'Jurassic World: Recomeço' pode ser o pior filme da franquia, diz crítica da BBC

Eca. Há definitivamente um cheiro de "coisa requentada" no novo filme da franquia Jurassic World, que se esforça para trazer uma abordagem nova em uma fórmula que já rendeu bilhões de dólares — fugir daqueles dinossauros — e, claramente, não pode ser muito mexida.
Acontece que os cineastas deveriam ter mexido um pouco mais.
Jurassic World: Recomeço tem grandes estrelas como Scarlett Johansson e Jonathan Bailey e criaturas com um design melhor do que nunca, mas tem tão pouca emoção que talvez seja o pior filme da franquia.
O sétimo filme da série é basicamente um reboot em cima de outro, e segue o modelo criado por Steven Spielberg no primeiro Jurassic Park, estrelado por Sam Neil e Laura Dern, 32 anos atrás.
Depois de três filmes, veio a trilogia Jurassic World, com Chris Pratt e Bryce Dallas Howard.
Esse próximo lançamento — que chega aos cinemas brasileiros no dia 03 de julho — parecia promissor.
Johansson, tão vibrante como em Viúva Negra, interpreta Zora Bennett, uma mercenária contratada por uma empresa farmacêutica para recuperar DNA de dinossauros. O DNA será usado para desenvolver um remédio para prevenir doenças cardíacas, garantindo lucros enormes para a empresa que contrata Zora.
Já Bailey se encaixa perfeitamente no papel de Dr Henry Loomis, um paleontólogo inteligente que embarca na perigosa missão. Ele consegue identificar os dinossauros, que vagam livremente por uma ilha equatorial abandonada onde experimentos para criar híbridos deram errado.
Rupert Friend faz o papel do vilão, o representante ganancioso da empresa farmacêutica, o que o coloca como o candidato mais provável a ser devorado por um dinossauro.
Já Mahershala Ali interpreta o colega confiável de Zora, um marinheiro contratado para levá-los até a ilha.

Mas isso se torna um problema quando a trama principal do filme, cheio de estrelas, é ofuscada pelo enredo secundário, o que surpreendentemente ocorre em o Recomeço.
Como sempre acontece em um filme Jurassic, há uma família em perigo. Aqui, o pai é Reuben (Manuel Garcia-Rulfo, da séria da Netflix O Poder e a Lei), que está em um passeio de barco com suas filhas Teresa (Luna Blaise), que está na faculdade, e Isabella (Audrina Miranda), de 11 anos, além de Xavier (David Iacono), namorado de Teresa.
A história deles é cheia de suspense desde o começo, quando o barco é atacado por um dinossauro-marinho gigantesco — oficialmente um mosassauro, maior do que uma baleia e mais feroz que um tubarão —, em uma sequência com níveis de perigo do estilo Tubarão.
Eles são resgatados pela tripulação de Zora, mas acabam se separando ao chegar na ilha.
Na maior parte do filme, o enredo da família acontece paralelo ao da expedição, e é executado de forma mais eficaz enquanto eles atravessam a floresta com medo de qualquer barulho, descobrindo que o que parece uma árvore pode ser um dinossauro dormindo.
As ameaças são mais viscerais para a família, em parte porque seus personagens podem ser vítimas a qualquer momento. Quais as chances de Scarlett Johansson ou Jonathan Bailey serem devorados?
Como em quase todos os filmes Jurassic, os momentos de perigo dos protagonistas precisam ser especialmente tensos para compensar o fato de que a gente sabe que eles vão sobreviver.
Aqui, esses momentos não assustam o suficiente para fazer com que o público fique grudado na cadeira.
O diretor, Gareth Edwards (Rogue One: Uma História Star Wars e, mais recentemente, Resistência) não coloca os protagonistas tão próximos dos dinossauros como ele faz com a família, e as cenas de ação são sem graça.
Quando Henry fica pendurado na beirada de um penhasco, se segurando pelas pontas dos dedos, talvez você veja como uma homenagem a outras produções, mas soa puro clichê.
E Edwards ainda acrescenta algumas distrações um pouco fora de contexto. Em dois momentos diferentes, Henry masca um chicletes bem alto, uma tentativa de humor constrangedora e malsucedida.

O texto que aparece logo no início do filme explica que, nos anos desde o retorno dos dinossauros, eles passaram a ser ameaçados por mudanças ambientais e também porque o "interesse do público diminuiu".
O interesse por dinossauros no cinema também pode diminuir, e embora isso ainda não tenha acontecido, a frase soa como um recado direto para Recomeço: é hora de criar monstros maiores e mais assustadores.
Zora e Henry precisam sedar e coletar o DNA de um titanossauro — o maior carnívoro de todos os tempos — além de um quetzalcoatlus, uma criatura voadora e agressiva com um bico, e o mosassauro aquático.
Junto com outras criaturas, eles não são tão assustadores quanto são impressionantes, às vezes até bonitos de se ver.
Em certo momento, vemos dezenas de dinossauros de pescoço longo pastando tranquilamente. A musical tema original de John Williams, que o compositor Alexandre Desplat insere com graça em sua nova trilha, soa imponente, e nós podemos sentir o mesmo espanto de Henry ao encarar as criaturas que ele nunca tinha visto antes.
Mas essa cena, feita claramente para lembrar o senso de maravilhamento que os personagens de Neil e Dern — e a audiência no cinema — sentiram ao ver manadas de dinossauros pacíficos em Jurassic Park, é um lembrete de como o original de Spielberg é imbatível.
Entre os sete filmes, nenhum supera o primeiro na construção de tensão e no poder de prender o espectador. As sequências oscilaram, sem nunca atingir o mesmo nível de empolgação do original.
Edwards disse que Spielberg foi consultado sobre a história e esteve "muito envolvido" em Recomeço, mas isso, obviamente, não é o mesmo que dirigi-lo.
Se você não consegue superar Spielberg — e, quando falamos desse tipo de filme, quem conseguiria? — é melhor tentar algo ousado para evitar que o interesse pelos dinossauros realmente diminua.
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