Selecione o idioma

Portuguese

Down Icon

Selecione o país

Spain

Down Icon

'O Tribunal já estabeleceu que há um déficit no UPC; só faltava calcular quanto, por isso fomos ao Ministério Público.'

'O Tribunal já estabeleceu que há um déficit no UPC; só faltava calcular quanto, por isso fomos ao Ministério Público.'
A crise financeira do sistema de saúde não pode esperar e, para resolvê-la, é essencial calcular o déficit atual na Unidade de Pagamento por Capitação (UPC), que é o valor que cada EPS recebe por membro. De acordo com vários relatórios técnicos e governamentais, esse déficit é insuficiente para cobrir os gastos reais com saúde. Na Colômbia, para cada US$ 100 pesos recebidos da UPC em 2024, US$ 109,5 foram gastos.
No entanto, as reuniões técnicas ordenadas pelo Tribunal Constitucional para atualizar o UPC de 2024 e revisar os de anos anteriores não atingiram seu objetivo, de acordo com o mesmo tribunal superior, que em uma decisão recente deixou claro que as reuniões coordenadas pelo Ministério da Saúde careciam de uma metodologia adequada. Em sua decisão mais recente, o Tribunal determinou que as eleições devem ser realizadas novamente, reconheceu que há déficit no UPC e indicou que cabe ao Ministério calcular a magnitude dessa diferença.
Buscando garantir o cumprimento da determinação do STF, o sindicato EPS, a Acemi, entidades de pacientes, associações de usuários e outras entidades do setor encaminharam, na última sexta-feira, requerimento à Procuradoria-Geral da República para que auxilie nas novas mesas-redondas que o Ministério da Saúde deverá convocar. Como explicou Ana María Vesga, presidente da Acemi, em entrevista ao EL TIEMPO, a proposta, baseada em dez pilares, estabelece uma nova abordagem metodológica que garante acordos genuínos baseados em dados e análises técnicas.

A proposta foi apresentada ao procurador-geral, Gregorio Eljach. Foto: Procuradoria-Geral da República / Acemi

De onde surgiu a ideia de pedir à Procuradoria-Geral da República que monitore novas discussões sobre o UPC?
Primeiro, é importante observar que na Decisão 007 do Tribunal Constitucional, que determina a formação desses painéis para a revisão do UPC, o Tribunal instrui o Ministério a convidar o Ministério do Procurador-Geral a participar do painel. A Procuradoria-Geral da República esteve presente no primeiro exercício, mas não permitiu uma discussão técnica real. A participação deles se deu por meio do Ministério da Saúde, que, como vimos, não facilitou um exercício de construção de consenso que reconhecesse o subfinanciamento do sistema. O que estamos pedindo agora é que o Ministério Público assuma um papel ativo, propondo e liderando para garantir que o comitê seja administrado de forma diferente.
Por que as mesas redondas técnicas anteriores lideradas pelo Ministério da Saúde fracassaram?
O primeiro motivo foi a composição do painel: não havia atores suficientes. Representantes de sindicatos, acadêmicos ou médicos não estavam presentes. Se houver uma discussão substancial sobre o financiamento do sistema — a decisão mais importante para lidar com esta crise — todos devem estar representados. A segunda razão é que há duas posições: o Ministério sustenta que o UPC é suficiente, enquanto as seguradoras e os pacientes, apoiados pelo Tribunal, acreditam que há um déficit. É necessária uma metodologia que permita reunir argumentos técnicos de ambos os lados e buscar consenso. No entanto, o Ministério usou uma metodologia chamada Philips 66, que organizou a discussão em subgrupos onde as seguradoras se sentavam com as seguradoras, os provedores com os provedores e os pacientes separadamente... e o Ministério, que era tanto juiz quanto júri, orientou o exercício. Além disso, houve vieses na formulação das perguntas e na análise, e nenhuma apresentação técnica real foi permitida pelo EPS.

Ana María Vesga, presidente da Acemi. Foto: Acemi

Que metodologia você propõe para fazer essas novas tabelas funcionarem?
Existem muitas metodologias de resolução de conflitos. Não queremos impor uma, mas sim partir do reconhecimento de que existem duas posições antagônicas. Isso requer estabelecer uma mesa equilibrada e calma, como em qualquer negociação complexa. Em mesas redondas anteriores, por exemplo, houve um desequilíbrio: dois representantes de seguradoras contra doze ou treze de provedores. Nem era permitido fazer uma apresentação adequada — não havia nem mesmo recursos audiovisuais. Estamos solicitando um painel em que cada sessão aborde uma questão específica, onde suporte técnico prévio seja fornecido, onde argumentos sejam apresentados e onde tudo isso seja submetido a um painel técnico independente para avaliação. Não estamos pedindo que o Ministério perca sua autoridade legal para definir o UPC, mas queremos aceitar que existe um conflito técnico e que ele deve ser resolvido com o apoio de terceiros imparciais.

