Selecione o idioma

Portuguese

Down Icon

Selecione o país

Portugal

Down Icon

Autárquicas: A história de como Montenegro impôs um nome em Espinho

Autárquicas: A história de como Montenegro impôs um nome em Espinho

A nova sede da concelhia do PSD em Espinho fica a uns 150 metros da casa de Luís Montenegro. Apesar disso e dos vários convites que lhe chegaram desde que é líder do partido, Montenegro nunca lá pôs os pés. Na verdade, o líder social-democrata quer distância de Ricardo Bastos Sousa, que lidera a estrutura local do seu partido em Espinho e com o qual tem uma inimizade política há muitos anos, que esta semana conheceu novos desenvolvimentos, com a sua Comissão Política Nacional a avocar o processo autárquico na cidade.

A decisão de lançar a candidatura de Jorge Ratola foi mesmo descrita por Ricardo Bastos Sousa como “um ajuste de contas pessoal”, feito por Luís Montenegro. Ratola, que até aqui era adjunto do primeiro-ministro e cuja ligação a Espinho se resume a ter sido chefe de gabinete de Pinto Moreira no seu primeiro mandato, foi anunciado como candidato do PSD à Câmara, esta terça-feira, depois de, durante meses, a concelhia local insistir no nome de Bastos Sousa.

Ricardo Sousa Bastos tinha sido escolhido em novembro, pela concelhia a que preside e à qual se candidatou, deixando claro que o objetivo seria ser candidato à Câmara.

Uma inimizade antiga

Desde 2001 que Ricardo Bastos Sousa e Luís Montenegro estão em barricadas opostas na política dentro do PSD. Bastos Sousa esteve, por exemplo, ao lado de Rui Rio e de Jorge Moreira da Silva, quando Montenegro se candidatou à liderança. Curiosamente, Moreira da Silva haveria de ter nessas eleições diretas um resultado melhor em Espinho do que teve na média nacional.

Com estes antecedentes, e depois de ter sido retirado das listas de deputados por Luís Montenegro, não era surpreendente a oposição da direção nacional do partido à ideia de ter Ricardo Bastos Sousa como candidato autárquico.

No dia 28 de fevereiro, o coordenador autárquico do PSD, Pedro Alves, foi mesmo a Espinho explicar as razões para isso. Invocando uma sondagem interna, Alves assegurou que Bastos Sousa não seria um candidato ganhador e questionou a forma como a concelhia de Espinho decidiu o seu nome sem esperar pelas orientações nacionais, anunciando-o publicamente sem se concertar com a direção do partido, coisa que no passado valeu várias vezes o afastamento de candidatos autárquicos.

O plenário tinha cerca de 100 militantes presentes e o nome de Ricardo Bastos Sousa voltou a ser indicado com 61 votos a favor, nove abstenções e nenhum voto contra. Mas esse não seria o fim da história.

O nome foi rejeitado numa reunião da comissão política distrital (só Ricardo Sousa Bastos votou em si) e o processo avocado pela nacional, que haveria de impor o nome de Jorge Ratola.

“O que aconteceu aqui então? O que aconteceu é que o partido foi utilizado pelo seu presidente para um ajuste de contas pessoal que me visa diretamente e tem como único propósito a minha eliminação política”, denunciou Ricardo Bastos Sousa, numa conferência de imprensa, esta terça-feira.

“Acenaram com uma suposta sondagem realizada em outubro de 2024, e à qual nunca nos deram acesso. De ressalvar que o nome agora escolhido não figurava na suposta sondagem, não tendo por isso este argumento qualquer credibilidade ou sustentação. E permitam que vos diga: se as sondagens alguma vez tivessem sido argumento para afastar um candidato, Luís Montenegro nunca teria sido candidato à Camara de Espinho por duas vezes”, atacou o líder do PSD Espinho, recuando ao ano de 2001, quando a candidatura do então muito jovem Montenegro dividiu o partido na cidade e os colocou pela primeira vez em barricadas opostas.

Direção garante que não atropelou estatutos

“A concelhia agiu à revelia das orientações da direção nacional. Escolheu e tornou público o nome sem estar aprovada a orientação estratégica nacional”, comenta à VISÃO uma fonte próxima de Luís Montenegro que considera que “o processo nasce desde logo inquinado por parte da comisso política de secção que quis acelerar a escolha sem se perceber porquê”.

De resto, a mesma fonte recusa que tenha havido qualquer atropelo aos estatutos do partido e frisa que perante o “impasse” que pressupunha a concelhia insistir no nome que a direção do partido rejeitava, foi tomada uma decisão, com um convite a Jorge Ratola, que terá aceitado depois de várias outras personalidades se terem mostrado indisponíveis.

IL diz que “Espinho não se pode conformar em ser um joguete”

Com a presidente da Câmara de Espinho atualmente em funções a ponderar uma candidatura independente contra o nome indicado pelo seu partido, o PS, o PSD sonhava com a reconquista da Câmara, apesar do estrago feito pelas suspeitas levantadas pela Operação Vórtex, na qual é arguido Pinto Moreira, que chegou a ser muito próximo de Montenegro.

Tentando aproveitar a divisão no PS, Ricardo Bastos Sousa tinha começado a falar com o CDS. E, não tendo a IL ainda apresentado candidato, tinha a expectativa de poder ainda fazer um acordo com os liberais. Mas a intervenção de Montenegro fez os centristas baterem com a porta e reavivou o fantasma da Operação Vórtex, precipitando uma tomada de posição pública da IL local, muito crítica de todo o processo.

“Perante o estado calamitoso em que se encontra a cidade e a sua gestão camarária, perante os enormes danos de reputação que a imagem de Espinho sofreu pelas governações dos últimos anos de PS e PSD, Luís Montenegro escolhe um assessor dos gabinetes do partido. Não está seguramente preocupado com a cidade e com os espinhenses, está preocupado com os seus interesses e casos pessoais”, lê-se num comunicado da IL de Espinho, que fala mesmo numa “infantilidade” e defende que “Espinho não se pode conformar em ser um joguete nas mãos dos interesses político-partidários, com concelhias em guerra e maus políticos que colocam as suas questões pessoais acima da cidade”.

À VISÃO, o líder da IL de Espinho, Ricardo Pais Oliveira, garante que “nunca houve nenhum acordo” com o PSD, mas admite que esteve à espera da clarificação da situação para assumir que os liberais teriam um candidato próprio.

“Face a este desrespeito pelo princípio da autonomia local e pela vontade expressa das estruturas concelhias, o CDS Espinho reafirma a sua determinação em continuar a lutar pelos interesses da nossa terra. Por isso, apresentaremos uma candidatura às próximas eleições autárquicas, movidos pela vontade clara de resolver os problemas de Espinho e de responder às necessidades reais da nossa comunidade”, lê-se num comunicado do CDS local, que acaba com um “abraço solidário ao Ricardo Bastos Sousa, presidente concelhio do PSD Espinho, reconhecendo o seu esforço, dedicação e espírito de diálogo ao longo deste processo”.

Notícia corrigida às 18h25: com a informação de que a IL nunca chegou a ter um acordo de coligação com o PSD em Espinho

Visao

Visao

Notícias semelhantes

Todas as notícias
Animated ArrowAnimated ArrowAnimated Arrow