Os negócios de saunas do sogro que Feijóo atirou a Sánchez

“De que bordeis é que você viveu?” A pergunta foi atirada pelo líder da oposição espanhola ao presidente de governo Pedro Sánchez numa sessão plenária extraordinária na quarta-feira para o executivo dar explicações sobre um caso de corrupção no PSOE e que ficou marcada por troca de acusações entre os dois. “Você foi um participante lucrativo no abominável negócio da prostituição e agora quer tornar a sua biografia ilegal?”, criticou Alberto Núñez Feijóo, perante os aplausos do seu partido, que levou a bancada socialista a acusar o Partido Popular de ultrapassar uma linha vermelha ao atacar o secretário-geral do PSOE a nível pessoal e familiar. Mas a que se referia exatamente Feijóo?
O líder do PP, que partilhou o vídeo do momento na rede social X, aludia aos negócios de saunas que são atribuídos ao sogro de Pedro Sánchez, Sabiniano Gómez, que morreu no ano passado. A primeira menção mais concreta às “saunas sexuais” surge numa investigação do jornal espanhol ABC, de 2021, da autoria de Javier Chicote. No centro está uma figura que muita tinta fez correr em Espanha: José Manuel Villarejo. O ex-polícia fez fortuna no setor privado, espiou e chantageou durante décadas políticos, empresários, entrevistou através de um mandado falso uma antiga amante do rei emérito Juan Carlos e foi preso em novembro de 2017 pelos crimes de corrupção, organização criminosa e suborno.
Sánchez fue partícipe, a título lucrativo, del abominable negocio de la prostitución. pic.twitter.com/CgkKSmcRXU
— Alberto Núñez Feijóo (@NunezFeijoo) July 9, 2025
Durante uma operação policial para investigar Villarejo foram apreendidos 13 diários e num deles constava a anotação que viria a dar as notícias sobre o negócios das saunas. O ex-polícia relatava um almoço em Madrid que juntou dois polícias (mais tarde revelados como os comissários Enrique García Castaño e Enrique Barón) e o sogro de Sánchez, um dia depois de o político ter vencido as eleições internas para a liderança do PSOE, numa altura em que o partido estava na oposição.
“Na segunda-feira seguinte à vitória de Pedro Sánchez nas eleições, BIG e GB encontraram-se para almoçar com o sogro, Sabiniano Gómez Serrano, irmão de Conrado e Enrique, donos de várias saunas sexuais. Duas para homossexuais na Rua San Bernardo e uma para héteros na lateral da Rua Princesa”, lia-se a nota escrevinhada à mão, segundo o ABC. Várias fontes ouvidas pelo jornal confirmaram depois que o sogro chegou a dedicar-se a esse negócio, mas que na altura do almoço há muito o tinha deixado nas mãos dos irmãos.
Quase um ano depois da investigação, em julho de 2022, o ABC publicava uma nova peça sobre os negócios do pai de Begoña Gómez, casada com Sánchez desde 2006, que está atualmente a ser investigada por corrupção e tráfico de influências. “José Manuel Villarejo informou o governo de Mariano Rajoy dos negócios de prostituição do sogro de Pedro Sánchez para que o pudessem ‘matar politicamente'”, lia-se no artigo.
Segundo o jornal espanhol, pouco depois de Sánchez vencer as eleições internas de 2014, Villarejo reuniu-se com o secretário de Estado da Segurança, Francisco Martínez. Queria dizer-lhe que se ia reformar, mas durante a conversa falou-lhe do negócio das saunas, que Villarejo garantiu a pés juntos não ter contado a “ninguém”. “Eles [o sogro de Sánchez e os irmãos] administram saunas de prostitutas”, contou, explicando que o sabia porque o seu sogro e os seus irmãos eram amigos de polícias que frequentavam as saunas.
A conversa entre os dois é conhecida porque o ex-polícia a gravou, como era seu hábito, sem o conhecimento de Martínez, que, surpreso, interrompe: “E Sánchez sabe com certeza, sabe perfeitamente o que o sogro faz …”. “Sim”, Villarejo, que descreve a informação como um ponto “fraco” do líder do PSOE e diz ao secretário de Estado da Segurança que o então governo do PP, liderado por Mariano Rajoy, o poderia usar em seu favor.
“Isto é mortal, mortal. Quando for necessário … é uma questão que só se deve discutir com o presidente e o número um”, afirmou Villarejo na gravação de quase duas horas, segundo o ABC. Martínez concorda que seria a morte política de Sánchez: “Isso mataria qualquer um politicamente, a alguém que anda por aí a agitar essa bandeira feminista e sei lá o quê”. O secretário de Estado acrescenta que primeiro devem saber tudo sobre os negócios, com o polícia a concordar e a afirmar que isso deve ser feito em segredo.
Fontes próximas dos à época dirigentes do Ministério da Administração Interna garantiram, porém, ao ABC que “absolutamente nada foi feito” com as informações transmitidas por Villarejo. O assunto parecia esquecido, até às recentes declarações de Feijóo.
Muito antes de ter Sánchez como genro, e de o ver ser eleito presidente do governo espanhol, Sabiniano Gómez entrou no ramo empresarial. Corriam os anos 80 e o seu primeiro passo foi comprar o Cine Mundial, na Rua Alcalá, em Madrid, que converteu num espaço para eventos, escreve o El Mundo. Mais tarde abriu na Rua San Bernardo o negócio que haveria de pôr o seu nome e o de Sánchez na imprensa: a sauna Adán. Com o irmão, Enrique, viria também a comprar um espaço anexo ao edifício, que transformaram em 14 quartos que alugavam.
O negócio foi crescendo e seguiram-se a sauna Azul, a sauna Princesa e a sauna Mayka, descreve o jornal espanhol, acrescentando que outro irmão de Sabiniano, Conrado, geria um bordel assumido — o bordel Sauna Bar, mais tarde renomeado Roses Girls. Segundo o El Mundo, em 2006, ano em que Pedro Sánchez e Begoña Gómez casaram, Sabiniano saiu “discretamente” dos negócios e Enrique tornou-se “o rosto” da rede. Já em 2013 o negócio deixou de ser propriedade dos irmãos Gómez e passou para as mãos de Ángel Prieto Paz.
O tema ganhou agora fôlego com a acusação de Feijóo de que Sánchez teria beneficiado dos negócios do sogro, algo que não consta nas investigações do ABC, que avançou o tema. Sabe-se que o líder do PSOE, antes de se mudar para o Palácio de Moncloa, viveu com a mulher numa casa comprada pelo sogro, em Pozuelo de Alarcón, segundo confirmou Sabiniano Gómez ao OK Diario, sem detalhar quando fez a aquisição ou que fundos utilizou. Num artigo publicado esta quinta-feira, na sequência das declarações do líder do PP, o El Mundo nota que o casal recebe cerca de dois mil euros do arrendamento da residência.
observador