Por que a Espanha quer que o catalão, o basco e o galego sejam línguas da UE

A Espanha retomou a iniciativa para que o basco, o catalão e o galego se tornem línguas oficiais da UE, apesar da resposta pouco entusiasmada de outros países europeus, que temem um efeito dominó.
Após uma tentativa frustrada em 2023, Madri trouxe sua campanha de idioma regional de volta a Bruxelas esta semana, conseguindo colocá-la na pauta de uma reunião de ministros europeus na terça-feira.
Nenhuma decisão foi tomada — e a questão foi adiada para uma data posterior por falta de consenso, de acordo com um diplomata da UE —, mas o constrangimento era palpável, já que os ministros evitavam falar sobre o assunto em comentários aos repórteres.
Para contextualizar, o governo socialista do primeiro-ministro Pedro Sánchez depende do apoio dos legisladores catalães para aprovar a maior parte de sua legislação no parlamento espanhol.
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A Espanha gerou "grande pressão" em torno da questão, disse um segundo diplomata, sob condição de anonimato.
Mas há muitas preocupações entre os outros 26 países da UE — com receios de que uma mudança a favor da Espanha possa abrir portas para pedidos de qualquer número de línguas minoritárias em todo o bloco.
"Entendemos a importância desta questão para a Espanha", enfatizou Marilena Raouna, vice-ministra de Assuntos Europeus do Chipre.
"O importante é que isso seja feito de uma forma juridicamente sólida e que não crie um precedente", acrescentou.
Atualmente, a União Europeia tem 24 línguas oficiais, mas há cerca de 60 línguas minoritárias e regionais no bloco de 27 nações.
Todos os documentos legais da UE — tratados, leis e acordos internacionais — devem ser traduzidos para os 24 idiomas, com interpretação disponível nas cúpulas de líderes e reuniões ministeriais.
A questão russa
Adicionar um novo idioma requer apoio unânime entre os estados-membros, o que está longe de ser garantido no caso do pedido em espanhol, embora vários países tenham demonstrado simpatia por Madri.
"Acredito que a diversidade linguística é importante e somos sempre construtivos", disse o ministro finlandês Joakim Strand antes de defender um adiamento, alegando que a questão ainda não estava "madura" para votação.
Alguns alertam contra "transformar uma questão nacional em uma questão europeia", nas palavras de um diplomata.
E vários países temem ser forçados, como efeito dominó, a conceder status oficial às línguas regionais usadas em seu território.
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Nos países bálticos, por exemplo, há temores de que o russo — falado por grande parte da população — possa se tornar a língua oficial do bloco, disse Marko Stucin, secretário de Estado da Eslovênia para assuntos europeus.
Segundo um diplomata, os serviços jurídicos do Conselho Europeu, que reúne os Estados-membros, alertam que responder ao pedido da Espanha exigiria mudar os tratados de fundação do bloco.
"Temos que agir em conformidade com os tratados europeus", disse o ministro francês para a Europa, Benjamin Haddad. "Vamos trabalhar em conjunto com os espanhóis para encontrar uma solução."
Mas outros países sugeriram um possível acordo no futuro: limitar qualquer mudança a idiomas regionais há muito estabelecidos que já tenham status oficial em nível nacional.
Nesse cenário, argumenta Stucin, da Eslovênia, apenas três idiomas seriam elegíveis: basco, catalão e galego.
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Madrid argumenta de fato que as três línguas — das quais o catalão é a mais usada, com mais de nove milhões de falantes — deveriam ser consideradas em uma categoria diferente das outras línguas minoritárias.
Outra questão delicada é o custo, com o bloco buscando investir bilhões no fortalecimento de suas defesas e se preparando para uma guerra comercial iminente com Washington.
A Espanha, de acordo com Stucin, sempre insistiu que pagaria a conta extra da tradução.
Isso ainda está para ser visto, adverte outro diplomata da UE.
"Nós realmente vemos e apreciamos os esforços que o governo espanhol está investindo neste tópico", resumiu a ministra croata, Andreja Metelko-Zgombic.
"Ele também lida com algumas implicações legais, e acho que seria melhor se o analisássemos com muita, muita atenção", acrescentou.
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