Candidatura do aspirante Geoparque Algarvensis entra na reta final

Kristin Rangnes, da Noruega, e o geólogo Christophe Lansigu, de França, estiveram esta semana nos concelhos de Loulé, Silves e Albufeira, para avaliar o cumprimento dos critérios exigidos pela UNESCO [Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura] pela candidatura algarvia.
«Esta é a nossa primeira vez neste território. É sempre bom visitar novos locais, sobretudo quando estão nesta fase do processo, um pouco nervosos, mas também muito entusiasmados por mostrar tudo. Creio que a nossa primeira impressão é que existe aqui muita história — natural e cultural — e isso é muito impressionante. Para nós, que também vimos de um geoparque, procuramos sempre a capacidade humana de servir de ponte entre o ser humano e a natureza. E vimos muitos bons exemplos. Conhecer a população local é outra parte muito, muito importante da missão», afirmou Kristin Rangnes aos jornalistas, ontem, em Silves.
Numa tarde quente e soalheira, a missão dos avaliadores culminou com a abertura do Infocenter do Geoparque Algarvensis naquela cidade, o segundo centro interpretativo disponível ao público, depois do de Loulé.
Vinda da Escandinávia, Rangnes não escondeu o gosto pelo clima mediterrânico e como ficou impressionada pelas paisagens naturais e humanas do Algarve. «É justo dizer que estamos agradavelmente surpreendidos. Foi bom ver a riqueza do interior. Esperamos realmente que o geoparque possa ajudar a levar quem gosta de praia e de golfe a explorar mais outras zonas. Há património geológico no interior, mas também ao longo da costa. O mais importante é transformar o conhecimento científico em algo que seja também um ativo turístico. E acho que aqui conseguiram começar esse percurso e contar uma história muito interessante sobre a região», opiniou.
Os avaliadores irão agora elaborar um relatório para o Secretariado do Conselho Mundial de Geoparques da UNESCO [UNESCO Global Geopark council]. Apesar de não terem poder decisório, as recomendações que fizerem ao júri serão fundamentais para o desfecho.
«Dizemos sempre que é muito importante lembrar que um geoparque não é algo terminado. Está sempre em evolução. Todos os relatórios trarão também algumas recomendações para o trabalho futuro — o que é positivo. Vamos trabalhar nisso e relatar o que vimos e como achamos que está a funcionar. Vamos dar o nosso melhor», prometeu Rangnes, diretora-geral do Geoparque Mundial da UNESCO Gea Norvegica, na Noruega.
A candidatura algarvia poderá vir a ser aceite, rejeitada ou devolvida para reformulação, embora, haja sempre a possibilidade para uma segunda oportunidade.
Rosa Palma, presidente da direção da Associação Geoparque Algarvensis, recorda que o trabalho começou em 2018, quando os municípios de Loulé, Silves e Albufeira começaram a trabalhar numa candidatura que combina a ciência — geologia, paleontologia, biologia e arqueologia — com a integração das comunidades locais.
Referiu ainda que durante esta visita foram apresentadas aos avaliadores três rotas: «Melodia da Água»; «Do Mar à Rocha Vermelha» e «Pegadas Ancestrais». O objetivo foi mostrar, «com sentido crítico», uma amostra do potencial dos três concelhos que poderá vir a merecer o reconhecimento internacional.
«Todos os geoparques têm uma essência muito forte. Não são comparáveis entre si, porque cada um tem o seu valor intrínseco, e o reconhecimento da UNESCO reforça isso. O Algarve já é uma referência, mas precisávamos de uma identidade diferente. Queremos que os turistas, sobretudo os que já nos visitam de forma contínua e não apenas no verão, possam ter experiências diferenciadoras que deixem nos visitantes um sentimento de pertença e a vontade de regressar», sublinhou.
Rosa Palma disse ainda que num «território muito vasto, com mais de 2000 quilómetros quadrados, isto só é possível com o envolvimento das entidades locais, das juntas de freguesia, dos parceiros presentes nos diferentes locais, que partilham a mesma filosofia e valorizam os produtos endémicos e as tradições».
Para já, falta apenas abrir o centro interpretativo de Albufeira, que ficará instalado no antigo Mercado Municipal, na baixa da cidade, embora a responsável não tenha avançado com datas.
Os resultados da candidatura serão conhecidos após deliberação do Conselho da Rede Mundial de Geoparques, na 11.ª Conferência Internacional de Geoparques, que irá decorrer no início de setembro de 2025, no Chile.
A visita de trabalho de Kristin Rangnes e Christophe Lansigu teve lugar de 2 a 5 de julho.
Barlavento