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Os odiados

Os odiados

O Talmude há muito tratou aquilo que na modernidade se convencionou chamar de filosofia da estupidez. Os estúpidos são um perigo público que não é possível desconsiderar, pelo prejuízo que a terceiros provocam, e jamais podem ter nas mãos qualquer tipo de poder social, sob pena de deitarem abaixo nações inteiras. Entende-se que muitos apaixonados das esquerdas políticas não gostem da história de Portugal e de qualquer tipo de patriotismo que não seja inspirado em Lenine, Mao ou nos naturalistas de Frankfurt. Também se compreende que os nacionalistas extremados que campeiam na internet cultivem o sonho irreal de uma pátria “ariana” de lusopitecos e de cruzados católicos. Todavia, não é possível entender como é que, uns e outros, rejeitam o papel do judeu individual e colectivo na formação da identidade portuguesa, na fundação do reino e no caminho de 300 anos que criou uma potência mundial. Com o devido respeito, quem desconhece a história de Yaish Ben Yahia, Negro, Navarro, Guedelha, Abravanel e muitos outros, não deve falar em nome de Portugal, muito menos decidir o que quer que seja.

Há uns anos, um honesto assessor do governo socialista, e mais tarde ministro da economia, deu graças por poder beneficiar do possível apoio dos judeus de origem portuguesa para explorar as riquezas do mar português que ferramentas como o astrolábio e as cartas astronómicas de Abraham Zacuto um dia permitiram alcançar. Aquele intuito patriótico era simples de concretizar, pelo simples facto de que inúmeras famílias de sangue português lidam, desde há gerações, com recursos energéticos, em Israel, na China, Índia, EUA, Rússia, etc. Tudo falhou em relação ao desejado, porque à comunidade judaica mais forte do país foi movida guerra de morte, não por parte de patriotas, mas de super-estúpidos, que prejudicaram a nação e a si próprios, na sua senda declaradamente antissemita e anti-israelita.

A liberdade religiosa foi totalmente espezinhada por elementos coligados – e identificados – dos poderes executivo, legislativo, judiciário e mediático portugueses. Bradavam que a comunidade não sabia o que era um judeu; que a neta do Dreyfus português não era judia; que o único nacional casado por um Chefe Rabino do Estado de Israel não professava a fé judaica; que emolumentos de valor simbólico pagavam museus e filmes de história – que crime!; que a sinagoga Kadoorie estava a celebrar o melhor Yom Kipur da Europa – que crime!; e que o templo deveria ser invadido por polícias abanando denúncias anónimas. Tal como na longa noite da Inquisição, poderes públicos instigaram o manicómio a pôr a circular denúncias convenientes e não assinadas. Uma festa. Não faltou o debate televisivo e o tráfico entre poderes públicos que as leis queriam separados. Assim se trataram os “Ivos Rosa” da Comunidade Judaica do Porto, à bastonada!

O pior ficou reservado para um decreto-lei de 2015 que, aquando da sua aprovação, o PSD declarara ser um sinal claro contra o antissemitismo. Os ataques descabelados contra tal decreto resultaram em cuspidelas em todos – todos! – os judeus que haviam visto as suas origens sefarditas certificadas pela Comunidade Judaica do Porto, que por meses encaixou notícias de cariz negativo, publicadas de manhã, à tarde, de noite e de madrugada, tendo havido mesmo um órgão informativo do mainstream a publicar 39 peças informativas sem ouvir sequer por uma vez a entidade visada. O que é isto senão corrupção de Estado, contra uma organização privada dedicada à vida judaica?

Resposta das constelações judaicas. Em 7 de outubro de 2023, o saldo do genocídio em Israel cifou-se em 24 portugueses, entre mortos, feridos e reféns, todos de origens sefarditas claras, pelo menos para quem não é totalmente apedeuta em matéria judaica. Já aqui escrevemos sobre os casos individuais. Vamos agora a contas, face ao plano de Donald Trump relativo ao conflito do Próximo Oriente. Sobreviveram Segev Halfon (27 anos), de família sefardita tradicional de Marrocos e da Tunísia (sendo que a comunidade judaica portuguesa de Túnis guarda os correspondentes contratos de casamento) e Ariel Cunio (28) e David Cunio (35), de família sefardita tradicional da Turquia, havendo registos familiares em Esmirna, nas antigas instituições “Kahal Kadosh Portugal” e “Dotar as Órfãs”. Os Cunio, além de israelitas e portugueses, são cidadãos argentinos. Há também três falecidos, de abençoada memória: Yossi Sharabi (53), de família marroquina de sobrenome Turgeman, que conta com registos no cemitério judaico de Lisboa, uma vez que membros desta família regressaram a Portugal depois da abolição da Inquisição; Ran Gvili (26), de família sefardita egípcia, bisneto de Eduardo Nada, que sempre desejou que os seus descendentes partissem para Israel e jamais abandonassem o país, por ser aquele o único lugar seguro para os judeus; e Dror Or Ermoza (48), de família sefardita otomana, que falava ladino e que hoje inspira a famosa série da Netflix “Beauty Queen of Jerusalem”. Também Dror Or detinha as nacionalidades israelita, portuguesa e argentina.

