O ato orgulhoso de Kristi Noem como uma bimbo MAGA se baseia no legado de Sarah Palin

Kristi Noem sabe o que é habeas corpus? Uma coisa sabemos com certeza: ela gostaria muito que os americanos acreditassem que ela não sabe. Na terça-feira, o chefe do Departamento de Segurança Interna (DHS) usou uma audiência no Senado para insistir que o termo legal significa o oposto de sua definição real . "Habeas corpus é um direito constitucional que o presidente tem para poder remover pessoas deste país e suspender seu direito", disse Noem com seus lábios irritantemente inflados de Botox . Ela foi interrompida pela senadora Maggie Hassan, Democrata de New Hampshire, que explicou a uma Noem com ar presunçoso que, não, o habeas corpus "exige que o governo apresente uma razão pública para deter e prender pessoas" e é a razão pela qual é ilegal para Donald Trump prender imigrantes e aprisioná-los em gulags estrangeiros sem apresentar uma razão legal para isso.

Noem estava legitimamente confusa? Jonathan Chait, do The Atlantic, acredita que sim, escrevendo que a "ignorância de Noem parece ser totalmente genuína". Afinal, "habeas corpus" é um termo latino usado por advogados, mas não por leigos, especialmente aqueles, como Noem, que se formaram por meio de cursos online aos 40 anos. Mas não tenho tanta certeza de que Noem, que está imersa neste debate sobre direitos humanos básicos há meses, seja tão burra quanto parecia naquele momento. Aqueles que continuam assistindo perceberão que Noem não se mostra envergonhada quando é corrigida, como as pessoas normais fazem quando erram terrivelmente. Em vez disso, ela insiste que "o Presidente dos Estados Unidos tem autoridade, sob a Constituição, para decidir se o habeas corpus deve ser suspenso ou não". Nessa mentira, Noem admitiu que Trump está tentando suspender o habeas corpus, não mantê-lo. Isso sugere que ela sabe muito bem do que se trata a verdadeira batalha jurídica.

Houve muita zombaria contra Noem por ser tão burra na grande mídia e na mídia de esquerda, mas, notavelmente, nem Noem nem seus aliados demonstraram qualquer vergonha ou atitude defensiva em relação ao seu suposto erro. Seja Noem honestamente falando sobre sua confusão ou apenas fingindo, ela está lá para desempenhar o papel da orgulhosa mulher MAGA, na grande tradição de figuras como Sarah Palin . A mulher MAGA não é apenas ignorante. Ela despreza pessoas que realmente sabem do que estão falando, especialmente se esses seres humanos carregados de fatos forem mulheres.

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No mundo MAGA, a estupidez é um distintivo de honra para ambos os sexos, mas a cabeça das mulheres precisa estar completamente vazia. Aprender com livros, na terra do MAGA, é para lésbicas e mulheres gatas. A inteligência atrapalha os verdadeiros deveres da feminilidade MAGA: manter sua aparência altamente artificial e, crucialmente, defender o homem a quem você serve com todo o seu coração e alma. Especialmente se o dito homem, neste caso Donald Trump, for mais burro do que uma caixa de pedras. É muito mais fácil ser uma mulher que diz sim a um homem assim se você desligar completamente o seu próprio cérebro.

Durante décadas, na cultura pop, a figura da mulher burra alimentou o ego de homens que precisam que as mulheres sejam burras para se sentirem inteligentes. Ser burra significa que ela não é ameaçadora, o que torna a mulher burra sexy. A lealdade da mulher burra é garantida. Ela precisa ser leal ao seu homem porque não consegue sobreviver sem ele. Mas a mulher burra sempre foi mais fantasia do que realidade. Marilyn Monroe conseguia arrancar risadas com sua atuação de coelhinha burra . No entanto, fora das telas , ela era uma leitora ávida com fortes visões políticas de esquerda , que optou pelo divórcio quando seus maridos tentaram limitar suas ambições profissionais.

