Uma conexão inesperada entre inteligência e ética surgiu

Nos últimos anos, psicólogos e cientistas comportamentais têm buscado cada vez mais compreender como a capacidade cognitiva influencia a formação de crenças e valores morais. Novas pesquisas desafiam a noção comum de que pessoas mais inteligentes necessariamente possuem padrões morais mais elevados ou "iluminados". Em vez disso, as descobertas sugerem que pessoas com maior capacidade cognitiva tendem a ser menos propensas a endossar ativamente valores morais em todos os domínios.
Há muito tempo se supõe que pessoas inteligentes com forte pensamento analítico são mais éticas e moralmente responsáveis. É por isso que muitas pessoas acreditavam que alta inteligência contribui para uma compreensão mais profunda das normas sociais e éticas e, portanto, para um apoio mais forte a elas. No entanto, uma nova pesquisa sugere o contrário. Ela utilizou uma versão atualizada da teoria dos fundamentos morais, um modelo que sugere que os julgamentos morais se baseiam em seis "fundamentos" intuitivos. Entre eles, destacam-se dois princípios "individualizantes": cuidado e justiça, que visam proteger os indivíduos e garantir a igualdade. Os outros quatro (lealdade, autoridade, pureza e proporcionalidade) são considerados "essenciais" para manter a coesão social, a hierarquia e os valores compartilhados.
Curiosamente, dentro dessa teoria, as pessoas atribuem diferentes pesos a cada um desses princípios. Os liberais tendem a enfatizar o cuidado e a justiça, enquanto os conservadores valorizam todos os seis, especialmente aqueles relacionados à lealdade, autoridade e pureza. Essas diferenças, argumentam os pesquisadores, refletem intuições morais profundamente arraigadas, em vez de raciocínio consciente. Em dois estudos de larga escala envolvendo mais de 1.000 pessoas no Reino Unido, os pesquisadores utilizaram testes especialmente elaborados para avaliar a capacidade cognitiva e um questionário para medir a adesão aos seis fundamentos morais.
O primeiro estudo incluiu 802 participantes que responderam a um questionário sobre valores morais e, duas semanas depois, realizaram uma série de testes cognitivos que avaliaram raciocínio verbal, reconhecimento de padrões numéricos e pensamento abstrato. O segundo estudo, que incluiu 857 pessoas, foi realizado no mesmo dia, o que permitiu a sincronização máxima da coleta de dados e reduziu a influência de fatores aleatórios. Em ambos os casos, os mesmos métodos foram utilizados, o que garantiu a consistência dos resultados. A análise dos dados mostrou que pessoas com níveis mais altos de inteligência tendiam a ter menor apoio a todos os seis fundamentos morais.
"Isso significava que quanto maior a capacidade cognitiva, menos importantes eles consideravam princípios como cuidado, justiça, lealdade, autoridade e limpeza", concluíram os cientistas. Segundo os pesquisadores, foi particularmente interessante descobrir que a inteligência verbal estava especialmente associada a um menor apoio a valores relacionados à limpeza e à integridade física. Um aspecto importante do estudo também foi o exame das diferenças entre homens e mulheres. Embora as pontuações médias para princípios morais tenham diferido entre homens e mulheres, a relação entre inteligência e apoio a valores morais foi a mesma para ambos os sexos, o que confirma a universalidade dos padrões obtidos.
Os resultados desses estudos levam a uma reconsideração das ideias convencionais sobre o papel da inteligência na moralidade. Em particular, eles apoiam a hipótese de que um pensamento analítico mais desenvolvido ajuda a enfraquecer a dependência de reações morais intuitivas. Pessoas com altos níveis de habilidades cognitivas tendem a questionar ou repensar suas crenças morais, o que as torna menos propensas a apoiar automaticamente valores tradicionais.
Uma explicação que os cientistas dão para esse fenômeno é que o pensamento analítico, associado à alta inteligência, ajuda a reduzir as reações emocionais a dilemas morais. As intuições morais frequentemente se baseiam em uma rápida avaliação emocional do certo e do errado, enquanto o raciocínio analítico envolve uma abordagem mais neutra e ponderada.
"Como resultado, pessoas com pensamento analítico desenvolvido podem ser menos propensas a aceitar julgamentos morais como verdadeiros e mais propensas a questioná-los ou repensá-los. Isso pode explicar por que pessoas mais inteligentes geralmente demonstram menos apoio aos valores morais tradicionais, especialmente aqueles relacionados à adesão a normas sociais, tradições e pureza", comentam os psicólogos sobre os resultados.
Curiosamente, pesquisas também constataram que a inteligência verbal está particularmente associada a uma menor adesão a valores relacionados à limpeza e à integridade física. Pessoas com alta habilidade verbal tendem a usar a linguagem e o raciocínio para desafiar ou reinterpretar os limites morais tradicionais como ultrapassados ou desnecessários. Isso pode ser indicativo de uma tendência mais ampla, na qual pessoas inteligentes usam suas habilidades analíticas para reduzir o papel das normas morais na restrição do comportamento, o que, por sua vez, levanta questões sobre a natureza das crenças morais e sua dependência das habilidades cognitivas.
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