Irã e Israel já foram aliados próximos. Os iranianos israelenses vivem na tensão de uma identidade dividida


Quando Israel atacou o Irã em junho e Teerã imediatamente começou a disparar foguetes contra cidades israelenses, foi um choque psicológico, especialmente para os judeus persas. Cerca de 250.000 deles vivem em Israel, 60.000 em Los Angeles. Comunidades menores podem ser encontradas em outras cidades dos EUA e da Europa, como Milão. No próprio Irã, restam apenas 10.000 pessoas. Para todos eles, o conflito tornou-se uma luta interna – entre a origem e a pátria, entre a lealdade e a sobrevivência, entre a memória e o presente.
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O judaísmo persa ou iraniano é uma das comunidades da diáspora mais antigas do mundo. As raízes da vida judaica na Pérsia remontam ao século VI a.C. – ao início do cativeiro babilônico. Os séculos na Pérsia foram uma época predominantemente feliz para os judeus. Isso também é evidenciado pelo feriado judaico de Purim, que comemora o resgate dos judeus de seus algozes pelo rei persa.
Relações sob o XáUm capítulo completamente diferente teve início no século XX, sob o governo do Xá Mohammad Reza Pahlavi. Ele enfatizou a modernização e a unidade nacional e concedeu aos judeus certos direitos civis. As escolas judaicas ensinavam hebraico e farsi, e alguns graduados trabalharam posteriormente como diplomatas, advogados ou professores universitários na construção de um Irã moderno. Ao mesmo tempo, Irã e Israel estabeleceram laços estreitos: Israel auxiliou em projetos de construção militar e irrigação no Golfo Pérsico, enquanto o petróleo iraniano era exportado para Israel. O intercâmbio de pesquisas em tecnologia nuclear e desenvolvimento de satélites também consolidou uma aliança estratégica latente.
Essa era terminou abruptamente com a Revolução Islâmica de 1979. O aiatolá Khomeini declarou Israel uma "entidade sionista" que precisava ser eliminada. A destruição de Israel foi um dos fundamentos ideológicos de suas políticas extremistas radicais. Judeus que haviam cooperado com o Xá, a quem Khomeini odiava, sofreram intensa pressão: sinagogas foram controladas, escolas judaicas fechadas e muitos representantes foram presos ou forçados a deixar o país. Dezenas de milhares de judeus fugiram para países ocidentais via Paquistão ou Turquia; alguns até embarcaram nos últimos voos da companhia aérea israelense El Al, de Teerã diretamente para Tel Aviv.
Conectado com a cultura persaOs judeus iranianos diferem de outras comunidades judaicas por preservarem suas tradições ao longo de gerações. Seja a culinária persa, com seus pratos de arroz, ou a língua farsi, que até mesmo a terceira ou quarta geração ainda fala: muitos judeus iranianos se apegam à memória de sua antiga pátria. Eles traçam uma distinção muito clara entre o país e sua cultura e o regime dos mulás, que, com seu ódio aos judeus e seu antissionismo, se tornou a maior ameaça ao mundo judaico, mas especialmente ao Estado de Israel.
Para Israel, a imigração de judeus persas foi uma bênção, especialmente na área de inteligência. Judeus iranianos, com suas habilidades linguísticas, eram urgentemente necessários nas agências de inteligência Aman e Mossad para descobrir os planos e ações do regime em Teerã. Beni Sabti é um deles. Seu pai foi sequestrado pelo regime por ser judeu, mas teve a sorte de ser libertado. A família decidiu fugir para Israel via Paquistão quando Beni tinha quinze anos.
Mesmo durante seu tempo no exército, Sabti analisava informações e notícias de seu país natal. Hoje, ele trabalha como especialista em Irã no renomado think tank INSS da Universidade de Tel Aviv. Durante a guerra, tornou-se uma estrela da mídia da noite para o dia, explicando o pensamento e as ações dos mulás noite após noite na televisão israelense em hebraico com sotaque persa.
Sabti não tem dúvidas de que a guerra de agressão de junho foi necessária para salvar Israel da catástrofe: "O Irã estava doente, precisava de uma operação. E o único cirurgião disponível era Israel", explica laconicamente. Embora se considere israelense há muito tempo, não foi fácil para ele assistir aos bombardeios israelenses, porque, com sua origem familiar, "você pode deixar o Irã, mas o Irã nunca te deixa".
