Freiras que viralizaram gravam clipe e falam da fama mundial: 'Pedimos uma Ave-Maria por foto'

Havia uma festa no convento. Um dançarino de break, que se apresentou como o Mago, dava "mortais". Outro girava nas costas. Havia holofotes, um rapper, dois cinegrafistas e um Chevy rebaixado com um sistema de som no porta-malas e o grave no máximo.
No meio de tudo estavam a Irmã Marizele Rego e a Irmã Marisa Neves —as freiras brasileiras que viralizaram— e seu grupo de dançarinas de apoio com hábitos, cruzes e véus. Elas estavam gravando o videoclipe de sua nova música, "Vocação", que se tornou um sucesso desde que a primeira cantou o refrão cativante e fez beatbox enquanto a segunda dançava sincronizada em um programa de televisão católico há cerca de três semanas.
O vídeo rodou o mundo, acumulando dezenas de milhões de visualizações. Surgiram memes, imitações e apresentações em programas noturnos de televisão. No programa The View, da ABC, Whoopi Goldberg chamou as freiras de "'Mudança de Hábito' da vida real".
Agora elas estavam dublando músicas no pátio do convento, tentando estender os 15 minutos de fama com um videoclipe que lançaram na passada sexta-feira (27). Deus as fez viralizar para atrair mais jovens à igreja, disseram elas, que estavam tentando cumprir sua missão.
"Por que algo tão simples e espontâneo ganhou uma escala tão grande?", disse Rego, que já havia atraído 100 mil seguidores no Instagram antes de se tornar uma sensação global. "Porque o Espírito Santo quer tocar o coração das pessoas."
"Mas além do Espírito Santo", acrescentou, "também existe o algoritmo."
Rego, 46, e Neves, 41, fazem parte de um movimento maior da Igreja Católica para se soltar, relaxar e conversar com públicos mais jovens onde eles estão: online.
No Brasil, a maior nação católica do mundo, a igreja tem perdido fiéis há anos. Hoje, menos de 57% do país de 200 milhões de pessoas se identifica como católico, porcentual abaixo dos 83% de 30 anos atrás, segundo dados do governo divulgados este mês.
Para tentar reverter a tendência, influenciadores católicos, estrelas pop e bandas de rock estão intervindo. Alguns padres brasileiros —musculosos, bonitos e afinados— juntos atraíram milhões de seguidores no Instagram. Entre eles está o Padre Marcelo Rossi, que se tornou um dos artistas musicais mais vendidos do Brasil. Mais recentemente, DJs católicos começaram a tocar música eletrônica em eventos apelidados de "raves católicas", inclusive no Cristo Redentor, no Rio, em janeiro.
A iniciativa faz parte do movimento de renovação da religião católica e outros grupos que há décadas buscam tornar a igreja mais acessível e envolvente —e agora estão migrando para o digital. No próximo mês, o Vaticano vai apoiar novos eventos em Roma para reunir influenciadores digitais católicos e premiar músicos católicos. Alguns chamam os prêmios de "Grammy Católico".
No entanto, por alguns dias no mês passado, talvez apenas o novo papa estivesse recebendo mais atenção do que Rego e Neves.
As duas freiras são das Irmãs da Copiosa Redenção, uma congregação de 35 anos no sul do Brasil com cerca de 80 freiras e 25 irmãos religiosos que se concentra na reabilitação de jovens dependentes químicos, frequentemente usando música e arte para isso.
A Copiosa Redenção há muito tempo cultiva um ambiente relativamente descontraído e artístico. O fundador, um padre redentorista, era um pintor. Outra freira, a Irmã Inez Carvalho, teve seu próprio momento breve de fama como rapper, lançando um álbum nos anos 1990.
