Os bastidores dos 45 dias de uma novela chamada Gyökeres

As semanas foram passando, houve um pouco de tudo. Ameaças de greve, vários clubes ao barulho, dúvidas em relação a alegados acordos escritos que afinal teriam sido promessas em encontros, declarações públicas para posicionar as partes, muita informação passada nos bastidores para “defender” um ou outro dos lados. No final, tudo voltou à estaca onde sempre esteve: Viktor Gyökeres iria ser vendido pelo Sporting, o Arsenal era o clube em melhor posição para ficar com o sueco, faltava apenas o acordo entre as partes para a saída do avançado de Portugal para a Premier League. A novela foi longa, as negociações ainda mais mas, mediante a apresentação de uma quarta proposta por parte dos responsáveis londrinos, tudo ficou de vez fechado.
Se Gyökeres chegou a Alvalade depois de um longo namoro do Sporting junto de jogador, representantes e Coventry, com os leões a ganharem a corrida a vários clubes sobretudo ingleses que tinham abordado nesse verão o conjunto do Championship, agora chegou a altura do regresso a Inglaterra pela porta grande e para um clube que tem como objetivo ganhar todas as competições em que participa. O sueco foi a contratação mais cara de sempre da formação de Alvalade, por um total de 20 milhões de euros mais quatro milhões por objetivos cumpridos (mais 10% de uma futura mais valia), mas sai também como a transferência mais alta de sempre do Sporting, depois de duas temporadas em que foi o melhor marcador da equipa e do Campeonato entre a conquista de duas Ligas e uma Taça e o prémio de maior goleador do ano de 2024.
Imperou a vontade do Sporting pela fasquia mínima que tinha sido colocada. Após uma primeira oferta de 55 milhões de euros com mais dez milhões de variáveis, a segunda proposta que foi colocada em cima da mesa tinha 65 milhões de euros fixos mais 15 milhões variáveis. Aproximou-se, não chegou. A SAD verde e branca, neste caso com Frederico Varandas a ter a última palavra entre negociações conduzidas pelo diretor geral Bernardo Palmeiro, não abdicou de um montante final global da operação a chegar aos 80 milhões de euros, algo que foi alcançado por caminhos que até meio das negociações nunca tinham sido explorados pelos dois clubes. Pelo meio, já com contrato fechado com os gunners, Gyökeres abdicou de dois milhões de euros do “bolo” acordado pelo vínculo assinado até junho de 2030 e andou de “férias” sem se apresentar.
Antes, sem que se pudesse propriamente falar de avanços e recuos, a relação entre Sporting e jogador foi-se deteriorando muito à boleia do choque entre a SAD leonina e o representante do sueco, Hasan Cetinkaya. E tudo começou com um ponto que nunca foi assumido por nenhuma das partes… por não estar escrito: o empresário garantia que o Sporting prometera antes que Gyökeres poderia sair por 60 milhões mais valores por objetivos (neste caso, dez milhões), o Sporting garantia que só disse ao empresário que não iria pedir os 100 milhões da cláusula. Apesar das tentativas para explicar ao avançado, e apenas ao avançado, aquilo que tinha sido dito nessa reunião, o sueco nunca baixou a guarda e foi pelo que o agente dizia para fazer – algo que acontecera também há dois anos, quando Cetinkaya disse a Gyökeres que o Sporting era a melhor opção.

