Trump faz 'agressão econômica seríssima' e Lula precisa ser recíproco, diz Ricupero

BRASÍLIA - A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros não tem precedentes e é o ato mais grave das relações entre Brasil e Estados Unidos, segundo o ex-embaixador do Brasil na Itália e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero. Segundo ele, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, faz uma "intervenção inaceitável" contra a soberania nacional e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve agir de forma recíproca.
"Trata-se de fato extremamente grave, o mais grave nas relações entre os dois países pelas seguintes razões: partiu do próprio presidente Trump, a mais alta autoridade dos Estados Unidos. Não foi mera declaração na mídia social, mas foi feita numa carta dirigida diretamente ao presidente Lula. Começa por uma intervenção inaceitável contra a soberania nacional, o que justifica, a meu ver, devolver a mensagem", afirmou Ricupero ao Estadão/Broadcast.
Segundo Ricupero, a tarifa anunciada por Trump configura uma "agressão econômica seríssima" para defender o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e inviabiliza qualquer exportação brasileira aos EUA. O ex-embaixador avalia que a medida obriga o Brasil a reagir "no mesmo nível".
"Além da agressão política e da tomada de posição em favor de um condenado pela Justiça brasileira, também configura uma agressão econômica seríssima. A tarifa punitiva de 50% inviabiliza qualquer exportação brasileira aos Estados Unidos e obriga o Brasil a reagir no mesmo nível", disse Ricupero.
Em nota oficial publicada na noite desta quarta-feira, 9, Lula disse que "qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica". "A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo", afirmou o presidente brasileiro.
A resposta de Lula foi divulgada após o presidente realizar uma reunião de emergência com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
Embaixadores também defendem que o Brasil adote uma posição pragmática para solucionar o impasse com os Estados Unidos. O ex-embaixador do Brasil na Coreia do Sul Sergio Barbosa Serra disse que o governo não pode "politizar" as tarifas, mas deve adotar um tom de prudência.
Entre as medidas para contornar a situação, o ex-embaixador afirmou ser importante a ida da cúpula econômica do governo e do vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, para os Estados Unidos.
"A gente não pode politizar e tornar isso um assunto de política interna, tem que negociar para superar essas adversidades. Mas temos que saber que há uma pessoa imprevisível do outro lado. Não podemos confrontar porque pode ser pior para o Brasil", disse Barbosa Serra.
Trump informou nesta quarta-feira que a tarifa sobre produtos importados do Brasil será de 50%, com início a partir de 1º de agosto.
O republicano argumentou que o nível da taxa se dá por ordens judiciais que "censuram" mídias sociais americanas e inibem a liberdade de expressão de cidadãos dos EUA. Segundo Trump, esses ataques do Brasil partem do Supremo Tribunal Federal (STF).
No documento publicado na Truth Social, o presidente norte-americano pontua a cláusula de retaliação e ameaça elevar ainda mais as tarifas caso o Brasil responda com medidas semelhantes. "Se por qualquer razão vocês decidirem aumentar suas tarifas, o valor que escolherem será somado ao [valor] que cobramos", diz o texto.
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