Este mês, um convento da Copiosa Redenção no sul do Brasil estava cheio de risadas, e grande parte delas vinha de Rego e Neves. "Você tem seguro de vida?", perguntou Rego ao assumir o volante de um carro. Quando o carro acelerou sobre uma colina —as freiras estavam atrasadas para a missa—, Neves gritou de alegria como se estivesse em uma montanha-russa.
Ambas as freiras são filhas de agricultores de milho e soja do Paraná, e ambas cresceram em casas cheias de música.
Neves disse que ela e muitos de seus 10 irmãos paravam o trabalho no campo e dançavam sempre que alguém colocava uma música. "Qualquer coisa que desse para dançar", disse ela. Depois de entrar no convento aos 23 anos, ela continuou a dançar, fazendo aulas de hip-hop e breakdance. Mais tarde, conseguiu um trabalho na televisão católica, às vezes como repórter e outras dançando no ar com os padres.
Rego diz que vem de uma família de músicos. Seu avô fazia violões e suas tias cantavam no rádio. Ela se tornou freira aos 25 anos, depois de acreditar que um milagre salvou sua mãe do câncer. Desde então passou a cantar regularmente em retiros religiosos e chegou a gravar um álbum gospel com outras freiras.
As duas freiras se conheceram em 2007, e a conexão logo ficou clara. "Se você faz qualquer ritmo, ela começa a dançar", disse Rego sobre Neves.
Rego disse que aprendeu sozinha a fazer beatbox, criando batidas para outras freiras enquanto cantavam. "Eu apenas comecei a fazer ritmos com a boca", disse ela. "Nem sabia que isso se chamava beatbox."
Mais tarde, ambas perceberam que o beatbox e a dança hip-hop eram ferramentas para se conectar com as jovens nos centros de reabilitação da Copiosa Redenção. Muitas vinham das ruas e tinham pouco em comum com as freiras. "Foi um instrumento para nos aproximarmos e quebrar barreiras", disse Rego.
Em 20 de maio, Rego e Neves participaram de um programa católico de entrevistas para promover um retiro para atrair novas freiras. No programa, Rego começou a cantar "Vocação", uma música que sua congregação havia escrito anos atrás sobre o chamado de Deus para servir. Mas ela havia adicionado um novo refrão: "Voc-a-ção, oh, ohh."
Enquanto Rego cantava, Neves disse que não conseguiu evitar dançar. Elas se levantaram de seus assentos, e Rego começou a fazer beatbox. Atrás das câmeras, o diretor do programa incentivou o diácono que as estava entrevistando a participar, segundo Neves, que podia ouvir o diretor através de um fone de ouvido. Ele rapidamente entrou no ritmo, seguindo os movimentos de Neves em sincronia.
Esse momento, cortado em um trecho de 30 segundos, foi ouro para a internet. Só no TikTok, foi visto mais de 34 milhões de vezes, de acordo com a Tubular, uma empresa de dados de mídia social. Pedidos de entrevista rapidamente chegaram de todo o mundo.
De volta ao convento, as freiras superioras viram a oportunidade. A Irmã Daniely Duarte Santos, que administra o escritório de comunicação da congregação, chamou uma colega de volta das férias, e elas começaram a postar repetidamente nas redes sociais para capitalizar a atenção. Em poucos dias, mais de 50 mulheres entraram em contato sobre se tornarem freiras; elas normalmente recrutam apenas algumas por ano.
As freiras contataram um DJ local para criar uma faixa real de "Vocação", e, entre entrevistas para a mídia, Rego gravou os vocais. A faixa resultante, com baixo e sintetizadores, é "techno-pop", disse Rego. Ela rapidamente subiu no ranking de música católica do Brasil no Spotify.
Rego e Neves fizeram o circuito de televisão, fazendo beatbox e repetindo os passos de dança em cada parada. Elas gravaram o videoclipe, dirigido por Santos, com um headset sobre seu véu. E na rua, fãs têm parado elas para selfies. "Pedimos uma Ave-Maria por foto", disse Rego.
uol