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Caso Cacau Show acende alerta: o que avaliar antes de investir em uma franquia

Caso Cacau Show acende alerta: o que avaliar antes de investir em uma franquia

A repercussão de denúncias de franqueados e ex-funcionários da Cacau Show pode acender um alerta para interessados em abrir uma franquia. Como qualquer outro negócio, um empreendimento dessa natureza exige uma série de cuidados que podem minimizar os riscos envolvidos.

A Cacau Show rechaça as acusações que vieram a público e diz que não mede esforços para ouvir e resolver qualquer ponto relatado por seus franqueados, colaboradores, parceiros e consumidores.

Após o episódio, a Associação Brasileira de Franchising (ABF) afirmou em onta que o mercado segue sólido, resiliente e em constante transformação. No entanto, a ABF alerta que, assim como qualquer iniciativa empreendedora, o mercado de franquias implica riscos para todos os empresários envolvidos, sejam eles franqueados ou franqueadores.

Franquia é negócio pronto — mas exige estratégia

Cairo Cunha, dono de uma franquia em Brasília e que está prestes a abrir a segunda unidade, afirma que há diversas ações que podem ajudar o empreendedor a se precaver na hora de escolher o modelo de franchising.

Uma delas é analisar o próprio perfil e se a área em que pretende abrir o negócio é coerente com suas características. Concursado pelo Banco do Brasil, Cairo conta que sempre desejou empreender e que viu nas franquias a possibilidade de investir em um negócio mais estruturado e já validado pelo mercado, em vez de correr os riscos de começar do zero.

“A pessoa pode ter um perfil mais arrojado ou querer ser mais criativa, inovadora e querer abrir uma empresa, desenvolver um negócio próprio. Por outro lado, quando escolhe uma franquia, ela se vincula a um padrão que recebe pronto, não pode fazer algo fora daquele modelo", diz.

O primeiro passo do empreendedor foi olhar as áreas em que poderia investir, as faixas de investimento e, então, pesquisar sobre as possíveis franquias que se encaixavam no seu perfil. Para tanto, ele foi a uma feira de franquias, onde pôde analisar as opções disponíveis.

Estudo e planejamento reduzem riscos

Outro ponto importante é estudar o que, de fato, o franqueador oferece e se há validação do modelo. No caso da Cacau Show, denúncias citam cobrança de taxas extras e falta de parcelamento para as compras dos produtos.

De acordo com o Sebrae, negócios que têm uma unidade piloto testada e validada podem oferecer menos riscos para os possíveis interessados — uma vez que muitos erros já terão sido corrigidos, a aceitação do mercado já terá sido avaliada e a posição da marca, definida.

Um cuidado é entender se a franquia, de fato, está baseada em uma tendência de mercado ou em um modismo passageiro. No caso de Cairo, que investiu em uma marca de sorvetes, a tendência se comprovou – além de ser um produto de que ele já gostava e consumia anteriormente.

Uma estratégia utilizada pelo empreendedor foi visitar franqueados em outras cidades, conversar sobre o mercado, entender as possibilidades, o dia a dia do trabalho e de que forma eles atuavam para garantir o sucesso no empreendimento.

“A gente procura outras lojas para conversar, para ver se a gente não está caindo numa armadilha. Será que é isso tudo? Será que é bom? Porque, na divulgação, dizem que a marca é boa, que está querendo crescer, etc. Mas quando você conversa com os franqueados é que vai observar se realmente é isso tudo", afirmou.

Suporte, crédito e estimativas: atenção aos detalhes

De forma mais específica, ao analisar a estrutura da franquia, é preciso atentar para o suporte oferecido ao franqueado, as condições de crédito, de fornecimento de insumos e quais as regras para abertura de outras unidades da mesma marca – por exemplo, se há risco de outro empresário abrir uma filial na esquina da sua.

As perspectivas de lucratividade e o prazo para o retorno do investimento inicial, bem como a saúde financeira da franqueadora, são outros pontos-chave. De acordo com o Sebrae, a franqueadora precisa apresentar dados financeiros e um plano de negócios que comprovem sua capacidade de atender às necessidades de gestão da rede.

Para avaliar todas essas condições, o interessado na franquia pode se valer do auxílio de outros profissionais, como advogados, tributaristas e contadores. Quanto mais informações e avaliações conseguir reunir, mais sólida será sua decisão na hora de iniciar o novo empreendimento.

Oferta de treinamentos e divulgação são pontos importantes

De acordo com Cairo, também é preciso verificar se a franqueadora oferece treinamentos e atualização, assistência de consultores, se tem canal de comunicação eficiente com o franqueado, suporte para compras centralizadas, se oferece parcelamento no crédito e quais as condições de repasse de comissões.

Também vale se certificar se há algum grupo ou convenção de franqueados para que eles possam debater junto com a franquia. No caso da Cacau Show, as denúncias foram encaminhadas para o Ministério Público por uma associação de franqueados.

Uma área que não pode passar despercebida é a comunicação. Entender como funciona a publicidade da marca, se há taxas para esse serviço, se há suporte e quais são as normas para a divulgação local. Essas regras são importantes para a construção de uma imagem positiva e que atraia clientes para as unidades.

Gestão ativa é chave para o retorno

Além de todas as informações, pesquisas e avaliações que precisam ser feitas, um ponto fundamental é a própria disponibilidade do franqueado de tocar o negócio. Cairo afirma que não adianta montar a franquia, colocar um gerente e achar que a loja vai "rodar sozinha"; é preciso dedicação e conhecimento.

“Se a marca está validada, ela é um facilitador, então há uma predisposição para o sucesso. Mas tem gente que faz uma boa gestão e tem um retorno muito grande — até maior do que o esperado — e tem gente que não é capacitada, que tem um retorno muito menor do que o esperado", disse. No seu caso, além de toda a pesquisa feita para iniciar a franquia, ele já estudava sobre negócios e empreendedorismo.

“A loja envolve muito a gestão no dia a dia, além de estabelecer algumas parcerias para trazer mais fluxo. Também é preciso saber fazer propaganda e campanhas, ter um marketing bem feito e estar ali no dia a dia”, conclui.

Franchising cresce — mas continua exigente

Segundo dados da ABF, atualmente há 198 mil unidades de franquias abertas no país. No primeiro trimestre deste ano, todos os segmentos do setor apresentaram crescimento sobre o mesmo período de 2024, com destaque para Limpeza e Conservação (16,3%), Saúde, Beleza e Bem-Estar (14,9%) e Hotelaria e Turismo (14,7%).

O setor também tem saldo positivo em relação à abertura e ao fechamento de negócios: no primeiro trimestre de 2025, o índice de operações abertas foi de 4,4%, contra 1,6% das encerradas — um saldo positivo de 2,8%. A variação representou um acréscimo de 7.354 operações de franchising no país.

As receitas, enquanto isso, cresceram 8,9% nacomparação com o primeiro trimestre de 2024, chegando a R$ 66 bilhões. O acumulado nos 12 meses alcançou a R$ 278 bilhões, 11,2% acima dos 12 meses anteriores.

Mesmo diante dos dados positivos, o empreendedor precisa avaliar suas opções. Ainda que ofereça um modelo testado e reconhecido, é preciso verificar custos recorrentes, como taxas de royalties, publicidade e aquisição de insumos do franqueador, que podem afetar a margem de lucro, bem como a aceitação do mercado local à marca.

Para investidores mais experientes, vale comparar o retorno estimado com o de um negócio próprio, considerando também o nível de suporte e controle oferecido, bem como sua própria compatibilidade com o sistema de franchising.

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