No Brasil, compartilhamos nossa história com uma família local, sobre como vendemos tudo e agora viajamos o mundo com apenas duas mochilas. A reação deles? Descrença total: "Espera aí... é só isso que você tem?"
E sim — é isso. Só duas mochilas, e nunca nos sentimos tão livres.
Na América do Norte, a vida era um ciclo constante de comprar a próxima coisa brilhante — o carro mais novo, uma TV maior, uma roupa mais moderna, o sofá novo, mesmo já tendo um. Mas agora que nos desfizemos de tudo, percebemos algo surpreendente: nunca sentimos falta de nada disso. Nunca olhamos para trás e pensamos: "Quem me dera ainda ter aquela bolsa ou aquele gadget". A alegria das coisas materiais desaparece rapidamente. Dura alguns dias, talvez semanas, enquanto ainda é nova.
Mas a alegria das experiências? Elas ficam com você para sempre. Mergulhar em um onsen particular com vista para o Monte Fuji durante nossa viagem de carro por pequenas cidades costeiras de ryokan no Japão ? Essa lembrança sempre nos trará sorrisos.
Há até momentos de viagens que fizemos há mais de uma década que ainda nos inundam de felicidade. Algo que um sofá jamais conseguiria fazer.
Você provavelmente já ouviu o ditado: "Gaste com experiências, não com coisas". Depois de 1,5 ano vivendo isso, podemos garantir que é a mais pura verdade. A felicidade não vem do que você possui. Ela vem do que você vive.

Dois anos atrás, tínhamos tudo o que nos diziam que queríamos — um negócio de sucesso, um carro e um apartamento confortável. Mas começamos a perceber que nossa vida confortável havia se transformado silenciosamente em complacência. Estávamos tão acomodados que paramos de tentar coisas novas. Aquela faísca? Estava desaparecendo.
Parece familiar? Talvez você tenha um amigo que pula todos os compromissos sociais, evita aulas de dança ou ginástica e trata qualquer coisa depois das 21h como se fosse meia-noite. Éramos nós. Presos em uma bolha aconchegante.
Mas neste último ano? Vivemos quase que completamente fora da nossa zona de conforto. Tropeçamos em línguas estrangeiras, fizemos trilhas brutais de vários dias, dançamos na frente de estranhos e tivemos conversas que nunca imaginamos que teríamos coragem suficiente para iniciar.
E algo incrível aconteceu: crescemos. Em confiança, em coragem, em curiosidade...
O crescimento não vem de rotinas ou conforto. Vem de se desafiar. E isso não só o tornará uma pessoa mais completa, como também imensamente mais feliz.

Para encerrar, aqui vai uma última lição que parece mais importante agora do que nunca: a verdadeira magia da vida está na conexão humana. E, no mundo de hoje, é algo que estamos perdendo.
Em casa, a vida se tornou muito isolada. Todos estavam ocupados, grudados às suas rotinas (ou aos seus celulares), e encontros espontâneos pareciam raros. Nas palavras de Esther Perel, a sociedade está sofrendo de "atrofia social".
Mas, no último ano, reacendemos essa chama. Conhecemos estranhos de todos os cantos do mundo, não por meio de planos ou aplicativos, mas por meio de momentos genuínos e inesperados.
Como duas garotas indianas-britânicas, nos conhecemos num terraço em Arequipa, simplesmente porque nos oferecemos para tirar uma foto delas. Esse pequeno gesto levou a uma adorável conversa de três horas sobre a vida, cultura e sonhos, sem sequer pegarmos nossos celulares.
Isso nos lembrou de algo poderoso: a conexão humana é importante, reserve um tempo para ela. Desligue o telefone, aceite o almoço, ligue para o seu amigo e deixe-se surpreender pelas novas conexões incríveis que você cria.

Nós nos afastamos da vida que nos disseram que deveríamos querer e saímos com uma compreensão mais profunda de nós mesmos e do que realmente importa.
Se há uma coisa que aprendemos, é esta: a realização não vem de cumprir os padrões da sociedade. Ela vem de experiências significativas, crescimento pessoal, conexão e da escolha de viver intencionalmente em vez de no piloto automático.
Você não precisa vender tudo e viajar o mundo. Mas você tem a obrigação de questionar o roteiro e escrever o seu próprio.

wanderwithalex