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Entrevista  – António José Soares Coelho da Cunha – Cônsul-Honorário da República de Angola em Portugal

Entrevista  – António José Soares Coelho da Cunha – Cônsul-Honorário da República de Angola em Portugal

“Com este Consulado podemos contribuir para estabelecer um polo de diplomacia económica, política e cultural que vai dinamizar a sociedade civil e empresarial do distrito da Guarda

António José Soares Coelho da Cunha, Cônsul-Honorário da República de Angola em Portugal, é natural deCaíde de Rei, Lousada. Estudou na Escola Industrial Infante Dom Henrique, Porto.Nos tempos livres gosta de passar tempo com os netos, passear e namorar com a mulher, comer e beber com os meus amigos

A GUARDA: O que levou a República de Angola a abrir um Consulado naGuarda?

António Cunha: A abertura das instalações do Consulado-Honorário de Angola na Guarda vem na sequência da missão que me foi atribuída pelo Estado angolano para fomentar o reforço das relações bilaterais entre os cidadãos dos dois países com foco nos distritos de Vila Real, Bragança, Viseu e Guarda. Esta relação estende-se pelas mais variadas áreas e pretende aumentar o intercâmbio ao nível da economia, da educação, da cultura, da transmissão de conhecimentos técnicos e tecnológicos. Estabelecemos a sede em Vila Real, mas sempre com o intuito de ter delegações funcionais nas cidades-sedes dos outros distritos abrangidos pelo Consulado-Honorário. Agora chegou a vez da Guarda e é com muito gosto que inaugurámos estas instalações.

A GUARDA: De que maneira é que este acontecimento marca uma nova etapana representação diplomática de Angola na cidade da Guarda?

António Cunha: Sendo uma cidade do interior, a Guarda sofre do problema da desertificação, do abandono da população jovem e das consequências que isso traz para a vitalidade de toda a região. Este é, aliás, um problema de todos os distritos do interior português, mas consideramos que com este Consulado podemos contribuir para estabelecer um polo de diplomacia económica, política e cultural que vai dinamizar a sociedade civil e empresarial do distrito da Guarda e trazer até aqui investidores angolanos que, estou certo, quererão aproveitar as potencialidades nos mais variados setores neste distrito.

A GUARDA: Podemos dizer que a abertura do Consulado é mais uma forma de aproximar os povos de Portugal e Angola?

António Cunha: Sem falsas modéstias acho que sim. O Cônsul-Honorário tem o papel de constituir-se como um elo de ligação entre os dois povos, as duas sociedades. Quero trazer investidores angolanos ao distrito da Guarda, mas também quero levar comitivas empresariais portuguesas a Angola. Há todo um mundo de oportunidades no território angolano para ser rentabilizado. E claro, queremos que os estudantes angolanos adquiram conhecimentos que os qualifiquem de forma a que possam transmitir conhecimentos aos seus conterrâneos de forma a que tenhamos em Angola uma sociedade cada vez mais evoluída e preparada para a modernidade.A GUARDA: Quais os serviços que são disponibilizados pelo ConsuladoHonorário da República de Angola na Guarda?

António Cunha: Normalmente o Consulado-Honorário não tem poderes administrativos e este também não foge à regra. Contudo, conseguimos através da cooperação com o Consulado-Geral da República de Angola na Cidade do Porto, estabelecer um sistema que vai permitir que uma equipa de elementos técnicos qualificados venham com regularidade ao Consulado da Guarda para suprir as necessidades de atos administrativos de membros da comunidade angolana. E assim, a emissão ou renovação de um passaporte ou um bilhete de identidade, que obrigava o cidadão angolano a deslocar-se ao Porto, deixará de ser necessário já que esse serviço será prestado num dia fixo e num horário anunciado previamente. É um ganho muito importante para a comunidade angolana residente neste distrito. De resto, damos todo o tipo de apoio que é possível a quem nos procura consoante os problemas que nos são colocados, e encaminhamos para as entidades adequadas quando o assunto a isso obriga.

A GUARDA: Qual o número de pessoas naturais de Angola a residir naregião da Guarda?

António Cunha: A comunidade angolana costuma aglomerar-se nos centros urbanos ou perto de estabelecimentos de ensino superior ou politécnicos. Neste momento, pelos dados de que dispomos, calculamos que residam no distrito da Guarda à volta de um milhar de cidadãos angolanos.

A GUARDA: Há muitos jovens angolanos a estudar no InstitutoPolitécnico da Guarda?

António Cunha: Tendo em conta o número referido na resposta anterior pode dizer-se que sim. São cerca de trezentos alunos, ou seja, um terço dos angolanos que residem no distrito da Guarda. Os conhecimentos técnicos e tecnológicos são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade angolana. 60 por cento dos angolanos têm menos de 18 anos e vivem na era do digital pelo que o futuro passa muito por esta aquisição de conhecimentos mais técnicos que têm uma aplicação prática numa sociedade em desenvolvimento como é a angolana.

A GUARDA: No seu ponto de vista, o que leva muitos angolanos a procuraro interior de Portugal para se fixarem?António Cunha: A existência de Institutos Politécnicos e Pólos Universitários menos procurados por portugueses explica em parte esta procura. Por outro lado, o nível de vida, incluindo o preço da habitação é consideravelmente inferior nestas regiões do interior em comparação com as grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. A economia angolana e o valor das bolsas implica também uma racionalização nas escolhas. E depois, os nossos cidadãos angolanos depressa constatam que nestas cidades do interior, têm uma qualidade de vida bem superior, sem trânsito, com menos stress…

A GUARDA: De forma geral, como analisa o actual relacionamento entreAngola e Portugal?

António Cunha: A relação entre Angola e Portugal é globalmente muito boa. Hoje nem sequer existem quaisquer “irritantes” entre os dois governos, e os dois povos entendem-se de forma quase perfeita. Basta ir a Luanda e perceber como os portugueses são recebidos, como são festejados os títulos dos clubes nacionais, como são vividos os triunfos da Seleção Nacional. E com os tempos mais difíceis que a economia angolana tem passado nos últimos tempos, há muitos angolanos a procurarem oportunidades em Portugal. A facilitação de vistos entre os dois países ajudou muito ao intercâmbio e ao aprofundamento das relações. Há muitas oportunidades de negócio em Angola que tem imensos recursos naturais. Esperemos é que o contexto mundial permita que os nossos dois países possam crescer de forma a que os respetivos cidadãos tenham acesso a uma vida melhor. Esse é o anseio de todos nós, portugueses e angolanos.

Jornal A Guarda

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