▲ Viktor Gyökeres realizou o último jogo em Portugal pelo Sporting no Jamor, contribuindo de forma decisiva para a conquista da Taça depois do Campeonato
EPA
“O processo começa no ano passado quando terminou a época, o Sporting foi campeão, fez uma época fantástica. Durante o mercado percebemos que o Viktor ia ficar no Sporting porque não tivemos uma única proposta por ele. Quando a época começa, o agente aborda o Hugo Viana várias vezes, a perguntar se podíamos adicionar um extra no contrato caso ele fizesse x golos e dei abertura ao [Hugo] Viana para negociar, dentro do razoável. O Viana gere a relação com os agentes, e muito bem, isso é feito pelo diretor desportivo. Uma das grandes preocupações do agente era saber se para o ano íamos exigir o valor da cláusula de 100 milhões. O Viana foi negociando com os agentes, ao longo de várias reuniões, até que o próprio agente pediu a presença do presidente para fechar o assunto de vez. A questão do bónus por x golos pareceu razoável e nessa reunião, onde estava o presidente, o agente e Viana, não estava nenhum jogador, o agente quis garantir determinadas coisas”, começou por explicar Frederico Varandas, em declarações a 11 de junho.
“Ficou fechado que o Sporting não ia exigir a cláusula de rescisão no final da época seguinte, até porque ele ia fazer 27 anos. Depois, sabíamos o sonho que o Viktor tinha de ir para um clube onde pudesse lutar pela Champions e nós temos bom senso. Garantimos que não íamos exigir os 100 milhões. Nessa reunião o agente quis ancorar a saída a um valor, falou em 60 milhões, 70 milhões… E eu disse ‘Não vale a pena estarmos a fixar um valor porque não sei o que vai acontecer aqui a um ano, se sofre uma lesão, se faz uma época dececionante… Não vale a pena fixar um valor, não sei se será 40, 60 ou 80. O que posso garantir é que não vou exigir 100 milhões’. A partir daqui nunca mais falei com o agente, nunca falei com o jogador sobre saídas e valores. Passaram dez meses e vejo na imprensa o agente a debitar informações daqui e dali. O presidente do Sporting disse que o clube não ia exigir a cláusula e que íamos ajustar o valor à performance do Viktor, que foi um dos melhores jogadores que pisou os relvados em Portugal”, destacou o líder leonino.
“Uma coisa que já deviam era conhecer-me melhor. Ameaças, chantagem e ofensas comigo não funcionam. Posso garantir que o Viktor Gyökeres não sai por 60 milhões mais dez milhões porque nunca o prometi. Este jogo que o empresário está a fazer só piora a situação. Se há propostas? Até hoje o Sporting não teve uma proposta por Viktor Gyökeres, nem hoje nem na época passada”, assegurou Frederico Varandas.
"Ameaças, chantagem e ofensas comigo não funcionam. Posso garantir que o Viktor não sai por 60 milhões mais dez milhões porque nunca o prometi. Este jogo que o empresário está a fazer só piora a situação. Se há propostas? Até hoje o Sporting não teve uma proposta por Viktor, nem hoje nem na época passada."
Frederico Varandas, presidente do Sporting, em declarações a 11 de junho no início da novela Gyökeres
Mais tarde, já depois de uma primeira oferta do Arsenal abaixo daquilo que o presidente do Sporting tinha garantido não aceitar, os leões voltaram a tomar uma posição pública. Já tinham entretanto saído notícias a dar conta do alegado interesse de Atl. Madrid e Juventus na contratação do avançado, os londrinos eram os únicos a começar negociações com o clube verde e branco, o Al Hilal surgia como uma carta fora do baralho perante a recusa do jogador em rumar à Arábia Saudita. Varandas voltava a fixar uma fasquia mínima, ao mesmo tempo que colocava o ónus também no agente do sueco e na capacidade de trazer propostas que pudessem fazer com que saísse no verão (quando se falava também no possível aparecimento de Jorge Mendes no meio do filme, como um fator desbloqueador que pudesse resolver por fim o problema).
