João Lourenço defende fortalecimento do multilateralismo

O chefe de Estado de Angola e presidente em exercício da União Africana, João Lourenço, defendeu no domingo uma reforma das instituições e fortalecimento do multilateralismo, durante o discurso na cimeira de líderes dos BRICS.
“As nações do mundo têm lidado há décadas com instituições de governação global criadas após a Segunda Guerra Mundial, mas com as profundas mudanças que se vêm registando no mundo nestas oito décadas passadas, precisam de se ajustar às novas realidades“, disse João Lourenço perante representantes de cerca de 30 países e de uma dezena de organizações internacionais, que se encontram na cidade brasileira do Rio de Janeiro para participar da XVII Cimeira de chefes de Estado e de Governo dos BRICS.
Na sua opinião, o bloco dos BRICS pode “ter um desempenho relevante e atuante no sentido de se construir um maior equilíbrio na discussão sobre os temas referentes à governação mundial, entre o Sul Global e os países desenvolvidos”.
O chefe de Estado angolano sublinhou ainda a “urgência e a importância de se trabalhar com o objetivo de se conseguir o fortalecimento do multilateralismo, cada vez mais ameaçado nos tempos que correm”.
Mais uma vez, frisou, o bloco dos países emergentes, têm um papel “decisivo e fundamental para que se reequilibre a abordagem relativa à ordem económica mundial em que sobressaem as questões que dizem respeito ao comércio assente sobre bases mais justas, ao investimento e ao financiamento em moldes menos onerosos para os mais necessitados”.
Horas antes desta declaração, o chefe de Estado brasileiro, Lula da Silva, deixou duras críticas na abertura da cimeira dos BRICS relativamente ao “colapso sem paralelo do multilateralismo”, reforçando a importância de uma reforma no Conselho de Segurança da ONU.
Lula da Silva deixou ainda duras críticas ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que “ultimamente nem sequer é consultado antes do início de ações bélicas” e cujas reuniões apenas conduzem a mais “perda de credibilidade e paralisia”.
“Para superar a crise de confiança que enfrentamos, é preciso transformar profundamente o Conselho de Segurança”, através da inclusão de novos membros permanentes da Ásia, da África e da América Latina e do Caribe, considerou, salientando que esta reforma é fundamental para “garantir a própria sobrevivência da ONU”.
João Lourenço elogiou ainda a vontade dos BRICS em “falar sobre o financiamento para o desenvolvimento de África e das infraestruturas”.
“Não posso deixar de dizer que as nações do Sul Global têm clamado ao longo de décadas pela sua inclusão na discussão e nas decisões que são tomadas a respeito da criação de fatores de desenvolvimento justos, equilibrados e capazes de atender as suas preocupações fundamentais, sem que tenham conseguido ser ouvidos plenamente”, disse João Lourenço, perante representantes de cerca de 30 países e de uma dezena de organizações internacionais, que se encontram na cidade brasileira do Rio de Janeiro para participar da XVII Cimeira de chefes de Estado e de Governo dos BRICS.
Agora, defendeu o Presidente angolano, África sente estar “diante de uma possibilidade real, ao nível dos BRICS e das suas instituições” de ser possível “falar sobre o financiamento para o desenvolvimento de África e das infraestruturas de que necessita, para corresponder mais cabalmente aos desafios que enfrenta”.
Os BRICS, sublinhou, podem ajudar a “transpor os obstáculos que condicionam a realização de projetos essenciais na área da agricultura, da saúde, da educação, da ciência e da tecnologia, da energia, dos transportes, das telecomunicações”.
O grupo BRICS foi inicialmente formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e, desde o ano passado, conta com seis novos membros efetivos: Egito, Irão, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Arábia Saudita e Indonésia.
A estes juntam-se, como membros associados, a Bielorrússia, a Bolívia, o Cazaquistão, Cuba, a Malásia, a Nigéria, a Tailândia, o Uganda, o Uzbequistão e o Vietname.
Lula da Silva recebeu no domingo no Rio de Janeiro líderes dos BRICS para a cimeira anual do grupo, marcada pela ausência de presidentes como o russo, Vladimir Putin, e o chinês, Xi Jinping, numa cimeira que conta com cerca de 30 países representados e uma dezena de organizações internacionais.
Putin participa por videoconferência, após recusar o convite de Lula da Silva por estar sob mandado de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional por alegados crimes cometidos durante a guerra na Ucrânia, e será representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov.
Mais surpreendente é a ausência de Xi Jinping da China, que tem sido um participante constante em cimeiras anteriores, e será substituído pelo primeiro-ministro Li Qiang.
A cimeira centrar-se-á em quatro temas principais: a reforma das organizações que regem a ordem internacional, a promoção do multilateralismo, a luta contra a fome e a pobreza e a promoção do desenvolvimento sustentável, num bloco que representa mais de 40% da população global e mais de 35% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
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