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Anjos vs Joana Marques. O que está em causa?

Anjos vs Joana Marques. O que está em causa?

Nelson recorreu até à linguagem jurídica. “O vídeo dela estava-nos a causar danos patrimoniais. Grande parte daqueles concertos cancelados iam ser feitos nas comunidades portuguesas, lá fora, portanto, Suíça, Alemanha, França, Luxemburgo, e os empresários não quiseram arriscar [contratar-nos] quando andava toda a gente a gozar connosco na internet. Se não tivesse acontecido aquilo [vídeo], nunca na vida tinham desmarcado os concertos”, garantiu. E, por via dessa situação, perderam “dois patrocínios grandes, que iam fazer campanhas digitais”.

Os irmãos disseram ter sido “obrigados a ir para o tribunal”, justificando ter a seu encargo “uma equipa de mais de 28 pessoas à espera de serem ressarcidas”.

Para Sérgio Rosado, “custa muito” falar de tudo o que se passou. “Só que os estragos já estão feitos. A família sofre muito com isto. Não podíamos deixar passar, foi demasiado grave. Nós não temos [sentido de] humor? Acusam-nos de não ter sentido de humor? O humor serve para quê?! Para nos fazer rir. Para divertir. Eu, se mando uma piada, e se vejo que do outro lado causa injúrias ou outro tipo de problemas, tenho de reconhecer que estive menos bem”, lamentou Sérgio.

“Vai ser muito complexa a discussão na sociedade. ‘Será que vale tudo?'”, atirou Nelson. “Para mim, a liberdade de expressão tem um limite: é a partir do momento em que tu causas danos. Aí é o limite”, defendeu, garantindo que nunca se tentou “chegar a um acordo” financeiro, que não houve da parte da visada essa vontade, e que para os músicos “bastava ter retirado o vídeo na altura”. Sérgio Rosado deixou ainda uma revelação: “A minha filha de nove anos, na altura, sofreu bullying na escola, dos colegas”.

Nelson disse ainda que ambos acabariam também por sofrer bullying: “O vídeo da Joana Marques é o único [na internet] em que não aparecemos a cantar o hino na sua totalidade. Houve erros técnicos e quem tinha de pedir desculpa, reconheceu-os. Há partes da nossa interpretação que não existem no vídeo da Joana Marques. E nós fomos acusados [de desrespeitar o hino] por grupos provavelmente ligados à extrema-direita, nomeadamente grupos nacionalistas, que levam aquilo a sério, e acho muito bem. Quem é que fez o vídeo? Quem é que fez a manipulação? Fui eu?!”

Para Sérgio, Joana Marques “agiu de má-fé”, daí o alto valor da indemnização: “É claro que o valor [da indemnização] é muito grande. Mas são quatro os autores [da queixa], eu e o Nélson, e outras duas empresas.”

À espera “de poderem ser ressarcidos” estão “roadies, músicos, técnicos, staff de produção, runners, stage hands, pessoas importantíssimas [nos concertos]”, que foram “verdadeiramente prejudicadas”. “Não foi fácil conseguir gerir os ânimos de toda a nossa equipa. Porque são pessoas, algumas delas bastante humildes e… rudes. Estamos à espera que aconteça o quê? Uma tragédia?! Que alguém se suicide por ser vítima de bullying? [Exagero?] Não é um exagero”.

Se o tema dos limites do humor há muito se discute, a penalização tem estado na ordem do dia à conta da condenação do humorista brasileiro Léo Lins a oito anos de prisão e uma multa de 1,4 milhões de reais por piadas do programa Perturbador, removido do YouTube.

O caso Joana Marques vs Anjos tem merecido comentários de vários humoristas portugueses, entre eles João Manzarra. “É fazer com que um assunto perdure no tempo”, disse o apresentador no podcast A Beleza das Pequenas Coisas, do Expresso. “Se não houvesse esse processo, ninguém estava a falar disso. Isso faz com que toda a gente vá ver o vídeo.”

Já Diogo Batáguas, autor de Conteúdo Batáguas, abordou o tópico no programa mensal: “Vá lá, maltinha, foi um vídeo de um minuto com caretas. O restaurante Dom Bacalhau em Lausanne não vai deixar de vos contratar para gala dos 35 anos do rancho folclórico etnográfico das terras de Santa Maria Rio de Meão só porque a Joana Marques fez uma piada no Instagram.”

Ricardo Araújo Pereira, no podcast Assim Vamos Ter de Falar de Outra Maneira, que partilha com José Diogo Quintela e Miguel Góis, também se pronunciou: “É um vídeo que a Joana fez no Instagram, um vídeo que tem um minuto. Esse vídeo de um minuto que produziu um estrago no valor de 1,1 milhões de euros. O que os Anjos alegam é que o vídeo lhes causou um dano de quebras de contratos, produtores que deixaram de os convidar para trabalhar, dar concertos. Ora, a própria agência revela que eles nos últimos, sei lá, 12 anos, faturaram anualmente um pouco acima de 200 mil euros. Portanto, o vídeo de um minuto da Joana fez com que eles tivessem um prejuízo equivalente a sete anos de trabalho. Eles entretanto voltaram a trabalhar e bem, não se têm queixado”, resumiu o comediante.

observador

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