Onde eles estão?

Mobilização após mobilização, as reivindicações pelo desaparecimento de pessoas em nosso país continuam nos lembrando diariamente dessa dolorosa realidade, que nos leva aos piores reinos do horror e da atrocidade humana. Passamos muitos anos tentando aceitar o que está acontecendo conosco, e não temos estado à altura da tarefa, nem como sociedade, nem como Estado que garante e protege a vida de seus cidadãos. Os números são apenas um vislumbre de um inferno que, se o explorássemos com cuidado e com os ouvidos abertos, nos deixaria sem fôlego. A dimensão do problema dos desaparecimentos forçados em nosso país está além de qualquer adjetivo que tente descrevê-lo.
Mais de 121.651 pessoas aguardam serem encontradas por suas famílias, o que deve ser reconhecido como uma crise humanitária. (Registro de Pessoas Desaparecidas e Não Encontradas, 2025).
Eles não voltaram para suas casas, não conseguem encontrá-los, ninguém os viu, e o pior é que não sabem se estão sofrendo, se ainda estão vivos, se estão presos, sendo torturados ou enterrados em uma cova. Os dias passam e, embora haja reuniões com o Ministério do Interior — pelo menos seis reuniões com alguns grupos de busca do país —, o tempo está se esgotando, e isso é algo que não parece preocupar muito as autoridades. Ninguém se opõe ao fato de que é necessário repensar uma estratégia de busca e conciliar uma reforma nas leis para enfrentar o problema, mas a cada seis anos — se o problema não for ignorado — reinicia-se um processo que, neste momento, não deveria ter ainda tantas deficiências e vulnerabilidades, tanto nas medidas de prevenção, acompanhamento, gestão jurídica e operações de campo, para garantir não só que o fenômeno dos desaparecimentos não continue a se reproduzir, mas também para enfrentar as emergências históricas e atuais que vivemos em termos de reconhecimento de corpos e apoio às famílias. O desafio é harmonizar recursos e capacidades; desenvolver uma coordenação genuína entre os três níveis de governo e, acima de tudo, incluir os membros desses grupos na formulação de processos dentro das instituições é uma prioridade.
Assim, enquanto as reuniões acontecem, outro horror vai sendo revelado, e ele se baseia no relatório da Universidade de Guadalajara, divulgado há poucos dias, sobre a crise de desaparecimentos de jovens entre 15 e 19 anos no estado. Assim, o fenômeno do desaparecimento forçado está passando por transformações drásticas. De um ano para o outro, os alvos se tornaram homens e mulheres jovens, que em muitos casos podem estar sendo recrutados por meio de fraude para trabalhar para o crime organizado. Assim, o Mecanismo Estratégico de Recrutamento de Crianças e Adolescentes por Grupos Criminosos e Crime Organizado, do Ministério do Interior, informou que o maior número de casos de recrutamento por organizações criminosas foi detectado na Baixa Califórnia, Colima, Chihuahua, Cidade do México e no Estado do México.
Assim, o desaparecimento de menores se soma a esse inferno onde, segundo informações do Registro de Pessoas Desaparecidas e Não Localizadas (RNPDNO), estimava-se que até 25 de março deste ano, aproximadamente 28 pessoas entre 0 e 17 anos eram dadas como desaparecidas por dia no país durante 2024. Assim, desde que se mantém o registro, dos 112.579 menores dados como desaparecidos, aproximadamente 17.349 ainda não foram localizados até março deste ano e, infelizmente, 1.054 menores foram encontrados mortos. Essa é a realidade em que vivemos e, se não começarmos a expressar indignação, cooperar e exigir mais de nossas próprias trincheiras, a monstruosidade continuará a se reproduzir. Vamos unir forças, cooperar mais como comunidade, apoiar-nos mais, construir alternativas de prevenção e apoio... Vamos ser mais solidários porque o que acontece com alguns, acontece com todos!
Eleconomista