“Primeiro, o Sporting está tranquilo em relação a essa pasta. Em segundo lugar, o Sporting não precisa de vender o Viktor Gyökeres. Felizmente já passámos a fase de vender o nosso principal ativo. Ainda assim, não deixamos de ser sensíveis aos sonhos do Viktor ou de qualquer outro atleta. O Sporting tem um compromisso em que, após semanas de reuniões, não pede o valor da cláusula, vai ser razoável em relação ao valor pedido pelo Viktor. Há uma forte probabilidade de ele sair. Nestas últimas semanas temos estado atentos. Vi um jogador, o Zubimendi, que tem menos seis meses que o Viktor, sair por 65 milhões. Vi o Matheus Cunha ir para o Manchester United, por valores na ordem dos 75 milhões. Estamos a falar de jogadores com 26 anos. Acredito que o Viktor possa sair, a não ser que tenha o pior agente do mundo, coisa que não acredito, porque é um dos melhores futebolistas do mundo”, referiu no passado dia 29 de junho.
“Não vou dizer qual é o valor, o jogador sabe qual é. Posso dizer que o Viktor não vai sair por 60 milhões mais dez milhões. Não sai, é que rigorosamente não sai. O Viktor sabe, o agente também, o que quero é que os sportiguistas saibam e que aproveitem o verão, que estejam tranquilos porque só existem dois cenários: primeiro, um clube respeita o valor digno de mercado do Viktor – que não o da rescisão, o Sporting cede nisso –, e a partir desse momento estaremos completamente preparados para atacar o alvo. Num segundo cenário, esse clube não quer o Viktor, o Viktor não quer nenhum outro projeto, tem três anos de contrato e fica no Sporting. Nós ficaremos muito, muito contentes. Não se apresentar? Estou no Sporting há 20 anos, já passei por muitos dramas de mercado, isto é uma novela. O fecho de mercado é cura para todos os males, por isso jogadores contrariados não é um problema nesta fase. O Viktor ficando, tem três anos de contrato, ficaremos muito contentes”, acrescentou ainda Frederico Varandas nesse momento.

▲ Viktor Gyökeres foi o melhor marcador do ano civil de 2024, tendo jogos memoráveis como o hat-trick ao Manchester City na despedida de Amorim a Alvalade
UEFA via Getty Images
Em cada intervenção pública, saíam depois notícias que davam conta do desagrado do jogador, que teria mesmo contactado o presidente do Sporting para manifestar essa condição perante a “intransigência” dos leões – algo que chegou a acontecer mas apenas numa fase bem mais adiantada do processo, no final de junho. Havia um braço de ferro entre ambas as partes, era reconhecido por ambas as partes. Olhando para o lado verde e branco, existia essa vontade de não forçar o pagamento dos 100 milhões de euros da cláusula mas também de garantir o maior encaixe à luz daquilo que têm sido as movimentações das últimas semanas de mercado e dos valores praticados até ao momento (superiores na Premier ao que se viu em 2024/25). Da parte do jogador, tentava-se garantir um acordo o mais rápido possível com o Arsenal sem que a corda partisse, também pelas possibilidades Benjamin Sesko e Ollie Watkins que estiveram em cima da mesa para reforçar o ataque. Depois do primeiro fim de semana de julho, a distância era de apenas cinco milhões.
Antes, houve também uma espécie de “pré-aviso”. Gyökeres, que foi autorizado a regressar apenas no dia 12 e não no dia 7 como inicialmente previsto, deu uma entrevista à France Football publicada apenas no dia 12 na íntegra, falando só da situação de Ruben Amorim nos destaques que foram saindo sem qualquer alusão ao que se passava entre Sporting e Arsenal. “Vencemos dois Campeonatos consecutivos pela primeira vez em 71 anos. É um feito incrível e, claro, Ruben Amorim teve um papel fundamental nisso. Nunca poderei agradecer-lhe o suficiente. O estilo de jogo que tínhamos servia-me na perfeição. A saída dele foi um choque. Nunca me aconteceu ver um treinador sair a meio da época quando tudo corria bem. Foi surpreendente mas compreendo a sua decisão e a equipa não lhe guardou rancor. Todos compreendemos a decisão. Seguimos em frente e ainda conseguimos ganhar o título. Cheguei ao Sporting e foi incrível desde o início. Fiz muitos progressos aqui com esta equipa. Temos muitas recordações maravilhosas”, contou nessa parte da entrevista.
