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Witold M. Orłowski: As notícias sobre a morte do Ocidente são um tanto exageradas

Witold M. Orłowski: As notícias sobre a morte do Ocidente são um tanto exageradas

As economias dos países ocidentais estão à beira da morte, explicou Putin aos participantes do Fórum Econômico Eurasiático em Minsk. Eles continuam nos enterrando, e eles próprios morrerão em breve, acrescentou. O ditador russo não mediu palavras, apoiando sua tese com números específicos. No ano passado, o PIB da Rússia cresceu 4,3%, enquanto o da zona do euro cresceu apenas 0,9%. Precisamos de mais evidências do triunfo iminente da Rússia, que caminha rapidamente para o papel de superpotência econômica?

A situação é um pouco mais complicada. Primeiro, é um fato bem conhecido em economia que os países mais ricos se desenvolvem a um ritmo mais lento do que os países mais pobres – desde que, é claro, esses países sejam bem administrados. O nível de desenvolvimento da zona do euro, medido pelo PIB per capita, é (dependendo do método de medição) 50% a 200% superior ao da Rússia, portanto, a menor taxa de crescimento não é tão surpreendente.

Mas quatro vezes menor? De fato, isso não parece muito bom para o Ocidente, e especialmente para a Europa. O problema, porém, é que, ao analisar o desenvolvimento dos países, não consideramos a taxa de crescimento do PIB alcançada em um ano, mas sim em um horizonte um pouco mais longo. Se, por exemplo, observarmos a taxa média de desenvolvimento da Rússia nos últimos dez anos, verifica-se que foi de 1,5% ao ano... e inferior à taxa de 1,6% registrada na zona do euro enterrada por Putin, aos 2,1% em toda a União Europeia e aos 2,7% nos EUA. Se o Ocidente está realmente "morrendo", o que se pode dizer da economia russa?

Isso é calúnia, Putin provavelmente ficará indignado. A Rússia pertence ao grupo das quatro grandes economias em desenvolvimento, outrora batizado de BRIC. E a taxa média de desenvolvimento do grupo BRIC chegou a 5,7% ao ano na última década! Bem, sim, mas o grupo deve esse resultado à China e à Índia, que cresceram a uma taxa superior a 6%. E se quisermos falar sobre a participação da Rússia no sucesso do BRIC, devemos lembrar que a economia chinesa representa quase 70% de todo o grupo, e a economia russa, apenas 8%. Como aquele cavalo e a mosca que se senta em suas costas e afirma que puxam a carroça juntos.

Nada demais, consolou Putin a plateia reunida em Minsk. Os preços do petróleo de fato caíram um pouco, mas se algo mais acontecer no Oriente Médio... Sem dúvida, mas após o colapso do regime aliado na Síria e a subjugação do Irã pela força aérea israelense, o presidente russo tem cada vez menos ferramentas com as quais poderia fazer "algo acontecer no Oriente Médio". E em troca, ele tem uma economia obsoleta e tecnologicamente atrasada, com capital roubado por oligarcas, cujo desenvolvimento depende da exportação de matérias-primas. Segundo especialistas da Universidade de Harvard, em termos de diversidade e avanço da economia (medidos pelo chamado Índice de Complexidade Econômica), a Rússia está atualmente em centésimo lugar no mundo, logo atrás do Paquistão e à frente do Senegal.

A disputa de Putin com o Ocidente sobre quem "morrerá" primeiro lembra a famosa disputa de Friedrich Nietzsche com Deus. "Deus está morto", declarou o filósofo alemão, referindo-se ao abandono da fé e da moralidade sancionadas pelos mandamentos divinos pela sociedade contemporânea. Mas quando ele próprio morreu, logo surgiu uma piada comparando as duas lápides. "1883. Deus está morto. Nietzsche." E, por outro lado: "1900. Nietzsche está morto. Deus."

RP

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