ICArEHB mostra como a medula óssea ajudou a sobreviver ao clima no Neolítico português

Um novo estudo liderado por investigadores do Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArEHB) da Universidade do Algarve (UAlg) trouxe à luz uma importante estratégia de sobrevivência adotada pelas comunidades do Neolítico Final, em Branqueiras, em resposta a condições climáticas adversas.
A investigação, publicada na revista Journal of Archaeological Science Reports, mostra que o consumo sistemático de medula óssea de mamíferos foi um recurso essencial para a subsistência humana durante um período de declínio agrícola e stress climático.
Intitulado «Intensive resource exploitation in Late Neolithic Iberia: Bone marrow and subsistence changes at Branqueiras, central-coastal Portugal», o estudo revela que a exploração de medula óssea, geralmente associada a sociedades caçadoras-recoletoras, desempenhou um papel vital mesmo em comunidades agrícolas, desafiando ideias previamente estabelecidas sobre as economias neolíticas.
Segundo Cláudia Costa, investigadora do ICArEHB, «esta prática reflete uma adaptação notável das populações neolíticas às exigências ambientais, revelando a sua engenhosidade e capacidade de resiliência».
Maria João Fernandes Martins, também investigadora do ICArEHB, reforça «a importância da interdisciplinaridade nesta investigação, cruzando conhecimentos da arqueologia, zooarqueologia, ciências ambientais e comportamento humano».
Este trabalho oferece novas perspectivas sobre como as comunidades do passado enfrentaram mudanças ambientais, fornecendo lições valiosas sobre segurança alimentar e sustentabilidade para os dias de hoje. Abre também novas possibilidades de estudo sobre estratégias de sobrevivência durante períodos de aridificação e transformação sociocultural, como os que antecederam a construção dos grandes recintos muralhados no início do Calcolítico na Estremadura portuguesa.
A investigação contou ainda com a participação do professor de Arqueologia da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS) da Universidade do Algarve e investigador do ICArEHB, António Faustino Carvalho, e com a colaboração dos arqueólogos Vera Cardoso e Guilherme Cardoso, responsáveis pelas escavações no sítio das Branqueiras, localizado em Cascais, a 2 km da costa atlântica.
O ICArEHB é um centro de investigação da Universidade do Algarve, líder na Europa, centrado na ciência arqueológica. Tem como objetivo principal compreender de forma integrada as origens e evolução do comportamento humano através de investigação centrada na interdisciplinaridade.
O estudo pode ser lido aqui.
Barlavento