Quando saiu todo o trabalho, a publicação referiu que a entrevista tinha sido feita a 22 de maio, depois da conquista do Campeonato mas antes da Taça de Portugal. No entanto, deixou uma nota: algumas questões, nomeadamente sobre o futuro, ocorreram apenas nos últimos dias antes da publicação. “Premier? É uma das maiores ligas na Europa. Estive lá vários anos sem conseguir jogar um único jogo. Por isso, é claro que é algo que gostaria de fazer. Seria uma grande vingança. Sair? Pode acontecer. É futebol, nunca se sabe. Não estou a pensar nisso, veremos o que sucede. Se algo tiver de acontecer, acontecerá. O mais importante para mim é jogar num clube que realmente me queira”, assinalou, num discurso bem mais “moderado” por conselho do empresário, que sabia que outro teor de resposta poderia complicar ainda mais a situação.
"Premier? É uma das maiores ligas na Europa. Estive lá vários anos sem conseguir jogar um único jogo. Por isso, é claro que é algo que gostaria de fazer. Seria uma grande vingança. Sair? Pode acontecer. É futebol, nunca se sabe. Não estou a pensar nisso, veremos o que sucede. Se algo tiver de acontecer, acontecerá. O mais importante para mim é jogar num clube que realmente me queira."
Viktor Gyökeres, então ainda jogador do Sporting, numa entrevista a 22 de maio que só foi publicada a 12 de julho (com mais algumas perguntas e respostas)
“O segredo foi voltar a jogar como quando era miúdo. Quando somos jovens, não nos preocupamos com os pormenores, só queremos jogar futebol e divertir-nos. No início da minha carreira, a minha cabeça estava a distrair-se. Ao deixar de pensar demasiado em campo, tornei o meu futebol mais direto e instintivo. A obsessão pelo golo, que sempre tive, voltou a ser a essência do meu jogo. Sporting? Devo-lhes muito. Conquistámos troféus e evolui muito com a equipa. Juntos, criámos memórias extraordinárias. Claro que Ruben Amorim também teve grande responsabilidade nisso. Foi quem me trouxe para aqui e o seu estilo de jogo encaixou em mim muito bem. Não consigo agradecer-lhe o suficiente”, apontou, entre elogios à Liga.
“Quando algo pouco habitual acontece, as pessoas tentam arranjar uma explicação. Porque jogo na melhor equipa do Campeonato, ou o nível em Portugal não é suficiente… É a opinião das pessoas, não quero saber. Sei o que consegui aqui e sempre dei o meu melhor. A Liga portuguesa é muito boa, com jogadores de grande técnica. Pode não ser tão física quanto a inglesa, mas o nível é muito bom”, salientou Gyökeres. Com um ponto importante: a entrevista saiu no dia 12, quando era suposto apresentar-se em Alvalade (teve um dia extra devidamente combinado com os responsáveis do conjunto verde e branco) para, caso fosse essa decisão, seguir para o estágio dos leões no Algarve, algo que não aconteceu. A partir daqui, estava em “falta”. E Frederico Varandas, mais uma vez, aproveitou para recentrar o Sporting no negócio, algo que não fez numa fase inicial quando foram saindo notícias que davam conta de mensagens enviadas por Viktor Gyökeres a ameaçar não regressar em Lisboa (algo que só aconteceu no final de junho e nunca antes).
“Estamos tranquilos. Tudo se resolve com o fecho de mercado, uma multa pesada e um pedido de desculpas ao grupo. Se não quiserem pagar o valor justo de mercado do Viktor, nós ficamos muito confortáveis com isso durante os próximos três anos. Se os génios que estão a delinear esta estratégia acham que isto me pressiona para facilitar a saída, não só estão completamente errados como ainda estão a tornar mais complicadas as condições de saída do jogador. Ninguém está acima dos interesses do clube. Seja ele quem for”, destacou à Lusa, naquele que seria o último passo público antes de ficar esboçado o acordo final.
