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Fazemos empresas nascer… afoga-as a burcocracia

Fazemos empresas nascer… afoga-as a burcocracia

Criar uma empresa em Portugal pode demorar poucas horas. Literalmente. Com um clique, uma startup ganha NIF, CAE, e até o nome vai parar ao site do Portal da Justiça. No papel, somos um país ágil e moderno para o empreendedorismo. Mas, passada essa primeira porta de entrada, a realidade muda. A partir daí, o que era agilidade vira um labirinto — e o que era incentivo transforma-se em entrave.

É que não basta abrir empresas. É preciso deixá-las crescer. E é aqui que o sistema português continua a falhar: afogamos pequenos negócios em burocracia, carga fiscal difícil de prever e obrigações acessórias que parecem feitas para grandes grupos, não para quem está a começar com pouco capital, uma equipa curta e nenhuma margem para erros.

Trabalho diariamente com pequenas empresas e empreendedores que começam com energia, boas ideias e um modelo de negócio realista. Mas cedo percebem que vão gastar uma parte absurda do seu tempo (e dinheiro) a lidar com obrigações que pouco ou nada acrescentam à gestão do negócio. Pedem-me explicações sobre declarações que não compreendem, sobre regras que mudam a meio do jogo, sobre taxas que pagam sem saber exatamente porquê. A complexidade não protege ninguém — só alimenta a informalidade ou a desistência.

Se o objetivo do país é realmente promover o empreendedorismo, a digitalização e a inovação, então há perguntas que temos de fazer com honestidade:

Porque é que uma microempresa tem de prestar contas como se fosse uma multinacional?

Porque é que os apoios são tantas vezes pagos com meses de atraso e acompanhados de guias incompreensíveis?

Porque é que a comunicação com a Autoridade Tributária ainda depende, tantas vezes, da interpretação do técnico que nos atender no dia?

A contabilidade, quando bem usada, pode ser uma aliada poderosa para as empresas. Pode ajudar a tomar decisões, a antecipar problemas, a controlar margens e a planear o futuro. Mas não pode ser um escudo contra o sistema — nem uma ciência oculta que só os especialistas entendem.

Precisamos de simplificação real, não de mais portais e PDFs. Precisamos de diálogo entre quem cria as regras e quem está no terreno a tentar cumpri-las. E precisamos de reconhecer que apoiar os pequenos negócios não se faz com campanhas bonitas, mas com decisões concretas que facilitem a vida de quem cria emprego, valor e inovação — mesmo em pequena escala.

Fazemos nascer empresas com facilidade. Agora é tempo de aprender a não as deixar morrer de exaustão.

observador

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