Moçambique. Trânsito na N380 feito em coluna militar

A circulação na estrada Nacional 380 (N380), norte de Moçambique, está a ser feita desde terça-feira em coluna militar, face a ataques de insurgentes a automobilistas, disse à Lusa o governador da província de Cabo Delgado.
“Começou na terça-feira mesmo, logo retomamos”, explicou Valige Tauabo, garantindo que a escolta em coluna militar é diária e visa responder aos anseios dos empresários locais, sobretudo no troço da N380 entre Macomia e Awasse, alvo de ataques de grupos extremistas nas últimas semanas.
“É uma questão de segurança. Os automobilistas queriam um conforto, então é nesses termos. Achamos que se poderia restabelecer coluna ali”, acrescentou o governador de Cabo Delgado, avançando que a medida, que no contexto dos ataques de insurgentes desde 2017 naquela província já tinha sido aplicada no passado, é para manter durante o tempo necessário.
A Lusa noticiou anteriormente que um grupo de alegados terroristas atacou, em 18 de julho, uma ambulância do serviço de saúde do distrito de Mueda, norte da província de Cabo Delgado, levando medicamentos e bens dos doentes.
O ataque aconteceu no troço entre Awasse e Macomia da N380, uma das poucas vias asfaltadas do norte da província, logo depois de o motorista da ambulância avistar, na via, homens encapuzados que o obrigaram a parar.
“Ia para Pemba e aí os homens mandaram parar e obrigaram todos a descer”, disse à Lusa uma fonte que seguia na ambulância, acrescentando que a viatura foi levada para a mata e saqueada pelos atacantes, que levaram suplementos destinados a doentes, e bens dos ocupantes.
Os cinco ocupantes, incluindo o motorista, foram libertados “após pagarem 10.000 meticais [135 euros] cada um”.
“Em menos de cinco minutos, a ambulância já estava no mato. Lá levaram computador e telemóvel de uma colega e suplementos de doentes”, descreveu.
O presidente do conselho empresarial de Cabo Delgado pediu em 16 de julho a retoma de escoltas militares em alguns troços face a cobranças ilícitas feitas por supostos terroristas para circulação naquela província.
“Até neste momento estamos a contabilizar 104 viaturas [interpeladas], até no sábado [12 de julho], é um número maior, aterroriza, porque o resgate é maior, os valores ali variam de 200 a 350 mil meticais [2.691 a 4.710 euros], imagina se você não tem, a viatura vai em cinza”, disse, em declarações à comunicação social, Mamudo Irache, da Confederação das Associações Económicas — CTA, maior representante do setor privado moçambicano.
Segundo o representante provincial, a alegada cobrança de valores por supostos grupos insurgentes como condição para circular nas vias ocorre desde janeiro, no troço entre a localidade de Awasse, no distrito de Mocímboa da Praia, e no distrito de Macomia, antes palcos de sucessivos ataques de grupos extremistas.
Além da cobrança de dinheiro, Mamudo Irache alertou também para o aumento de raptos em vias que ligam os distritos mais a norte de Cabo Delgado, face à retirada de escoltas militares, uma medida que, até há pouco tempo, funcionava principalmente no trajeto entre Macomia e Awasse.
“Retomando a escolta, obviamente, os empresários se sentiriam seguros”, apelou então o responsável, pedindo também que sejam colocadas posições militares em zonas consideradas perigosas.
A província de Cabo Delgado, situada no norte do país, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.
observador