A possibilidade de pagar 70 milhões de euros fixos mais dez milhões por objetivos chegou a estar em cima da mesa, até pela necessidade de resolução rápida do problema que o Arsenal assumia também por forma a não ter o avançado em incumprimento com os leões. No entanto, perante a intransigência que vinha de Alvalade, a solução acabou por ser outra a colocar também o agente do sueco à mistura: a proposta dos londrinos passava a ser de 63,5 milhões de euros mais dez milhões em variáveis mas Hasan Cetinkaya prescindia dos 10% a que tinha direito pela intermediação – o que na prática ia dar quase ao mesmo para os leões, que se recebessem 70 milhões teriam de pagar 10% de intermediação. Ou seja, e em termos práticos, o Sporting até recebia mais 500 mil euros do que na versão dos 70 milhões com 10% de comissão e via baixar o valor a pagar ao Coventry, que tinha direito a 10% da mais valia do jogador (3,95 milhões, 10% de 39,5 milhões).

▲ Gyökeres enviou as primeiras mensagens a Varandas no final de junho, dando conta da sua vontade em sair para o Arsenal este verão
Gualter Fatia
Perante esse cenário, ficavam apenas por definir dois pormenores. O primeiro estava relacionado com os dez milhões de euros de valores variáveis abrangidos pelo negócio, com o Arsenal a colocar em cima da mesa 50% de obtenção mais facilitada entre jogos e golos que na primeira época estariam cumpridos e o Sporting a tentar que essa percentagem fosse de 75% até ao final da temporada de 2025/26. O segundo tinha a ver com o factoring e respetivo pagamento desse mecanismo por forma a que os leões conseguissem receber em dois e não quatro anos a totalidade da verba fixa do negócio. Depois do primeiro encontro em Menorca entre Andrea Berta, diretor desportivo dos gunners, e Bernardo Palmeiro, diretor geral dos leões, a proposta foi desenhada em Londres e seguiu para Alvalade sem a presença física do agente de Viktor Gyökeres, Hasan Cetinkaya, que foi ter com o jogador a Maiorca, onde ficou alguns dias depois de passar pela Grécia.
Durante o fim de semana de 12 e 13 de julho, nomeadamente no domingo, duas chamadas gizaram tudo o que parecia ser o capítulo final da novela. No entanto, havia mais ainda por escrever, com alguns órgãos a escreverem mesmo que tudo estava em risco de cair. Não esteve. Mas, em paralelo, a questão de se chegar a um beco sem saída fazia sentido. Porquê? O Arsenal apresentou uma oferta onde apenas três dos dez milhões em variáveis eram de fácil obtenção, o que não só levou à recusa da terceira oferta como provocou incómodo na Sporting SAD. Durante vários dias da última semana, não houve qualquer comunicação entre as partes e não foi por acaso que os leões enviaram uma nova carta a Gyökeres para se apresentar ao trabalho.
Como o Observador noticiou na semana, o Arsenal estava ciente de que teria de avançar com uma quarta e decisiva proposta mas a mesma demorava a chegar a Alvalade. Aliás, demorou tantos dias a chegar que começou a circular no domingo essa informação de que o Manchester United teria passado para a frente da corrida, estando disponível para pagar tanto ou mais do o Arsenal pelo avançado numa tentativa de virar o jogo colocando uma terceira parte ao barulho. É verdade que os red devils, por influência de Ruben Amorim, nunca deixaram de sonhar com a possibilidade de contarem com o número 9 mas Viktor Gyökeres mostrou-se sempre intransigente em relação ao único destino que aceitaria (até por já ter um acordo com os londrinos). Mais: Mikel Arteta pressionava o diretor desportivo, Andrea Berta, para “fechar” o avançado.
