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"Construção, Desconstrução, Reconstrução": fotografia modernista brasileira é protagonista em Arles

"Construção, Desconstrução, Reconstrução": fotografia modernista brasileira é protagonista em Arles

Uma ambiciosa exposição nos Encontros de Arles, na França, um dos principais festivais de fotografia do mundo, traz um olhar inédito sobre a fotografia modernista brasileira, com o título de "Construção, Desconstrução e Reconstrução (1939-1964)" e curadoria de Heloise Costa e Marcela Marer.

Paralelas e diagonais, 1950.
Foto: © José Yalenti / RFI

Patrícia Moribe, enviada especial a Arles

A mostra é destaque na mídia francesa e internacional. Muitos visitantes admitem que não conheciam a riqueza desse período, um olhar urbano correndo em paralelo com a metrópole paulista, visionária, de muito concreto. Uma aula de história e análise diante de 200 imagens vindas de quatro países e reunidas para esse inventário exposto na Mécanique Génerale, na Fundação Luma.

O título da exposição, "Construção, Desconstrução, Reconstrução", foi inspirado na poesia concreta brasileira, contemporânea à produção dos fotógrafos em destaque. Ele se desdobra em três conceitos curatoriais que organizam a mostra em três salas distintas.

"O primeiro circuito é construído em torno de uma certa modernidade, traçando um paralelo com a arquitetura que edifica e uma fotografia que busca vislumbrar um futuro promissor", explica Heloise Costa, docente e conservadora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), que estuda o período há muitos anos.

A parte da desconstrução revela os bastidores da ideia de progresso, expondo as pessoas que, embora construíssem a cidade, estavam alheias aos benefícios dessa modernização. Já a reconstrução são as tentativas de experimentação, explorando novas formas e possibilidades visuais.

Esforço curatorial de grande porte

"É realmente uma exposição de caráter museológico e que envolveu uma pesquisa de 15 meses nossa e de muitos anos da Heloise", relata Marcela Marer, curadora e pesquisadora, atualmente realizando um doutorado na Universidade de Zurique, na Suíça. "Não é simples você adentrar na obra de cada fotógrafo e depois procurar onde estão essas obras que a gente selecionou previamente, encontrar onde elas estão, quais são as coleções que elas fazem parte e, efetivamente, trazê-las para cá", acrescenta.

Costa e Marer recorreram frequentemente às famílias dos fotógrafos, encontrando negativos que foram escaneados e impressos novamente, além de muitas fotos de época que estavam em posse dessas famílias e de diversas instituições.

Pioneirismo do Foto Cine Clube Bandeirante

Os conceitos da exposição desvendam as especificidades da experiência modernista do Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB), seus paradoxos e seu papel crucial na rede internacional de fotoclubes, ao mesmo tempo em que promovem uma reflexão crítica sobre o imaginário do Brasil moderno e as contradições de seu projeto de sociedade.

A exposição utiliza a produção do FCCB como um prisma para explorar a fotografia modernista brasileira. Fundado em 1939 por um grupo de fotógrafos amadores no centro de São Paulo, o clube adotou inicialmente o pictorialismo. No entanto, acompanhando o crescimento e a verticalização da cidade, sua fotografia evoluiu, tornando-se cada vez mais moderna e inspirada nas vanguardas internacionais.

A partir de 1945, nomes como Geraldo de Barros, German Lorca e Thomaz Farkas romperam com o pictorialismo, iniciando uma experimentação de caráter moderno que, a partir dos anos 50, seria reconhecida como a Escola Paulista de Fotografia. Essa escola, embora bem estabelecida na América Latina, é ainda pouco conhecida internacionalmente, e a exposição busca trazer esse esclarecimento inédito, redefinindo os contornos da história da fotografia moderna.

Destaques e desafios da mulher na fotografia

A exposição apresenta obras de trinta e três fotógrafos, incluindo importantes nomes do FCCB como Geraldo de Barros, German Lorca, Thomaz Farkas, José Oiticica Filho e Marcel Giró. Além disso, explora diálogos visuais com artistas precursores da arte neoconcreta brasileira, como Lygia Clark, Lygia Pape e Hélio Oiticica.

A participação feminina, embora não seja majoritária, é forte. Marcela Marer explica que, na época, as mulheres enfrentavam restrições significativas para fotografar em espaços públicos, necessitando de autorização do pai ou do marido. Apesar disso, muitas se associaram ao clube, frequentemente como esposas de fotógrafos, e começaram a fotografar, algumas atuando como assistentes de seus maridos. Nomes como Dulce Carneiro, Gertrudes Altschul e Palmira Giró se destacaram com uma produção consistente nesse período.

RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.

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