Ministro da Saúde, Guillermo Alfonso Jaramillo, na instalação dos grupos de trabalho da UPC. Foto: Mauricio Moreno

Um dos pontos críticos tem sido a falta de contraste entre os dados fornecidos pelo EPS e pelo IPS. Como essa integração de informações pode ser alcançada?
Os IPSs já enviam informações por meio do RIPS, que, embora não seja perfeito, é obrigatório. Assim como os EPSs são obrigados a fornecer informações detalhadas desde 2019 — o que representa um esforço enorme, considerando que, por exemplo, a Nueva EPS recebe quatro milhões de faturas por mês — os IPSs também podem ser obrigados a enviar suas faturas. Com essas informações, uma amostra representativa pode ser cruzada e gerada, como é feito em qualquer estimativa estatística. O problema é que hoje há um discurso oficial que insiste que os EPSs fornecem informações inadequadas, mas o mesmo rigor não é exigido dos IPSs. Se padronizarmos as informações, poderemos comparar qual EPS relatou qual despesa, qual IPS faturou tal despesa e descobrir onde estão as inconsistências. Isso também permitiria uma compreensão mais precisa de quanto o sistema custa ao país e qual é a dívida real entre os atores. Atualmente, há grandes discrepâncias entre os números processados ​​pelos hospitais e pelas autoridades de saúde pública, e isso não deveria acontecer.
E quanto aos EPS intervencionados, como o Nueva EPS, que não estão reportando informações?
Essa é uma das maiores lacunas. A Nueva EPS, que tem 12 milhões de membros — 25% do sistema — não forneceu informações financeiras para 2023 ou 2024. Um representante estava presente durante as reuniões, mas não forneceu informações consolidadas. É paradoxal que o mesmo governo que reclama da qualidade das informações da EPS não exija que seus próprios auditores entreguem dados dos entes sob seu controle. Hoje, 60% da população está filiada ao EPS intervencionado. Se essas informações não estiverem disponíveis, a análise estará incompleta. Uma alternativa é usar informações de provedores que trabalham com esses EPSs para reconstruir os gastos, mas o ideal é que o governo assuma sua responsabilidade e garanta a entrega dos dados.

A Nueva EPS não divulgou dados durante as reuniões técnicas. É o maior EPS do país. Foto: Luis Lizarazo García. Arquivo EL TIEMPO

Outro ponto importante que eles levantam é a necessidade de uma agenda sistemática. O que isso significa na prática?
Isso significa que cada sessão deve abordar uma questão específica — frequências, gravidades, taxas de acidentes — e não prosseguir sem ter abordado as anteriores. Nas mesas redondas anteriores, por exemplo, o Ministério apresentou o estudo de suficiência que todos nós já conhecíamos. Não houve oportunidade de apresentar nossos próprios números ou comparar o que o Ministério disse com o que vimos nos dados. No final de cada sessão, um facilitador deve resumir: "Estes são os números do Ministério, estes são os números do EPS, há diferenças aqui, há acordos aqui", e isso é repassado ao painel técnico para análise. Mas hoje não sabemos o que o Ministério arrecadou ou como irá processar isso.
O Tribunal ordenou o cálculo do UPC ajustado para 2024. Você acha que isso será alcançado agora?
Na última reunião isso nunca foi resolvido. O Ministério não aceita que haja déficit. Desde o início das discussões da mesa redonda, eles alegaram que eram os únicos competentes para definir o UPC e que já o haviam calculado. Portanto, eles simplesmente explicaram o que tinham feito, sem revisar os itens faltantes. O Tribunal, mesmo em sua decisão mais recente, ressalta que não está entendendo a questão. O Tribunal já constatou que existe um atraso; O que resta é calcular sua magnitude. Se o Ministério repetir o mesmo exercício, nada será alcançado. É por isso que fomos ao Ministério Público com esta proposta. Não sabemos se vai funcionar, mas temos que tentar. Este é o exercício mais importante no sistema de saúde neste momento.

Tribunal Constitucional Foto: Tribunal Constitucional.

Por fim, quanto tempo mais o sistema terá se essa crise de financiamento não for resolvida?
Não é como uma queda de energia que acontece de uma hora para outra. O sistema continua a funcionar, mas está se deteriorando a cada dia: leitos estão fechando, médicos estão parando de atender, há escassez, hospitais estão cortando serviços devido à falta de pagamento... Hoje, todos os EPSs — com poucas exceções — têm patrimônio líquido negativo. Os hospitais estão em crise. Isso não pode esperar mais. Não importa o que aconteça com a reforma sanitária, os decretos ou o referendo, sem financiamento não há sistema. E isso precisa ser resolvido agora. O déficit econômico afeta pacientes e provedores. O Tribunal estabeleceu um prazo: os comitês técnicos devem ser reativados até julho, e o novo UPC deve ser resolvido até setembro. Se feito corretamente, ainda podemos corrigir o curso.
O que pacientes, sindicatos e a Acemi esperam da atuação do Ministério Público nesse processo?
O Ministério Público demonstrou interesse genuíno e nos convidou para sessões de acompanhamento. O que pedimos é que você proponha um novo método para conduzir a discussão e garantir que o mandato do Tribunal seja cumprido. Este não é apenas um debate técnico; É a única maneira de salvar o sistema de saúde colombiano.
Jornalista de Meio Ambiente e Saúde
eltiempo

eltiempo

Notícias semelhantes

Todas as notícias
Animated ArrowAnimated ArrowAnimated Arrow