Os primeiros sinais de “fumo branco” surgiram na tarde de terça-feira. O Arsenal montou uma proposta que cumpria todos os requisitos pedidos pelo Sporting com essa nuance de os dez milhões de euros de variáveis serem de “fácil” obtenção mas mais espaçados no tempo, algumas pessoas ligadas ao clube e ao agente foram deixando cair para fora que tudo estava finalmente fechado mas a quarta oferta só chegaria à noite, tendo o parecer favorável dos leões esta quinta-feira. Dois dias depois do primeiro jogo da digressão asiática em Singapura frente ao AC Milan, e já depois de terem circulado imagens com Gyökeres vestido com a camisola 14 do vice-campeão inglês, houve o anúncio oficial do negócio. Antes, o sueco deixara território espanhol e já estava em Londres com o agente, onde assinou e foi apresentado antes de poder rumar à Ásia.

▲ Depois de estar em Estocolmo no dia em que se devia ter apresentado em Lisboa, Gyökeres ainda passou pela Grécia e por Maiorca
Em termos de tesouraria, esses dez milhões variáveis serão alcançados a quatro anos, com proporções mais altas no início. Como confirmou o Observador, a expetativa passa por receber um total de 4,5 milhões em 2025/26 (2,5 milhões de duas tranches de 20 jogos cumpridos com mais de 45 minutos, um milhão em duas tranches pela participação em séries de 20 golos entre golos e assistências e um milhão pelo apuramento do Arsenal para a Champions), mais 3,5 milhões em 2026/27 (2,5 milhões pelas duas tranches restantes dos 20 jogos cumpridos com mais de 45 minutos e um milhão pelo apuramento do Arsenal para a Champions). Os restantes dois milhões, em 2027/28 e 2028/29, serão pela qualificação para a Champions.
O que aconteceu nos derradeiros dias nos bastidores? O Sporting não gostou das fotografias do jogador de férias estando sob alçada disciplinar do clube depois de recusar pela segunda vez regressar aos treinos em Portugal, também não gostou da forma como se mostrou irredutível a ouvir qualquer outra proposta que não fosse do Arsenal mas, desta vez, Varandas preferiu não ter qualquer intervenção pública, ficando apenas à espera que fossem trocados os últimos documentos entre os clubes. Pelo meio, e antes do anúncio oficial do acordo, houve um último pedido do Sporting, desta vez ao jogador diretamente: que abdicasse do salário de julho, tendo em conta que não compareceu um único dia. Gyökeres concordou, as contas ficaram acertadas, recebeu os prémios negociados no último verão com o empresário em termos de rendimento desportivo naquela que foi a melhor época da carreira. Só houve algo que se tornou mesmo “impossível”.
Com a transferência confirmada para onde sempre foi trabalhada (até quando não existia ainda uma proposta oficial em cima da mesa), só houve um objetivo do Sporting que em termos internos era assumido mas que se tornou uma “derrota”: assegurar que o avançado teria uma saída “limpa” dentro do possível, como um dos melhores jogadores da história do clube e a maior figura do século só comparável ao impacto de Jardel em 2001/02. Depois de um 2023/24 com 43 golos em 50 jogos oficiais, o sueco conseguiu superar essa fasquia e chegar aos 54 golos em 52 encontros, conquistando dois Campeonatos e uma Taça de Portugal entre mais três finais perdidas (Taça de Portugal, Taça da Liga e Supertaça). Agora, no Arsenal, os objetivos também são claros: ganhar a Premier League que foge aos gunners há mais 20 anos, sagrar-se o melhor marcador do Campeonato e tentar seguir o mais longe possível na Liga dos Campeões.