Esse dilema é particularmente familiar para aqueles que nasceram no Irã, como Orly Noy, presidente da organização israelense de direitos humanos Betselem. Ela abandonou seu primeiro nome persa, Moygan, quando chegou a Israel ainda jovem. Assim como Beni Sabti, ela se considera "100% israelense". Ela é extremamente crítica das políticas de Israel, falando de um "Estado de apartheid" e de um "genocídio" em Gaza.
Noy mantém uma ligação estreita com a cultura de seu país natal, traduzindo literatura persa para o hebraico para aproximar os tesouros literários do estado inimigo de seus compatriotas israelenses e, assim, promover a compreensão da terra distante. Quando os bombardeios israelenses atingiram Teerã e Isfahan, ela sentiu uma dor profunda: "Muitos israelenses não percebem que uma cultura centenária e maravilhosa está sob ataque." Seu medo era duplo durante toda a guerra.
O medo pelos judeus no IrãO medo de Orly Noy era duplo durante a guerra. Ela e sua família sentavam-se ansiosamente no bunker de seu apartamento em Jerusalém sempre que havia um alerta de foguete, enquanto se preocupavam com seus parentes no Irã. Como muitos judeus persas em Israel e em outros lugares, Noy ainda tinha parentes na República Islâmica. Ela não sabia se eles ainda estavam vivos: "Não posso ligar para eles. Uma ligação de Israel? Seria muito perigoso para eles", diz Noy.
O perigo que os poucos judeus restantes no Irã ainda enfrentam tornou-se evidente imediatamente após o fim da guerra. O regime de Teerã imediatamente começou a prender figuras importantes da comunidade judaica iraniana como potenciais "agentes sionistas". Noy continua a temer por sua família.
Entre a lealdade e a traição, entre o orgulho de sua própria herança e a necessidade de proteger sua atual pátria israelense, os iranianos israelenses se encontram presos em um campo de tensão que não permite respostas fáceis. A guerra expôs esse conflito interno, essa identidade dividida. É um dilema com o qual muitos sobreviventes do Holocausto da Europa Oriental, por exemplo, não estão familiarizados. Seus países de origem já eram um local de antissemitismo antes da Shoah. Eles lamentam a perda de suas famílias assassinadas, mas os países que os expulsaram, como Polônia, Hungria ou Ucrânia, não são mais lugares de saudade para eles.
Há judeus iranianos, no entanto, que se identificam com isso. Navid Toobian, ex-editor-chefe da rádio israelense em farsi, agora trabalha em Tel Aviv no Instituto de Pesquisa de Mídia do Oriente Médio, uma ONG que analisa a mídia islâmica. Ele e sua família tiveram repetidas experiências antissemitas no Irã dos mulás. Os ataques aéreos israelenses não despertaram nele nenhum sentimento ambivalente: "O Irã de hoje não é mais meu país", explica o israelense convicto. "Não senti que minha casa estivesse sendo bombardeada."
A esperança viveE, no entanto, em meio a toda a destruição e hostilidade, um tênue vislumbre de esperança permanece: os judeus iranianos, entre todos os povos — uma comunidade tão profundamente enraizada em ambas as culturas — poderiam um dia se tornar construtores de pontes entre Israel e o Irã. Suas biografias carregam a língua, as histórias e os valores de ambos os mundos. Eles têm consciência tanto da beleza quanto da dor da cultura persa, mas, ao mesmo tempo, criaram novas raízes em Israel. Quem, senão eles, poderia romper as narrativas hostis de ambos os lados e relembrar um passado compartilhado no qual a coexistência era possível?
Os judeus iranianos são um testemunho vivo de que a identidade não precisa ser exclusiva — de que é possível sentir-se conectado a um país, mesmo que tenha que deixá-lo. Talvez seja justamente sua capacidade de traduzir a cultura, sua ancoragem emocional em ambos os lados, que um dia possibilitará o diálogo onde hoje só prevalecem o silêncio ou as ameaças. Aqueles que vivem entre duas frentes sofrem duas vezes — mas também têm o potencial de construir pontes onde outros só enxergam fronteiras.
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