A versão do século XX da "bimbo" era fraca, mas quase sempre bondosa, exibindo uma generosidade infantil para com os outros. A inovação do movimento MAGA, no entanto, é fazer da bimbo uma figura desagradável, tão cruel quanto burra. No passado, o que os homens queriam de uma bimbo era alguém com lealdade canina. Para o homem de direita de nosso tempo, o anseio é mais por um cão de ataque, alguém que se lance para lutar suas batalhas, sem a restrição de preocupações intelectuais sobre se isso faz sentido.

Palin estabeleceu o padrão em 2008, quando foi tirada da obscuridade como governadora do Alasca para servir como companheira de chapa presidencial do senador John McCain, republicano do Arizona. Podemos ter mais certeza de que Palin herdou sua cabeça vazia naturalmente. Durante sua infame entrevista com Katie Couric , Palin pareceu incomodada com sua incapacidade de responder a perguntas básicas sobre notícias ou educação cívica. Logo, porém, sua vergonha se transformou em desafio, enquanto multidões de eleitores republicanos da base — o tipo de pessoa que hoje entendemos como MAGA — aplaudiam Palin com entusiasmo. Sua tolice se tornou uma fonte de força para essa multidão, porque alimentava o que eles realmente amavam: sua capacidade de demonizar qualquer um que ela não considerasse um americano "de verdade". Mesmo quando se voltou contra McCain, Palin se transformou no cão de ataque fantasioso que os eleitores queriam. A ignorância é uma bênção, pelo menos para os intolerantes.

A figura da bimbo maldosa não é apenas um projeto político de direita. Ela se baseia em outra inovação do século XXI: a ascensão de reality shows estridente como "O Aprendiz". Há, é claro, muitos reality shows bem-humorados como "Great British Bake-Off" ou "Queer Eye". Mas a estética do MAGA se aproxima mais dos programas no estilo "Real Housewives", onde o comportamento mesquinho e cruel é recompensado em detrimento da decência humana. Foi nos reality shows que a bimbo se transformou da imagem doce, mas estúpida, retratada por Monroe, na esposa troféu vingativa que desabafa suas queixas inúteis jogando taças de vinho. Noem deixou isso claro na quinta-feira à noite ao tuitar "Chupa!" em resposta a uma pequena vitória judicial em sua campanha para deter e aprisionar imigrantes ilegalmente .

A visão da dona de casa real que joga vinho é o estereótipo que Noem moldou para si mesma, combinando suas roupas caras e cirurgias plásticas com demonstrações de um sadismo de tirar o fôlego, tudo realizado como se ela fosse literalmente estúpida demais para saber mais. É assim que obtemos imagens de Noem maquiada com um Rolex de US$ 60.000 desfilando na frente de homens seminus em uma prisão de tortura, como se ela fosse uma "Ilsa, a Loba da SS" da vida real. Ou vestindo vários uniformes com maquiagem completa e um penteado de cabelo para conduzir incursões, ganhando o apelido de "Barbie do Gelo".

Ela é inteligente o suficiente para saber mais? É tudo encenação? Ela é mesmo tão desmiolada?

É difícil dizer, mas, de certa forma, não importa. Durante sua audiência no Senado, Noem foi perfeitamente clara em uma questão: Trump tem o direito absoluto de governar como um ditador e prender quem quiser, sem respeitar as leis, as evidências e, principalmente, os direitos humanos. Ser — ou pelo menos agir — burra demais para entender o que ela está dizendo a ajuda. Funciona como um escudo, desviando perguntas sérias sobre seu comportamento sociopático para uma discussão sobre seu QI. Afinal, ninguém espera um raciocínio moral mais elevado de alguém estúpido demais para aprender o que significa "habeas corpus" antes de testemunhar publicamente sobre isso. Sua inteligência, como retratada, fica abaixo do limiar da responsabilidade moral. A bimbo só consegue agir por impulso, nunca por informação. Nessa narrativa MAGA, são os liberais os malvados por exigirem mais de uma mulher vista como mentalmente incapaz de lidar com isso.