Jonathan Anderson faz rebranding da marca homónima

Cerca de uma semana depois da estreia como diretor criativo da Dior, Jonathan Anderson anuncia que a marca homónima vai passar por um rebranding. A JW Anderson a partir de agora não vende só roupa, mas também artigos de lifestyle, como itens para a casa, decoração, arte e até chás e frascos de mel, tal qual Meghan Markle.
A ideia é fugir das coleções sazonais e focar na curadoria de produtos de luxo, mostrando-se uma marca atrativa não só para o público jovem que já acompanha a ascensão do designer irlandês, que fez carreira na última década na espanhola Loewe, mas também apelar a clientes mais maduros e com maior poder de compra. “Não quero ficar preso ao calendário de desfiles. Estou na Dior agora e quero focar nisso”, explicou Anderson, num evento na Galerie Joseph, em Paris, citado pelo The Guardian.
A partir de setembro, a JW Anderson deve começar a vender artigos colecionáveis ou relíquias de família, como cadeiras, joias, arte, produtos alimentares, produzidos por outros artistas ou marcas, como um chá com sabor de café da London’s Postcard Teas ou os itens de jardinagem restaurados da Garden and Wood. “Não podemos produzir coisas assim que duram tanto tempo. Mas tudo fica melhor com a idade”, diz Anderson sobre o trabalho de curadoria. “A ideia é que ao lançar, tenhamos o produto em loja. Não quero alta rotatividade. Quero um modelo que faça sentido nos dias de hoje, e este parece-me o modelo mais sustentável”.
Entretanto, as roupas continuam a fazer parte do catálogo, com versões melhoradas dos maiores sucessos da JW Anderson. É o caso de uma kilt azul marinha que ganha bolsos ou a carteira em formato de pomba (icónica nas mãos de Carrie Bradshaw na segunda temporada de And Just Like That…, em 2022), que agora tem um bico mais suave e durável.
Ainda antes da apresentação, Anderson já dava sinais sobre o caminho da marca. Há alguns meses, a JW Anderson tem partilhado no Instagram imagens de peças de arte misturadas com as fotografias de editoriais de moda e peças de roupa. Ao longo da última semana, foram publicados os looks da coleção resort spring 2026, com algumas das personalidades que estão associadas ao designers há anos — como o ator Joe Alwyn ou o realizador Luca Guadagnino. Usam roupas JW Anderson e seguram chávenas ou pás de jardinagem.
A aposta é ousada, mas parece seguir uma tendência para as marcas luxo. A Louis Vuitton, por exemplo, apresentou em abril na Milan Design Week uma coleção para a casa. De acordo com dados da Euromonitor citados pela Vogue Business, o mercado de artigos para a casa e jardinagem deve crescer 1,3% e faturar mais de 100 mil milhões de euros este ano, enquanto o mercado de itens de luxo pode crescer 4,3% e chegar aos 125 mil milhões no mesmo período — porém, dentro deste nicho, a previsão para o crescimento no consumo de peças de roupas e calçados é de apenas 0,68%. “O lar tem-se tornado um polo central, envolvendo espaços com múltiplos propósitos: para conviver, trabalhar, dormir, comer, entreter-se e exercitar-se, uma tendência amplificada por modelos de trabalho híbridos. Isto levou a uma priorização por passar tempo em casa, com marcas de luxo a expandir as suas ofertas neste sector”, explica Fflur Roberts, especialista em bens de luxo na Euromonitor International.
O movimento também pode ser benéfico para os negócios. Em 2013 a LVMH, dona da Dior, comprou uma parte minoritária da marca do designer irlandês. Assim, Jonathan Anderson passa a estar mais focado no desenvolvimento das 10 coleções femininas e masculinas, resort e alta costura da Dior, apresentadas anualmente, enquanto a JW Anderson passa a expandir o mercado, chegando a novos públicos e potencialmente aumentando os seus rendimentos.
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