“Muitas pessoas continuam a perguntar-me porque trouxe o Viktor para o Sporting. Ele veio por uma razão: só trouxe o Gyökeres para o Sporting por causa de Rúben Amorim. E disse-o ao mister quando o vi pela primeira vez, antes de lhe dizer olá. Conheço a filosofia dele e a forma como poderia fazer evoluir o Viktor a outro nível."
Hasan Cetinkaya, empresário de Viktor Gyökeres, numa entrevista em abril de 2024 onde explicava a escolha do jogador pelo Sporting
Um dos principais adversários, além do campeão Liverpool, do Manchester City ou do Chelsea, será agora o Manchester United de Ruben Amorim, o técnico que o agente tinha reconhecido ser a peça chave que definiu a transferência do Coventry para o Sporting. “Muitas pessoas continuam a perguntar-me porque trouxe o Viktor para o Sporting. Ele veio por uma razão: só trouxe o Gyökeres para o Sporting por causa de Rúben Amorim. E disse-o ao mister quando o vi pela primeira vez, antes de lhe dizer olá. Conheço a filosofia dele e a forma como poderia fazer evoluir o Viktor a outro nível. Isso foi mais importante para mim do que levá-lo para a Premier e fazer mais dinheiro. Oito clubes da Premier fizeram propostas ao Coventry e a mim, que garantiam mais dinheiro, mais comissões e um valor maior de transferência que o Sporting, além de o Viktor ter falado com outros cinco treinadores por telefone. Há muitos clubes que querem comprá-lo mas temos de respeitar o Sporting”, tinha admitido Hasan Cetinkaya, agente do jogador, em abril de 2024.
???????? EXCLUSIVE: Viktor Gyökeres and his agent Hasan Cetinkaya on their way to London now! ❤️????
Gyökeres, set for Arsenal medical as he only wanted to join them.
Here with Cetinkaya, key to waive his commission to help his client to sign for the club he wanted.
✈️???????? pic.twitter.com/y72okHUCkc
— Fabrizio Romano (@FabrizioRomano) July 25, 2025
Já da parte do Sporting, as atenções passam agora a centrar-se no sucessor de Viktor Gyökeres. Ao contrário do que aconteceu no último mercado, em que Ioannidis foi o grande objetivo dos leões até avançar o plano B com Conrad Harder, as atenções do departamento de scouting verde e branco, em consonância com aquilo que é a ideia de Rui Borges para a equipa, centraram-se num perfil como o do colombiano Luis Suárez, do Almería. O internacional de 27 anos, que passou pelo Watford e pelo Marselha, entre outros, tinha mais pretendentes que foram sondado os espanhóis mas os leões estiveram sempre em vantagem para fechar um negócio que teve duas ofertas recusadas, de 18 milhões com quatro variáveis e de 20 milhões com cinco variáveis – à terceira foi mesmo de vez, com os cinco variáveis a serem de mais fácil obtenção.
Depois da escolha do novo 9, o Sporting volta-se para as escolhas em mais duas posições, a começar pela de ala esquerdo (com pé direito) onde só existe agora Pedro Gonçalves como opção de raiz. Nomes como Jota Silva (Nottingham Forest), Tzolis (Club Brugge), Mika Godts (Ajax), Samuel Lino (Atl. Madrid) ou Abde Ezzalzouli (Betis) já foram ventilados mas fazem parte de um leque maior de opções de mercados mais “acessíveis” no plano financeiro. Ao mesmo tempo, o Sporting procura ainda um lateral direito, com o grego Georgios Vagiannidis na frente da corrida, depois de Alberto Costa, da Juventus, ter sido desviado pelo FC Porto num negócio que teve João Mário como “moeda de troca” para atenuar o impacto de todo o investimento feito, não sendo de descurar a chegada de mais um médio numa altura em que o futuro de Morita continua em aberto a 12 meses de terminar contrato. Nem mesmo a aposta forte dos rivais Benfica e FC Porto altera aquilo que foi gizado pelos bicampeões nacionais para a nova temporada de 2025/26.
observador