Não se estranha a nacionalidade argentina, repetida 3 vezes em apenas 6 portugueses. No total, os reféns tomados pelo Hamas contavam com 24 nacionalidades diferentes. O facto é revelador da história do povo judeu. Também não se estranha o número de nacionais portugueses. Há cinco séculos, viviam no mundo 1 milhão de judeus, 200 mil dos quais em Portugal, conforme o livro das genealogias de Zacuto. Os casamentos por vinte gerações contam o resto da história. Na década de 1970, o estudioso da diáspora sefardita Edmond Malka escreveu no seu livro “Fiéis portugueses” que “existem cerca de dois milhões de judeus de origem luso-espanhola, a maioria em Israel.” Assim é. Só 1 milhão é de origem marroquina, hoje 10% da população israelita.

A comunidade judaica é uma comunidade mundial. O norte-americano Haim Solomon, que com George Washington criou os Estados Unidos, era um polaco de origem portuguesa que falava ladino. O asiático Eli Kadoorie casou com Laura Matos Mocatta da congregação portuguesa e espanhola de Londres e deu aos seus descendentes a origem portuguesa. O euroasiático Roman Abramovich nasceu de uma família povoada de nomes como Abel, Rosa, Leiva, Leja ou Rocha e que integrou comunidades dirigidas por descendentes do rabino de Lisboa, Yosef Karo (os Katzelenbogen). O africano Jacob Bensabat, que chegou ao Porto no século XIX, donde a família partira há séculos, era o único poliglota da cidade e, embora falasse preferencialmente árabe tunisino e haketia (uma variação do ladino), integrou o ensino público como destacado professor de inglês, francês, italiano e português. E enfim, a Chabad Lubavitch, a mais forte organização judaica mundial, nascida nos Urais, foi fundada pelo neto do rabino Baruch Portugali e hoje tem sede nos EUA.

Ao longo de dois mandatos a dirigir a grande Nação do outro lado do Atlântico, Donald Trump tem contribuído para um mundo melhor, com acções, iniciativas concretas, rompimentos com o status quo paralisante, acordos assinados, progressos reais e defesa dos direitos humanos judaicos, quantas vezes sufocados por realidades tão diversas como o anti-judaísmo, anti-tradição judaica, anti-sucesso judaico e anti-israelismo. As manifestações contra judeus, e sobretudo judeus israelitas, ou contra os seus bens e instituições, bem como contra o estado judaico, têm sido identificadas, repudiadas e combatidas pelo Presidente, que não aceita o clima de medo ou o ambiente hostil a que têm sido sujeitas as comunidades judaicas, e muito menos as percepções negativas, milenares e irracionais contra os judeus enquanto povo individualizado.

Dois anos depois do genocídio em Israel (assassinato e rapto premeditados do maior número possível de judeus de todas as idades), meia centena de reféns estão de regresso a suas casas. Só o povo judeu pode entender o real alcance deste desenvolvimento, porque somente esta grande família de famílias sempre experimentou tragédias similares, em todos os locais, e até em Portugal, mormente no genocídio de Lisboa e, 13 anos antes, no rapto das 2000 crianças que foram povoar São Tomé.

Por terras de Sua Majestade Dom Afonso Henriques, as prioridades para salvar a nação parecem ser duas: terminar com o direito à nacionalidade dos judeus de origem sefardita e reconhecer o Estado do Hamas. Há mais de cinco anos que Portugal está embrulhado numa “questão palestina” de cunho anti-israelita e tanta conversa manhosa começa realmente a fartar. Já houve tentativas de envenenamento de judeus israelitas, listas de empresários judeus expostas nos jornais, uma sinagoga grafitada com inscrições de Apartheid, sabotagem do automóvel de um jovem líder judeu que se dirigiu oficialmente ao parlamento, e até assaltos nocturnos encetados por profissionais à ex-presidente do SIRESP e a uma advogada da comunidade, eventos estes que foram inutilmente comunicados à provedora de justiça, antes de se tornar ministra e depois de ter assento no tribunal constitucional. Afinal, que garantias oferece o sistema político português para o escrutínio da moral pública? Pode alguém garantir a protecção da comunidade judaica se o Estado de Israel não existir?

observador

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