Pesquisadores: Nova plataforma para ajudar a apoiar a saúde mental de migrantes e refugiados na UE

Migrantes e refugiados enfrentam muitos problemas de saúde mental, e a barreira linguística dificulta que eles encontrem ajuda, enfatizam pesquisadores da Universidade de Varsóvia, que cocriaram uma plataforma internacional para apoiar a saúde mental de migrantes e refugiados na UE.
A versão polaca da plataforma MentalHealth4All (www.mentalhealth4all.eu/pl) foi desenvolvida por uma equipa de investigadores do Instituto de Linguística Aplicada da Universidade de Varsóvia: Prof. Czarnocka-Gołębiewska. A ferramenta, que visa prestar apoio em saúde mental a refugiados e migrantes, está atualmente disponível em 15 idiomas.
"Como parte do projeto, nossa equipe realizou inúmeras entrevistas com refugiados e migrantes, bem como com assistentes sociais, mediadores culturais, tradutores, psicólogos e psiquiatras. Isso nos permitiu identificar necessidades, barreiras e estratégias de comunicação no acesso a cuidados de saúde mental", disse à PAP a Professora Łucja Biel, que liderou o projeto. Com base nisso, foram desenvolvidos materiais informativos multilíngues e vídeos educativos. Especialistas e migrantes cocriaram a plataforma e avaliaram sua funcionalidade.
"Migrantes e refugiados enfrentam inúmeros problemas de saúde mental. Estes decorrem de experiências traumáticas em seus próprios países – como guerras ou outras crises, violência sexual e dificuldades econômicas. Portanto, esses indivíduos podem sofrer de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão e transtornos de ansiedade", disse a Dra. Aleksandra Kalata-Zawłocka à PAP.
Ela acrescentou que a jornada migratória em si pode ser traumática. "As pessoas que a seguem enfrentam violência e situações de risco de vida. Ser enviado de volta para outro país, ou o chamado pushback, também é uma fonte de enorme estresse. Medo pela própria sobrevivência e pela de seus entes queridos, pela própria existência", disse a cientista.
Migrantes e refugiados também enfrentam muitas dificuldades no país de chegada: desconhecem o idioma ou a cultura, carecem de emprego e recursos financeiros, temem não conseguir lidar com a situação e não sabem a quem recorrer para obter ajuda. Isso pode agravar ou desencadear problemas psicológicos. "Nossas entrevistas revelaram que um grande problema é a falta de estabilidade e a incerteza quanto ao futuro, por exemplo, quanto tempo essa situação durará e quando será possível retornar ao país", explicou o professor Biel.
A Dra. Kalata-Zawłocka enfatizou que um obstáculo significativo à busca por cuidados de saúde mental é que os refugiados normalmente não têm acesso a eles em sua língua nativa. "A barreira de comunicação é enorme", observou. Além disso, eles não sabem como funciona o sistema de saúde em um determinado país. Por exemplo, na Polônia, temos dificuldade para conseguir uma consulta com um psiquiatra — a espera por uma consulta financiada pelo Fundo Nacional de Saúde é muito longa, explicou ela.
Segundo a especialista, buscar ajuda de um terapeuta ou psiquiatra costuma ser acompanhado de vergonha e medo de que alguém da comunidade descubra, o que pode ser contrário às normas culturais de um determinado país. "A presença de um intérprete muitas vezes levanta preocupações de que essas informações possam vazar. É daí que vem o preconceito contra intérpretes", disse a Dra. Kalata-Zawłocka.
Como acrescentou a professora Łucja Biel, as mulheres migrantes e refugiadas, que constituíam a maioria do grupo pesquisado, temem que, em caso de divórcio, seus maridos se aproveitem do fato de elas terem passado por tratamento psiquiátrico.
O projeto MHealth4All foi criado para aliviar o problema do acesso à informação e facilitar o acesso de migrantes e refugiados aos serviços de saúde mental. A plataforma também visa apoiar aqueles que interagem com eles – profissionais de saúde, bem como representantes de instituições e organizações que atendem migrantes e refugiados. Contém materiais informativos acessíveis sobre saúde mental, sistemas de saúde e centros de apoio à saúde mental em vários países europeus.
"A plataforma mostra, por exemplo, como reconhecer inicialmente um problema de saúde mental. Isso é importante porque nem todos percebem que têm um problema", disse a Dra. Kalata-Zawłocka.
A ferramenta foi desenvolvida como parte de um projeto de três anos (intitulado: MHealth4All: Desenvolvimento e implementação de uma plataforma digital para a promoção do acesso a cuidados de saúde mental para nacionais de países terceiros com baixo nível de proficiência linguística na Europa), cofinanciado pelo Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração (FAMI) da UE. Participaram treze parceiros de nove países, incluindo universidades e organizações não governamentais, e a equipe incluiu especialistas em comunicação intercultural, interpretação, psicologia clínica e social, psiquiatria e apoio a migrantes.
A plataforma fornece informações em 15 idiomas: turco, ucraniano, lituano, polonês, russo, holandês, italiano, alemão, francês, espanhol, esloveno, chinês, persa, árabe e inglês.
Há também um mapa de centros que prestam assistência.
Joanna Morga (PAP)
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