Por que o Sul perdeu o posto de coadjuvante para o Nordeste no ranking de consumo

A pesquisa IPC Maps 2025 aponta que o Nordeste passou a disputar com o Sul do país a vice-liderança nacional entre as regiões que mais consomem no Brasil. O potencial de consumo é um dos principais indicadores econômicos que sinalizam para o aquecimento do comércio e da indústria. Por outro lado, também pode confirmar períodos de recessão e estagnação no apetite dos consumidores.
Seja entre as regiões ou no ranking das capitais, o Sudeste segue como o protagonista da economia brasileira com share de consumo de 48,1, conforme o indicadores do IPC que mede o potencial de diferentes setores da indústria, comercial e serviços. A expectativa é de movimentação de quase R$ 4 trilhões na região, impulsionada pelo eixo Rio-São Paulo.
O Nordeste tem um share de 18,59, praticamente empatado com a região Sul com 18,50 - no entanto, a economia nordestina registrou o maior crescimento no potencial de consumo em relação ao período anterior. O aumento foi de 2,9%, enquanto o indicador diminuiu 0,3% no Sul e 0,8% no Sudeste.
Assim, Nordeste e Sul têm projeções de consumo de aproximadamente R$ 1,5 trilhão em cada região durante este ano. A Região Norte também subiu 1,9%, mas segue com o menor potencial de consumo do país, com 5,9 de share. Já o Centro-Oeste encolheu 2,2% com um share de consumo de 8,8.
Entre as capitais, São Paulo lidera com R$ 605 bilhões em consumo, de acordo com a projeção da IPC Maps. O valor fica acima da expectativa de toda a Região Norte, que deve consumir R$ 486 bilhões nos diferentes setores pesquisados.
O Rio de Janeiro é o segundo do ranking, com estimativa de R$ 323 bilhões. As capitais Brasília, Belo Horizonte, Curitiba e Salvador completam a lista das maiores cidades do país em consumo, acima de R$ 100 bilhões. Entre elas, o Distrito Federal tem o maior potencial com os gastos dos consumidores, calculados em quase R$ 155 bilhões até o final deste ano.
Turismo no Nordeste e enchentes no Sul: o que explica a troca de posição no ranking de consumoNa avaliação do coordenador da pesquisa IPC Maps, Marcos Pazzini, a Região Sul perdeu o posto de coadjuvante para o Nordeste em 2025 pela conjuntura econômica, agravada pela enchente histórica no Rio Grande do Sul, em maio do ano passado. O setor produtivo gaúcho ainda se recupera dos estragos provocados pelas cheias em Porto Alegre e em outras regiões do estado.
A alta do dólar também beneficiou o Nordeste por causa do setor do turismo, uma das principais alavancas da economia regional. O litoral nordestino é considerado um dos destinos mais frequentados pelos turistas brasileiros e estrangeiros. “Nos últimos anos, a região Sul foi o segundo maior mercado consumidor do país, mas perdeu essa posição por causa do que aconteceu no Rio Grande do Sul. Além disso, teve a volta do turismo nacional e internacional na região Nordeste, o que fez com que essa região crescesse acima da média e voltasse ocupar a segunda posição”, explica Pazzini.
Segundo o coordenador da análise, a IPC Maps apresenta um retrato anual do consumo brasileiro há 20 anos, com predominância do Sudeste e Sul na primeira década do levantamento. Ele lembra que o Nordeste assumiu o posto de segunda maior região consumidora no Brasil a partir do segundo mandato do presidente Lula (PT), pela política de benefícios sociais na economia.
“Em 2008, por conta do Bolsa Família, a ajuda assistencial que começou a ser paga em anos anteriores, o Nordeste passou a ocupar a segunda posição porque possui uma população muito maior do que a região Sul”, analisa. O posto de principal coadjuvante foi mantido pelo Nordeste até a pandemia da Covid-19.
Após a crise global, a estrutura econômica do Sul do país conseguiu responder ao consumo de maneira mais efetiva. “Neste ano, o Nordeste retoma o segundo lugar pelo turismo porque a nossa moeda está muito desvalorizada em relação ao dólar e ao euro”, comenta.
Sul tem maior participação do interior e da classe média no consumoPazzini ressalta que o consumo das famílias brasileiras cresceu 4,8% no ano passado, acima do Produto Interno Bruto (PIB), que registrou um aumento de 3,2% em relação a 2023. “Ou seja, o que está impulsionando o crescimento da economia é o consumo, que depende de três fatores: renda, emprego e empresas na região, que demandam mão de obra e fazem o consumo girar”, analisa.
Ele destaca a maior participação da classe média e das cidades do interior no consumo da região Sul no comparativo com o Nordeste, marcado pela distância entre as classes sociais. “Existe uma forte diferença na concentração do consumo nas regiões metropolitanas das capitais nordestinas versus o interior, que é muito pobre. Outra distinção em relação ao Sul e ao Sudeste é a participação da classe média, muito pequena no Nordeste - não existe uma classe média tão consolidada como no Sul e no Sudeste”, compara.
De acordo com o coordenador da pesquisa, as capitais são os principais centros de consumo dos estados brasileiros, mas o Sul possui um interior com potencial de consumo e autonomia das regiões metropolitanas. Pazzini cita o exemplo do Paraná, onde Curitiba é a principal referência econômica, mas grandes cidades do interior - como Londrina, Maringá e Ponta Grossa - contribuem com a descentralização do consumo no estado, que é a quarta economia do país.
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